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Estratégias para o clima opõem EUA e Europa

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O governo Biden marcou o retorno dos EUA à liderança climática internacional na semana passada, com os ambiciosos planos de cortar pela metade as emissões dos gases do efeito estufa até 2030. Mas a iniciativa também fez ressurgir algumas velhas diferenças.

A meta climática coloca os EUA praticamente em pé de igualdade com a União Europeia (UE), que na semana passada selou os termos de uma lei europeia pela qual o bloco se compromete a reduzir as emissões em pelo menos 55% ao longo da década, contra os níveis de 1990. A meta dos EUA é baseada nos níveis de emissões de 2005.

Embora elogiada na Europa, a volta dos EUA ao combate às mudanças climáticas mascara a diferença de abordagem entre as duas potências sobre como vencer a corrida para a neutralidade nas emissões de carbono.

“Os americanos têm uma estratégia baseada no desenvolvimento de tecnologias”, disse ao “Financial Times” a ministra do Meio Ambiente da França, Barbara Pompili. “É muito bom desenvolver o hidrogênio, como estamos fazendo, e a captura de carbono. Mas acho que temos um ingrediente extra na França e na Europa. Estamos indo além porque também olhamos para o nosso meio de vida.”

Autoridades da UE também apontam para o que veem como falhas na estratégia dos EUA, que depende muito das novas tecnologias verdes e de inovações do setor privado e de investimentos para cortar radicalmente as emissões.

“Estou de fato otimista. Acredito em nossa engenhosidade”, disse na quinta-feira o enviado da Casa Branca para o clima, John Kerry, depois do primeiro dia da cúpula do clima liderada pelos EUA, que atraiu líderes de 40 países, como o presidente da China Xi Jinping, o presidente da Rússia Vladimir Putin e novas promessas do Japão, Canadá e Coreia do Sul.

Kerry disse acreditar que os EUA superarão sua meta para 2030 amparados em avanços tecnológicos ainda a serem desenvolvidos, em áreas como energia verde à base de hidrogênio, baterias e captura e estocagem de carbono. “Somos o país que foi à lua. Não sabíamos como chegaríamos lá quando o presidente Kennedy anunciou o objetivo, mas nós chegamos”, disse o ex-secretário de Estado.

Autoridades da UE admitem que os EUA podem mobilizar mais investimentos em tecnologias verdes, comparado aos 27 países da zona do euro, onde os gastos ainda são determinados nacionalmente.

Mas o “tecno-otimismo” dos EUA difere muito da abordagem multifacetada na UE, que combina uma mistura de poder regulador do bloco e investimentos em inovações energéticas, com um sistema avançado de precificação do carbono, para estimular nos consumidores as mudanças necessárias para reduzir as emissões.

A UE usou os anos Trump para se estabelecer como a maior superpotência climática do mundo. As leis climáticas de Bruxelas preveem a meta obrigatória de zerar emissões até 2050 — o que, se for alcançado, fará da UE o primeiro continente a alcançar esse marco.

Nos próximos meses, Bruxelas estabelecerá uma legislação verde para fazer o bloco se “ajustar aos 55%” até 2030. As leis abordarão tudo que vai de metas de emissões por automóveis a reformas de construções para adequação a energias renováveis, como parte do “European Green Deal” (Novo Acordo Verde Europeu), que vem sendo saudado como uma política industrial para revitalizar a economias após a pandemia.

Sandrine Dixson-Declève, presidente adjunta do centro de estudos Club of Rome, diz que a estratégia da UE para o clima é uma “abordagem de sistemas” que tenta englobar quase todos os setores da economia. “Os EUA sempre foram conduzidos pelo mercado — não só o governo Biden. Eles estão perdendo uma oportunidade ao não se concentrarem numa maior mudança da economia com o uso de alavancas tecnológicas”, diz ela.

A principal diferença entre as duas potências é a adoção pelos europeus da precificação do carbono através do Emissions Trading Scheme (ETS), pelo mercado, que se encontra no centro do plano de descarbonização da Europa.

O ETS foi estabelecido nos anos 2000 para incentivar os setores mais poluentes a mudar para energias mais limpas, forçando-os a comprar licenças para emissão de carbono para compensar suas emissões. O esquema de limitação e negociação passará por uma ampliação para incluir novos setores como marinha mercante, indústria automobilística, construção, forçando mais mudanças nos modelos de negócios da indústria europeia. Em antecipação, investidores levaram o preço do carbono e novos recordes na semana passada, de mais de 40 a tonelada.

Mas esse sistema baseado no mercado conseguiu pouco apoio de Washington, apesar de um plano menor de negócios com carbono ter sido adotado na Califórnia e, num grau mais limitado, em Estados como Nova York e Maryland.

“Se os americanos não têm um sistema de precificação do carbono, a única alternativa é um imposto sobre o carbono, e isso é suicídio político”, diz uma autoridade graduada da Comissão Europeia.

Reagindo às críticas dos EUA de que a Europa está presa demais às regras, autoridades da UE dizem que o ETS mostrou ser uma solução voltada ao mercado bem-sucedida, que evitou excessos e padrões rigorosos demais em áreas como a da eficiência energética. “Estamos perplexos com a resistência dos EUA a isso e achamos que eles não refletiram sobre a questão”, disse uma autoridade.

As tensões entre a UE e os EUA sobre a precificação do carbono poderão se agravar na área mais controvertida: o imposto de ajuste de fronteira sobre o carbono planejado por Bruxelas, criado para taxar importações de países que não tenham mecanismos equivalentes de precificação do carbono.

Kerry vem resistindo aos esforços da UE para que os EUA se juntem ao plano e alertou que ele deveria ser usado como “último recurso”. O plano da Comissão Europeia será anunciada em junho.

As posições climáticas divergentes deverão persistir, dados os cenários políticos diferentes nos EUA e na UE. Apesar das divisões entre os 27 Estados-membros da UE sobre a política energética, todos eles concordaram com a meta de zerar as emissões e com a necessidade de descarbonização.

Por outro lado, a política ambiental nos EUA corre o risco de ser pega no fogo-cruzado da polarização política, com apoio dos democratas e a resistência dos republicanos, afirma Dixson-Declève do Club of Rome.

Por Mehreen Khan, Leslie Hook, Victor Mallet e Katrina Manson, Financial Times

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