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A Arte da Guerra para investidores: os segredos para usar agora

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Tem muita gente que vê o mercado de ações como um jogo, comparável até mesmo àqueles que nossos filhos e sobrinhos passam horas jogando. Nessa realidade virtual, diversas pessoas se encontram simultaneamente, cada uma do seu lado do computador, criando estratégias, comprando e vendendo itens, passando de fase, subindo de nível, acumulando riquezas  –parando para pensar bem, até que tem mesmo a ver.

Mas nem tudo são flores nesses jogos, afinal, como o nome mesmo diz, é virtual, mas imita a realidade (ainda que normalmente os jogos tenham seu cunho fictício). Então, existe muita rivalidade, há jogadores que passam informações erradas só para se beneficiar, existem ainda aqueles que compram itens mais barato e vendem mais caro – ou que pagam o valor que for só para ter um item raro para chamar de seu –, tem a briga de habilidades, em que o mais fraco só vence se tiver uma boa estratégia. Pensando assim, os jogos podem ser bem agressivos.

E, quando falamos em agressividade, é inevitável não pensar no seu estopim: a guerra. Mas calma, nada de começar a fazer arminha com a mão aí na cadeira. Assim como falamos dos jogos de um modo mais conceitual, também estamos falando da arte da guerra, algo muito mais sutil.

E o pai da expressão “arte da guerra” é o chinês Sun Tzu. Ele pode não ter inventado essa frase, é claro, afinal na China antiga tudo era arte, mas certamente quem a ouve já associa ao autor do livro que leva justamente esse nome. Sun Tzu foi um general estrategista chinês do século V a.C., porém via a batalha como uma oportunidade de poder pensar, de filosofar, para se chegar à melhor maneira de gerir os conflitos. Isto é, para ele, era levar a batalha ao nível da consciência para entendê-la estrategicamente – mas, nada disso dando certo, é claro que a força ajudaria em campo.

O legado do general que viveu na época dos Reinos Combatentes, período sangrento da China Antiga, ficou registrado nas páginas de A Arte da Guerra em 13 capítulos divididos em 5 temas. Atualmente, existem versões e mais versões de A Arte da Guerra: para Negócios, para Mulheres, para Batalhas Espirituais, para Criar Adolescentes e, agora, a ADVFN traz para você um pouco dessa sabedoria oriental para os Seus Investimentos.

Vamos abordar os cinco temas da estratégia militar mais conhecida do mundo, para ajudar na sua luta diária no mercado de ações.

  1. Caminho ou doutrina

“A doutrina significa aquilo que faz com que o povo esteja em harmonia com seu governante, de modo que o siga onde esse for, sem temer por suas vidas, nem de correr qualquer perigo.”

Pensando no lado dos negócios, faz muito sentido esse ensinamento, que mostra o quanto a liderança faz a diferença na vida dos stakeholders. Opa, está aí uma palavra que você conhece e na qual se insere: stakeholders são todas as partes interessadas e que podem ser afetadas pelas empresas. Nesse caso, o tema abordado por Sun Tzu aqui se refere à nossa famosa governança corporativa.

A empresa na qual você investe possui um líder íntegro e comprometido com o interesse de todos os envolvidos na sociedade – incluindo aí, é claro, o acionista, seja ele majoritário ou minoritário? Existe essa harmonia entre o “povo” e o “governante” da empresa, da qual fala Sun Tzu? É possível, com esses dirigentes no poder da sua empresa, não temer por sua vida financeira nem correr qualquer perigo que incida no seu capital investido?

São questões que você precisa fazer a si mesmo, afinal a governança corporativa é o pilar de sustentação de todas as atitudes da companhia diante de qualquer situação, seja ela boa ou ruim. Se os dirigentes demonstram segurança sobre aquilo que pensam e fazem, então haverá muitos seguidores – e investidores – com quem poderão contar sempre. Do contrário, fica aí a dica apenas do maior estrategista de guerra do mundo: “O general [aqui Sun Tzu está falando com o leitor, no caso, você] que siga meu conselho, é certo que vencerá. Esse general há de ser mantido na liderança. Aquele que ignorar meus conselhos, certamente será derrotado. E deve ser destituído”.

