Vários membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sugeriram iniciar as discussões sobre a retirada gradual da acomodação caso a economia dos Estados Unidos avance em direção às metas de pleno emprego e estabilidade de preços, mostrou a ata da reunião de política monetária realizada em 27 e 28 de abril.
“Vários participantes sugeriram que, se a economia continuasse a progredir rapidamente em direção às metas do Comitê, poderia ser apropriado em algum momento das próximas reuniões começar a discutir um plano para ajustar o ritmo de compras de ativos”, diz a ata.
Desde março do ano passado, o Fed tem usado a compra de ativos como uma ferramenta adicional para ajudar a economia norte-americana a atravessar a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus junto com uma taxa de juros na faixa entre zero e 0,25% ao ano. Atualmente, a autoridade monetária adquire US$ 120 bilhões ao mês em títulos do Tesouro e lastreados em hipotecas.
Muitos membros do Fed, incluindo o presidente Jerome Powell, vêm indicando que a retirada dessa acomodação extraordinária começará pela redução gradual das compras desses ativos – processo conhecido como tapering. Para isso, no entanto, o banco central norte-americano deseja ver progressos substanciais na direção de seu mandato duplo – que deve levar um tempo para acontecer. A ata de hoje, mais uma vez, confirmou esse entendimento.
“Em sua discussão sobre as compras de ativos do Federal Reserve, vários participantes observaram que provavelmente levaria algum tempo até que a economia tivesse feito progressos substanciais em direção às metas de emprego máximo e estabilidade de preços do Comitê em relação às condições prevalecentes em dezembro de 2020, quando o Comitê primeiro forneceu sua orientação para compras de ativos. Consistente com a orientação baseada em resultados do Comitê, as compras continuariam pelo menos no ritmo atual até aquele momento”, diz a ata.
Há uma expectativa nos mercados de que o Fed será forçado a apertar a política monetária via aumento da taxa de juros antes do previsto para conter uma aceleração da inflação. Em abril, a inflação medida pelo índice de preços ao consumidor subiu 4,2% em base anual, muito acima das projeções dos economistas.
O banco central norte-americano, no entanto, diz que essa aceleração da inflação era esperada com o processo de reabertura econômica em curso graças ao processo avançado de vacinação contra a covid-19. O entendimento, neste caso, é de que esse aumento de preços será transitório. Mais uma vez, a ata de hoje reforçou essa visão.
“Os participantes também observaram que o aumento esperado na demanda à medida que a economia reabre ainda mais, junto com alguns gargalos transitórios na cadeia de abastecimento, contribuiria para que a inflação dos preços do PCE ficasse temporariamente um pouco acima de 2%. Após o desaparecimento dos efeitos transitórios desses fatores, os participantes geralmente esperam que a inflação desacelere”, diz a ata.
O PCE é a sigla para o índice de preços para os gastos pessoais, a medida preferida do Fed para a inflação. Em março, o PCE subiu 0,5% na comparação mensal, depois de registrar alta de 0,2% em fevereiro. Na comparação anual, o índice subiu 2,3% em março, após uma alta de 1,5% em fevereiro.
“Vários participantes comentaram que os gargalos da cadeia de suprimentos e a escassez de insumos podem não ser resolvidos rapidamente e, se assim for, esses fatores podem pressionar os preços para cima além deste ano”, diz a ata.
“Apesar das flutuações esperadas de curto prazo na inflação, muitos participantes comentaram que várias medidas das expectativas de inflação de longo prazo permaneceram bem ancoradas em níveis amplamente consistentes com o cumprimento das metas de longo prazo do Comitê”, acrescenta.
O documento mostra ainda que alguns participantes mencionaram riscos de alta em torno da perspectiva de inflação que poderiam surgir se os fatores temporários que influenciam a taxa se tornassem mais persistentes do que o esperado.
MERCADO DE TRABALHO
O mercado de trabalho norte-americano esteve sob os holofotes recentemente por conta do relatório de emprego, o chamado payroll, de abril, que mostrou que a economia dos Estados Unidos não está conseguindo manter um ritmo forte como o esperado na criação de vagas.
Após um dado sólido em março, quando foram abertas quase 1 milhão de vagas, os números do mês passado acederam uma luz de alerta sobre uma recuperação desigual. Em abril, a economia norte-americana criou 266 mil vagas e a taxa de desemprego subiu para 6,1%.
A ata de hoje, no entanto, mostra as discussões antes da divulgação dos dados de abril, por isso, muitos membros do Fomc destacaram a força do mercado de trabalho dos Estados Unidos na ocasião.
“Os participantes comentaram sobre a contínua melhora nas condições do mercado de trabalho nos últimos meses. Os ganhos de empregos no relatório de março foram fortes e a taxa de desemprego caiu para 6,0%. Mesmo assim, os participantes julgaram que a economia estava longe de atingir a meta de emprego máximo abrangente e inclusiva do Comitê”, diz a ata.
Na ocasião da reunião, os membros do Fomc chamaram atenção para o fato de ainda haver 8,4 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.
“Alguns participantes observaram que a recuperação do mercado de trabalho continuou a ser desigual entre grupos demográficos e de renda e entre setores”, diz a ata.
COMUNICAÇÃO CLARA
Embora a ata mostre que a economia norte-americana está longe das metas de pleno emprego e estabilidade de preços e que a acomodação monetária deve ser mantida por algum tempo, muitos membros do comitê destacaram a importância de comunicar qualquer intenção de mudança da política com clareza e antecipação, evitando surpresas.
“Muitos participantes destacaram a importância do Comitê comunicar claramente sua avaliação do progresso em direção às metas de longo prazo com bastante antecedência em relação ao momento em que poderia ser considerado substancial o suficiente para justificar uma mudança no ritmo de compras de ativos”, diz a ata.
O documento reforça que o momento de tais comunicações dependeria da evolução da economia e do ritmo de avanço em direção às metas do Comitê.