Com a popularização do Bitcoin (BTC) e a entrada de investidores institucionais no universo dos criptoativos cada vez mais nomes que eram influentes e conhecidos na comunidade das criptomoedas cedem espaço para os novos maximalistas das criptos.
Contudo, se os primeiros adeptos do Bitcoin eram conhecidos pelas roupas por vezes desarrumadas, os novos ‘big players’ usam terno e gravata e ficam felizes com as aprovações dos reguladores.
Assim, nomes como Roger Ver, Jihan Wu, Charlie Lee, entre outros, cederam lugar nas manchetes para Elon Musk, Michael Saylor e Nayib Bukele.
“Por isso me retirei o Bitcoin. Agora BTC é coisa de Faria Lima,. Virou coisa de banqueiro, aprovado pelo regulador e com selinho da CVM. Não vejo nada de errado com isso, mas não é meu espaço”, revela ao Cointelegraph Alex Ferreira, conhecido como o Barão do Bitcoin.
Alex foi um dos principais vendedores de Bitcoin p2p do Brasil, atividade que lhe valeu o apelido que ostenta até hoje: Barão do Bitcoin.
“A comunidade mudou e as discussões estão mais voltadas para ETF, KYC, compliance, candles, áreas do mercado tradicional que tomaram conta da comunidade . E essa não é meu espaço”,diz
Em uma de suas carteiras de Bitcoin chegou a passar mais de 5 mil BTCs em negociações com seus clientes. Na sua mala de histórias há desde a compra de Bitcoins em um aeroporto até a negociação de mineradoras nas montanhas distantes de Sichuan e Alta Mongólia.
“Os tempos eram outros, não tem mais espaço para mim nesta nova fase do Bitcoin. Aquela coisa de eliminar o intermediário, de ser seu próprio banco, de um sistema com as regras do código acabou. O anonimato, acabou. As negociações de 100, 200 Bitcoins pelo Skype já eram. E o blockchain está todo monitorado por agências privadas e estatais. O BTC de hoje é igual encontro político no Rubaiyat de Brasília”, disse.
10 anos de Bitcoin
Barão revela que foram mais de 10 anos negociando e minerando Bitcoin, negócio onde acumulou histórias e amigos, mas também inimigos e desafetos.
Uma das ‘tretas’ mais conhecidas pelos antigos usuários de bitcoin no Brasil era sua discussão com Fernando Ulrich, que foi resolvida na Labitconf de 2019. Contudo, de lá para cá, Barão revela que foi perdendo o gosto pelo mercado de Bitcoin.
“Antes nas conferências de Bitcoin o pessoal falava em como usar BTC para contornar restrições econômicas, inflação, empoderamento dos desbancarizados, além de conceitos filosóficos que eram transformados em códigos de computação. Era utópico, mas tinha mais vida. Hoje é tudo sobre quando vamos bater US$ 100 mil dólares e que próximo país vai adotar o Bitcoin como moeda”.
Alex justifica sua saída do BTC dando como exemplo o Banco Itaú que antes era totalmente contra as criptomoedas e hoje vende ETF de criptoativos e investe em Ethereum (ETH).
“Não foi o Itaú que mudou, foi o mercado que mudou. O Bitcoin hoje é o Lula de 2013, ficou paz e amor, cedeu espaço para o centrão e dormiu no triplex dos banqueiros e empresários. Não tem espaço para mim neste novo mercado. Eu gosto de polêmicas, gosto de uma boa discussão . Hoje não tem espaço para isso. É só alta infinita e qual o próximo suporte que será vencido”, aponta.
Porém, segundo ele o Bitcoin é uma invenção fantástica e que nasceu de um movimento cheio de filosofia, mas hoje se tornou apenas mais um ativo de investimento, algo como ouro e prata.
“O que há de novo nisso… nada.. é apenas mais um lugar, uma coisa que as pessoas usam para acumular riquezas. Não tem nada de novo nisso. É digital, é descentralizado é isso e aquilo mas, no fundo, virou só mais um ativo, igual um quadro do Van Gogh, igual um barra de ouro, igual qualquer outro ativo e o ETF prova isso, que é só mais um produto de investimento”.
Inflação
Barão revela também que esta popularização do Bitcoin acabou levando muita gente aos extremos do maximalismo .
“Outro dia escutei um cara falando que se o Bitcoin virar a moeda oficial do mundo vai acabar a inflação … isso é o absurdo de tudo… inflação não está ligada unicamente ao dinheiro fiduciário, seu valor e suprimento” alfineta.
Sobre o futuro, Barão não deu muitos detalhes, embora tenha afirmado que pretende continuar atuando em um outro mercado correlacionado com criptomoedas.
“Quero voltar a fotografar que era o que eu fazia antes do Bitcoin. Mas não vou deixar as criptomoedas de lado, ainda estou nas consultorias e com planos para novos cursos. As criptomoedas me proporcionaram muita coisa hoje, contudo a gente precisa entender quando não é mais produtivo dentro de uma comunidade. Portanto é hora de sair”, finalizou.
Por Cassio Gusson