O desalinhamento negativo da taxa de câmbio no Brasil voltou a aumentar no fim do terceiro trimestre e a ficar entre os maiores já vistos nos últimos anos, à medida que a moeda não reagiu à melhora de métricas de fundamentos de longo prazo, mostrou estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O desalinhamento médio da taxa real de câmbio no Brasil em setembro de 2020 ficou em -34,2% ou seja, o câmbio real estava naquele mês 34,2% mais fraco do que o sugerido por fundamentos. As estimativas dos modelos utilizados se situam num intervalo que vai de um desalinhamento de cerca de -25% a -43,6%, conforme o estudo.
Em agosto, o desalinhamento médio fora de -29,2%, pior que o de -19,8% de julho.
“A persistência do desalinhamento frente a uma melhora consistente dos fundamentos ao longo de 2020 nos leva a reiterar que a desvalorização do real tem sido ocasionada principalmente por fatores de risco relacionados tanto à pandemia quanto à situação fiscal”, disse Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da FGV (FGV EESP) e um dos autores do estudo, de divulgação trimestral.
Entre os fatores por trás da melhora dos fundamentos de longo prazo estão posição internacional de investimentos mais forte e superávits consecutivos nas transações correntes.
“Se a gente não tiver algo do lado fiscal, o câmbio vai continuar depreciando, vai puxar os preços (da economia para cima) e o BC vai ter de subir juros para segurar a inflação”, disse. “Está ficando cada vez mais difícil o BC evitar esse encontro com o juro mais à frente”, completou.
O estudo da FGV abarca os três primeiros trimestres de 2020 e, faltando três meses a serem avaliados, o desalinhamento médio cambial negativo em 2020 está em 24,3%, contra “gap” positivo de 4,6% em 2019.