O dólar fechou em leve queda contra o real nesta segunda-feira, recuperando terreno depois de ter despencado a quase 5,22 reais na mínima do dia em meio a um ambiente global de grande otimismo devido à vitória do democrata Joe Biden nas eleições norte-americanas e à notícia de avanço importante na vacina contra a Covid-19 da Pfizer.
O dólar registrou queda de 0,08%, a 5,3855 reais, depois de ter chegado a cair mais de 3% na mínima do pregão, a 5,2240 reais, seu menor patamar intradiário desde 16 de setembro.
O dia contou com volatilidade, e, na máxima do pregão, a moeda superou os 5,42 reais. O dólar futuro de maior liquidez, que é negociado até as 18h, subia 0,43%, a 5,3930 reais.
Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, disse que a divisa abandonou as mínimas da sessão porque “o mercado em euforia em relação (à vitória de) Biden acabou derrubando o dólar, e, no patamar próximo a 5,20 reais, acabaram por aparecer muitos compradores.”
Ele acrescentou que é natural que haja movimentos de ajuste diante de uma perda tão acentuada na divisa norte-americana, com os agentes do mercado “tentando procurar um meio termo e recompor algum exagero nessa queda”.
O comportamento do dólar no mercado interbancário brasileiro visto mais cedo, nas mínimas do dia, ficou em linha com uma busca mundial por risco depois que Biden superou no sábado o patamar de 270 votos no Colégio Eleitoral necessário para vencer a presidência.
Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, disse à Reuters que, diante de um cenário de clara vitória de Biden, há a possibilidade de aprovação mais rápida de novas medidas de auxílio emergencial, embora as chances de um Senado de maioria republicana possam representar um obstáculo à agenda da próxima administração norte-americana.
“Um cenário mais propenso a aumento de gastos geraria forte desvalorização do dólar por aumento de oferta da moeda nos Estados Unidos”, explicou.
Embora o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes apresentasse alta de quase 0,7%, a divisa norte-americana tinha amplas perdas contra algumas das principais moedas arriscadas, como peso mexicano, lira turca e rand sul-africano.
Também apontada por vários analistas como um fator de impulso para ambiente de otimismo, a Pfizer disse nesta segunda-feira que sua vacina experimental contra a Covid-19 mostrou ser 90% eficaz na prevenção da doença com base em dados iniciais de um estudo amplo.
No Brasil, a pauta fiscal continuava no radar dos investidores, em meio a temores de que o governo possa furar seu teto de gastos ao tentar conciliar um Orçamento apertado para o ano que vem ao financiamento de um novo programa de assistência social.
Otávio Aidar, estrategista-chefe e gestor de moedas da Infinity Asset, disse à Reuters que essa notícia também colaborou para uma recuperação no dólar nesta segunda-feira em relação às mínimas do dia.
“De novo as questões fiscais do Brasil voltaram a pesar, e o mercado quer mais clareza”, comentou, destacando que o arcabouço fiscal piorou muito depois da última crise mundial, fator que está chamando a atenção dos investidores em meio às consequências da pandemia de Covid-19.
Aidar também ressaltou depois das fortes perdas na moeda norte-americana na semana passada que “cada vez que há uma queda muito expressiva (no dólar), vemos movimento comprador”. Por mais que enxergue o câmbio de equilíbrio em patamar abaixo de 5 reais, “o fator técnico do mercado deixa difícil para o dólar cair.”
“O (apetite por risco no) mundo ajuda (na desvalorização do dólar), mas temos que nos ajudar também”, completou.