  1. Clima/tempo

“O tempo significa o Ying e o Yang, a noite e o dia, o frio e o calor, dias ensolarados ou chuvosos e a mudança das estações.”

Parece bem poético o trecho, não é? E bem confuso ao mesmo tempo. Mas calma que a gente traduz isso tudo do “chinês”. Yin e Yang, por si só, já daria um livro se fôssemos explicar a fundo, mas vamos ser mais objetivos e dizer que se refere aos opostos – como dia e noite, frio e calor, conforme explicado por Sun Tzu. Trazendo para a nossa realidade, podemos dizer que durante o dia, os trimestres e os anos as empresas divulgam muitas informações ao mercado, diversas delas que inclusive causam impactos diretos nos seus investimentos.

É por isso que estar bem informado vai te garantir uma tranquilidade de Buda na hora de investir, afinal você saberá se aquela notícia que foi revelada hoje vai ser benéfica ou não para a companhia em geral, o que vai se refletir nos papéis dela que você possui em carteira.

Significa também entender que tudo muda e flui: o que era de um jeito agora pode se transformar amanhã, e está tudo bem – desde que você já tenha se atentado ao “clima” dessa mudança. Também é possível lidar com as tensões dessas transformações de um modo positivo, tentando ver o que de benéfico pode surgir.

Nem sempre uma má notícia agora vai interferir drasticamente no desempenho da companhia no futuro. Mas, se você é um daytrade, de repente faça sentido pensar sobre isso.

É o clima que vai ditar se vale a pena ou não entrar em certas batalhas.

  1. Terreno

“O terreno implica as distâncias, e faz referência a onde é fácil ou difícil deslocar-se, se é em campo aberto ou lugares estreitos, e isto influencia as possibilidades de sobrevivência.”

Em que terreno a sua empresa anda operando? É um setor aquecido, com boas perspectivas? E os concorrentes, como são, mais fortes ou mais fracos, agressivos ou defensivos? Como está a companhia na qual você investe diante deles?

Não basta apenas investir dinheiro na empresa e confiar cegamente nela sem dar uma olhadinha de canto de olho naquelas que estão ao lado, competindo pelo mesmo terreno. Aí sim temos evidentemente um campo de batalha, no qual o mais forte e estratégico sobrevive. E você deve saber se posicionar no terreno mais promissor, que vai te dar vantagem sobre todos os outros terrenos.

Mas vale ficar atento a uma dica valiosa de Sun Tzu e que você pode trazer para a empresa na qual investe: “A arte da guerra se baseia no engano. Portanto, quando és capaz de atacar, deves aparentar incapacidade e, quando as tropas se movem, aparentar inatividade. Se estás perto do inimigo, deves fazê-lo crer que estás longe; se longe, aparentar que se está perto”. Isto é, nem sempre uma empresa que está quietinha no seu terreno pode ser menos promissora que uma que está nas manchetes dos jornais.

E, como bem disse Sun Tzu no trecho sobre terreno: “isto influencia as possibilidades de sobrevivência”. Será que a sua empresa se posiciona bem no terreno em que ela atua para garantir a sobrevivência dela e, de quebra, dos seus investimentos?

  1. Liderança/o mando

“O mando há de ter como qualidades: sabedoria, sinceridade, benevolência, coragem e disciplina.”

Você deve estar muito firme diante da sua ordem de compra ou venda de uma ação, tendo em vista sua estratégia de investimento. Se ela funcionar por um período, mas não funcionar em outro, é sábio e sincero consigo mesmo mudar os rumos da batalha pelo maior retorno possível. Segundo Sun Tzu: “Assim, pois, o mais importante em uma operação militar é a vitória, e não a persistência”.

