O governo planeja a abertura de capital em bolsa do banco digital criado após a digitalização de milhões de contas em meio à concessão do auxílio emergencial, indicou nesta terça-feira o ministro da Economia, Paulo Guedes.
A oferta pública inicial de ações (IPO) envolverá o Caixa Tem, aplicativo para movimentação de benefícios da Caixa Econômica Federal que foi criado na esteira da crise, disse à Reuters uma fonte com conhecimento direto do assunto.
Autoridades do governo já têm tratado da operação com o Banco Central, acrescentou a mesma fonte.
No mês passado, a Caixa já havia divulgado que pretendia expandir as operações do Caixa Tem, para incluir funcionalidades como a oferta de microcrédito, seguros e cartões.
O auxílio emergencial, principal investida do governo para enfrentamento à pandemia do coronavírus, tem sido pago exclusivamente pela Caixa desde abril. Com duração até dezembro, ele implicará um gasto total para a União de 321,8 bilhões de reais.
“Nós digitalizamos 64 milhões de pessoas. O quanto vale um banco com 64 milhões de pessoas? Pessoas de baixa renda, mas pessoas que foram bancarizadas pela primeiríssima vez, então elas vão ser leais pelos restos de suas vidas”, disse Guedes na Milken Institute Global Conference.
“Estamos planejando um IPO desse banco digital que nós produzimos em menos de seis meses”, completou o ministro, sem esclarecer se ele se referia à Caixa ou apenas a uma unidade do banco estatal.
Com o uso do aplicativo Caixa Tem, os usuários podem movimentar valores e realizar compras em estabelecimentos comerciais por meio de um cartão de débito virtual e QR Code. Também é possível pagar contas de água, luz, telefone, gás e boletos na plataforma.
FOCO EM ATRAIR INVESTIDORES
Guedes defendeu nesta terça-feira que esta é uma boa hora para vir para o Brasil, após ressaltar que não haverá abandono ao teto de gastos, que o governo segue engajado em sua agenda de modernização de marcos regulatórios e que irá criar um mecanismo de hedge cambial para investidores de longo prazo.
Dando sequência a participações recentes feitas em eventos para investidores, ele disse que o país está sendo mal interpretado quanto ao seu compromisso com o meio ambiente e com os indígenas.
“Eu não acho que serei despedido nos próximos meses, como o antigo ministro da Fazenda, e eu acho que é hora de vir para o Brasil”, afirmou.
“É o lugar certo para bom dinheiro, dinheiro para horizonte de longo prazo, investimento privado”, completou.
O ministro pontuou que este é o momento de o governo fazer ‘roadshows’ para atrair investidores estrangeiros, uma vez que o desafio é transformar a onda de consumo desencadeada pelas medidas implementadas na crise numa onda de investimentos.
Quanto aos riscos para o aporte de recursos no país, ele afirmou que o Ministério da Economia está trabalhando com o Banco Central num mecanismo para oferta de hedge cambial.
“Se setor privado fora quer pagar dinheiro extra para ter uma garantia … nós podemos dar a eles por um certo preço. Se eles quiserem isso, nós vamos prover”, disse Guedes.
“Eu acho que temos que ter um mecanismo especial porque é bem difícil para quem vem para cá investir 10 anos numa estação de água ou programa de ferrovias. Ele quer ganhar dólar mais 10%, dólar mais 12%, dólar mais 8%, e aí na última semana tem uma corrida maluca aqui por uma razão política ou outra e aí ele perde seu dinheiro”, complementou.
Ele apontou que outro risco importante para investidores estrangeiros sempre foi a regulação e afirmou que, por isso, o governo está modernizando os marcos regulatórios.
Guedes disse ainda que o Brasil deve entrar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em um ano, acrescentando que o país está agora atingindo dois terços dos requerimentos necessários para tanto.
O ministro também repetiu que o Produto Interno Bruto (PIB) deve cair 4% este ano ou “4 e pouco no máximo”, ante previsão oficial do Ministério da Economia de -4,7%.