Desde as suas respectivas crises cambiais nos anos 90, Brasil e Argentina seguiram por caminhos diferentes. Graças ao Plano Real e a criação do Tripé Macroeconômico, hoje o Brasil se encontra numa posição mais confortável. Afinal, o modo como a Argentina tentou contornar sua inflação – imprimindo mais dinheiro – não é permitido mais aqui.
Entretanto, desde 2004 o Brasil não está mais conseguindo controlar a desvalorização do Real perante o dólar. Todavia, ainda não estamos tão próximos de nossos hermanos. Mas podemos?
Durante esse período, nossa taxa de câmbio variou de R$ 1,80 para R$ 4,00, em janeiro de 2016. Porém, nesse ano o dólar já chegou a bater R$ 5,90, cotando atualmente R$ 5,58. E aí surge a dúvida: o que está realmente acontecendo?
Um dos principais motivos que podemos observar é o chamo carry trade. O termo técnico nomeia uma situação comum: se um investidor estrangeiro capta dinheiro lá fora, a juros de 1% ao ano, para investir no Brasil, ele espera receber 1% + um prêmio que compense o risco do país.
Entretanto, nossas taxas de juros estão próximas a zero já que estão parelhas à inflação. Assim sendo, mesmo que esse investidor captasse a custo zero, ainda não ganharia o suficiente para compensar o risco.
Só neste ano, cerca de R$ 90 bilhões saíram do Brasil por meio de investidores estrangeiros, o que eleva o dólar. Na Argentina a situação é mais dramática ainda. Se reclamamos do dólar a R$ 5,58, imagina a Argentina pagando AR$ 145, graças a inflação galopante.
Dessa forma, com juros tão baixos e próximos à inflação, o melhor caminho para o Brasil atrair capital estrangeiro é elevar a Selic. Todavia, o Brasil enfrente ainda um outro problema – super relevante. Nossa dívida já se encontra próxima a 100% do PIB, devido aos auxílios dados a famílias durante a pandemia.
Portanto, sem cuidarmos de reformas que organizem as contas públicas, caminharemos pra um caminho ainda mais difícil. Hoje, o que nos dá mais segurança é o teto de gasto, que foi defendido por Paulo Guedes.
Por fim, basta olharmos não muito atrás em nosso passado e não muito longe no mapa sul-americano para sabermos exatamente o que não fazer.
Texto escrito por Diogo Albuquerque, graduando em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e redator do Guia do Investidor.