O autor ainda dá mais uma dica de ouro para o mundo militar e para você: ele sugere que sejam destinados pelo menos três meses para “preparar os artefatos” e outros três para “coordenar os recursos”. E nunca se deve atacar por cólera ou com pressa. Entendeu?

Em se tratando de coragem, abordada na citação, o simples fato de entrar no mercado de ações já é um ato voluntário de coragem, porém isso também precisa ser demonstrado diariamente, em cada operação realizada. De nada adianta investir “na fé” ou no “ouvi dizer” e depois que tiver um retorno negativo sair julgando a tudo e a todos. Entenda uma coisa: você é quem comanda os seus investimentos, e o seu sucesso ou desastre financeiro só depende de você.

  1. Disciplina

“Por último, a disciplina há de ser compreendida como a organização do exército, as graduações e classes entre os oficiais, a regulação das rotas de mantimentos, e a provisão de material militar ao exército.”

Tem povo mais disciplinado do que os chineses para levantar de madrugada, comer arroz e ir ao parque fazer Tai Chi Chuan, aqueles movimentos leeeeeennntos e coordenados, e Chi Kung, aqueles exercícios respiratórios tão leeeenntooos quanto?

Mas você não precisa fazer tudo isso para entrar no clima. Quando se fala em disciplina no mercado de ações, é justamente criar para você uma rotina que seja orientada para o seu objetivo de investimento e inserir nela tudo o que precisa para ter sucesso.

Assim, é começar lendo o Bom Dia ADVFN e o Momento B3 para saber tudo o que anda rolando no mercado antes da abertura da bolsa e o que com certeza vai influenciar o dia nela; é ficar antenado nas notícias corporativas, de indicadores econômicos, balanços das empresas, como está a política no país e lá fora…

É a cada três meses parar tudo o que você está fazendo para verificar os resultados dos balanços das empresas, inclusive aqueles anuais, de encerramento do ano, afinal, a dica de Sun Tzu é clara: “não desdenhar o conhecimento exato e detalhado de todos os fatores que podem intervir; e informar-se de cada um deles em particular”. Mas, caso sua estratégia seja daytrade, é ficar de olho em cada detalhe técnico, gráfico, e não perder as oportunidades.

Ter disciplina significa ainda você ter uma tecnologia segura a seu favor, seja usando um robô de investimentos, uma ferramenta 100% personalizada para a sua estratégia de curto, médio ou longo prazo, ou ainda uma internet que não vai te deixar na mão na hora de mandar a ordem do seu home broker. Como disse Sun Tzu, é levar material militar ao exército para proporcionar que essa guerra seja fortemente vencida.

Como vimos, os princípios da Arte da Guerra podem ser aplicados a todo e qualquer investidor, incluindo você. Faça uma reflexão para saber se está mesmo preparado para vencer as batalhas diárias do mercado e, se estiver falhando em algum dos cinco temas centrais, aproveite para ajustar o que precisa ser ajustado, melhorar o que precisa ser melhorado e passar a dar mais atenção ao que precisa ser mais bem visualizado.

E fica a dica final de Sun Tzu: “Se tu calcares teus fundamentos de ciência militar sobre os cinco princípios que acabo de estabelecer, a vitória será teu galardão. Em compensação, sofrerás as mais abjetas derrotas se, por ignorância ou presunção, vieres a omiti-Ios ou a rejeitá-Ios”.

Sun Tzu se revira no túmulo se você não seguir as dicas – ou não, já que alguns estudiosos dizem que ele nunca existiu. Independente disso, A Arte da Guerra já se tornou um legado e agora está em suas mãos escolher fazer parte disso. Tire a espada da bainha e vá à luta!

Você pode ler a obra original na íntegra: TZU, Sun. A Arte da Guerra. Domínio Público. Acesso em: 10 dez. 2020.

As citações contidas neste artigo são da versão traduzida por Sueli Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2006.

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