Você já deve ter ouvido a frase célebre: “quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado com certeza vai mais longe”. A autora é Clarice Lispector, conhecida por retratar com grande profundidade e muita delicadeza diversas questões relacionadas ao feminino. Se ela, ainda na época em que as mulheres sequer tinham direito a um CPF para poder abrir uma conta bancária, já acreditava no coletivo como uma forma de tornar o caminho mais leve e sem limites, imagina se visse hoje a mulher superando cada vez mais o patriarcado.
Entretanto, ainda falta muito. Foi só em 1988 que na Constituição brasileira houve uma luz de igualdade de gênero em lei, dita em uma única frase: “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Perceba que são apenas 45 letras, mas que mesmo após 33 anos ainda continuam sem ser entendidas – nem praticadas – em muitos ambientes. O erro não reside na interpretação das palavras, e sim na postura diante delas.
Ainda há discriminação e rejeição das mulheres em vários aspectos, ainda é preciso escrever livros inteiros para explicar aquela única frase que é constitucionalmente legal, ainda há muito a ser feito. Mas, como um legado, Clarice Lispector já ensinou que, juntas, se vai mais longe, por isso o movimento “Nós, Mulheres Investidoras” (NMI) chega com a força de um grupo unido para fazer valer os direitos das mulheres em mais um ambiente majoritariamente dominado por homens, o financeiro, e levar isso a outro patamar, o da independência financeira.
Nós conversamos com Giselle Mendes:
Foto: Pedro Moleiro/Divulgação/Easynvest.
Ela é fundadora do movimento e nos conta um pouco mais sobre como o grupo tem ido mais longe quando o assunto é Elas e Dinheiro. Acompanhe.
O que é e como surgiu o movimento “Nós, mulheres investidoras” (NMI)?
É um grupo que une o interesse em lidar melhor com o dinheiro e a busca por maior independência financeira. Tudo é feito por meio de uma plataforma de conteúdos multimídia sobre educação financeira focada em mulheres de diferentes perfis, idades, condição socioeconômica etc.
Começou em 2017, a partir de uma campanha que divulgaria um aplicativo da Easynvest (corretora). Precisávamos fazer um plano de divulgação e comecei a trabalhar com influenciadores de áreas diversas, fora do nicho de economia, para falarem de educação financeira ou finanças pessoais. Fizemos muitos testes com influenciadores, algumas mulheres, e quando colocamos os conteúdos delas no ar tivemos uma virada no fluxo de novos entrantes. O ingresso de novas mulheres investidoras partiu de uma base de 25% para um pico de 43%! Então, começamos a perceber que a aderência feminina, impulsionada pelos conteúdos, justificava um projeto específico. Desse potencial, refletido em números, nasceu o “Nós, mulheres investidoras”.
Tivemos muitos aprendizados ao longo de quatro anos. Quando falamos em mulheres, consideramos diversas jornadas: em relação a ela mesma, à família, aos filhos e à vida profissional. Aprendemos sobre a complexidade de como conversar com essas mulheres, que são diversas.
Em meio a tantos conteúdos sobre finanças para mulheres, quais os principais diferenciais do NMI?
A proximidade e a conexão que buscamos ter com elas, para trabalhar da forma mais direta e pessoal possível. Procuramos sempre criar um espaço seguro e empático, de troca e escuta, para que todas se sintam muito à vontade e engajadas em ter uma relação mais saudável com o dinheiro. Há questões físicas e emocionais nessa dinâmica, muitas vezes condicionadas por parceiros. Consideramos tudo isso em nossas abordagens para que o conceito de autonomia financeira seja verdadeiramente aplicado.
Este já é o quarto ano do projeto. O que mudou, em termos de novidades, do surgimento até o estágio atual?
Saímos, aos poucos, do guarda-chuva da marca Easynvest para uma marca independente, a partir de canais próprios. Em paralelo, a porcentagem de mulheres investidoras subiu mais de 10 pontos percentuais – de 25%, em 2017, para atuais 37%. Por fim, mudou muito a visão interna sobre o projeto, passamos a acreditar e apostar cada vez mais no movimento.
A Easynvest foi a primeira corretora a criar um home broker e aplicativo de renda fixa no Brasil. Agora, entra também com esse movimento para mulheres. Quais os primeiros impactos de novas mudanças? Existe ceticismo antes de haver apoio?
Em empresas, no geral, qualquer ideia nova tende a ter algum tipo de resistência. Não foi diferente com o NMI. Então, quanto mais fundamentamos com números, cases e projeções de cenários futuros, melhor foi. No início, o trabalho com influenciadores era novidade, sobretudo para companhias financeiras, mas oito meses depois da campanha do aplicativo deu tudo certo. Conseguimos mostrar o potencial no crescimento do número de novas clientes e hoje temos “110%” de apoio!
Sabemos que as mulheres ainda ganham menos do que os homens, portanto falar de educação financeira para elas pode ser considerado algo precipitado – ou seja, primeiro seria preciso extinguir essa diferença salarial – ou não? Como veem isso?
Não acredito que seja precipitado. Temos que discutir como a mulher lida com o dinheiro, ainda que ela ganhe menos. A desigualdade salarial, fomentada pela desvalorização da mão de obra feminina, é histórica. E o NMI é mais um movimento para que elas consigam visualizar e ter recursos para mudar esse cenário. Temos conteúdos que tratam, por exemplo, de como pedir aumento. Precisamos falar sobre dinheiro. Não pode ser um tabu. É uma questão fundamental para a equidade de gênero e social.
Dizem que mulheres sabem menos do que os homens sobre finanças. Como o movimento quebra essa ideia?
Existe um histórico social e cultural, no mundo todo, sobre o papel da mulher. Elas geralmente são direcionadas às tarefas e ao cuidado doméstico, da família, enquanto os homens são mais estimulados a serem os provedores, inclusive de renda. Esses estereótipos são limitantes e ainda transmitidos de geração em geração. Segundo esse padrão, datado e caducado, o homem era a figura que tinha o controle do dinheiro, saía para trabalhar e cuidava dos bens da casa. O NMI vem para despertar as mulheres das possibilidades que elas podem explorar na relação com as finanças e os investimentos.
Para que elas também queiram isso, entendemos que seja importante apresentar o mundo financeiro representativo, que gere empatia. Não estamos aqui para criar ainda mais regras no mundo feminino. Queremos gerar reconhecimento e interesse. Nosso propósito é entender o que as mulheres buscam e oferecer a melhor experiência de investimento.
O movimento é todo destinado somente para mulheres?
O movimento é para despertar as mulheres, que sofrem desigualdades históricas e culturais em várias frentes. Queremos exercitar um novo olhar, para que elas tenham controle de suas vidas, que inclui o controle e a autonomia financeira. Além disso, ainda que não seja o foco, homens também podem aprender com os nossos conteúdos, tanto que 10% da base de seguidores do nosso perfil no Instagram é masculina.
Existe alguma ação para incentivar os próprios investidores da Easynvest a levar esposa, namorada, mãe, irmã para o mercado financeiro?
Buscamos ter uma comunicação direta com elas: de mulher para mulher. Não buscamos uma fala intermediada por homens. Falamos com nossas clientes, via e-mail e redes sociais, e para quem encontra o NMI no Google. Acontece tudo de maneira orgânica, inclusive alguns homens repassam os conteúdos para mulheres, seja para a esposa, namorada, mãe, amiga ou irmã. Mas isso acontece naturalmente.
Como ocorre a integração dos produtos da Easynvest com o movimento?
Temos uma lista de ações recomendadas com 15 empresas de maior capitalização com mais mulheres em conselhos de administração. Essa relação é produzida em parceria com a Teva Índices, especializada nesse tipo de levantamento.
=> Veja o último levantamento feito pela Teva Índices.
Em que essas Mulheres Investidoras investem? Como é o estilo de investimentos delas?
Considerando a base do perfil de clientes da Easynvest, as mulheres são 39,29% moderadas, 25,69% conservadoras e 18,80% experientes ou arrojadas – 16,22% não responderam à pergunta no momento do cadastro. Já o top 5 de produtos mais investidos por elas em nossa plataforma são: CDBs, ações, fundos de investimentos imobiliários (FIIs), BDRs (títulos de empresas estrangeiras) e Tesouro Direto.
Pode nos contar curiosidades dos bastidores do movimento?
Começamos a ter um interesse e engajamento de candidatas que conhecem o projeto nas redes sociais, sobretudo no LinkedIN. Nos processos seletivos, algumas mulheres já citaram o movimento como um dos motivadores para trabalharem na Easynvest. Isso é muito gratificante!
Novidades neste quarto ano de aniversário?
Teremos o lançamento do site que marcará o quarto ano do movimento. É um projeto essencial, pois ele vai reforçar a independência do NMI em um canal proprietário. Vamos seguir trabalhando conteúdos em séries, de maneira explicativa e dinâmica, e continuaremos o diálogo com a B3 para uma possível continuidade do NMI na Bolsa, com conteúdos focados em renda variável.
Gostou de saber um pouco sobre esse movimento de mulheres rumo à independência financeira e que pode chegar até na B3? Comenta aqui embaixo e aproveite para compartilhar o conteúdo com a esposa, namorada, irmã, amiga…
Aproveite também para conhecer ainda mais sobre o “Nós, mulheres investidoras”, por meio do Site, Instagram e da plataforma Podcast do NMI!
Foto de abertura desta matéria: Fernanda Angelo/Easynvest.