Em 2021, o mercado de NFTs (tokens não fungíveis) foi um dos setores da indústria de criptomoedas que teve um crescimento sustentado devido a diversos fatores. Primeiro, foi a febre dos colecionáveis, como Crypto Punks, NBA Topshot e Bored Ape Yacht Club. A popularização de games play-to-earn como Axie Infinity, Alien Worlds e Splinterlands criou novos casos de uso para os NFTs pela necessidade de possuir ativos digitais sob a forma de tokens não fungíveis para jogá-los. Mais recentemente, o fenômeno do metaverso abriu espaço para o mercado de terrenos virtuais, cujos valores por vezes rivalizam com propriedades do mundo real.
A firma de monitoramento de dados on-chain Chainalysis publicou um relatório nesta segunda-feira em que apresenta um balanço do mercado de NFTs, revelando que US$ 26,9 bilhões foram movimentados entre janeiro e outubro deste ano em transações de tokens não fungíveis na rede Ethereum – a grande líder do setor.
Números superlativos como os US$ 69 milhões pagos por “Everydays”, do artista digital Beeple, em março, e as compras de um Crypto Punk pela Visa, por US$ 165.000, em agosto, e a de um Bored Ape pela Adidas, por US$ 156.000, em setembro, mas revelada apenas na semana passada, podem fazer parecer que este é um mercado cheio de oportunidades àqueles que acompanham as últimas tendências e estão atentos ao lançamento de novas coleções.
No entanto, o relatório da Chainalysis mostra que casos como os descritos acima são exceções e não a regra. O mercado de tokens não fungíveis é majoritariamente movimentado pelo varejo – e não por grandes players. A maioria das transações realizadas até outubro de 2021 fica abaixo de US$ 10.000, embora uma nova tendência esteja começando a surgir.
O relatório da Chainalysis divide as entidades do mercado em três grupos: varejo, colecionadores e institucionais. Se no início do ano os colecionadores representavam 6% do mercado, no início de novembro, eles já eram 19%, enquanto os inivestidores institucionais representavam menos de 1% no início do ano e assim permanecem atualmente.
Em relação aos volumes movimentados, os colecionadores dominam o mercado, com 63% das transações, em seguida vem as instituições, com 26% e os 11% restantes cabem ao varejo.
Em um mercado em que os recursos estão concentrados nas mãos dos grandes players, qual a melhor estratégia para os investidores do varejo lucrarem com NFTs? O relatório da Chainalysis oferece algumas pistas.
Whitelists
Ao contrário do que se poderia pensar, mintar um NFT durante o lançamento de uma coleção se configura como a estratégia que oferece piores retornos aos investidores, resultando em prejuízo em 71,5% das vezes, de acordo com dados do marketplace OpenSea analisados no relatório.
O caminho para obter os maiores rendimentos no mercado de NFTs passa pela participação em grupos do Discord e nas comunidades das coleções no Twitter e no Telegram desde antes do lançamento da coleção.
Isso acontece porque o sucesso de coleções de NFTs dependem da formação de uma comunidade sólida e participativa que contribua para a divulgação e, consequentemente, para o sucesso do projeto.
A participação ativa nestas comunidades geralmente é recompensada com a inclusão na “whitelist“do projeto. Basicamente, os eleitos para integrar estas listas podem adquirir NFTs da respectiva coleção a um preço mais baixo do que usuários comuns que participam da mintagem durante o lançamento oficial do projeto.
De acordo com o relatório, há 75,7% de chance de que integrantes de “whitelists” consigam vender seus NFTs com lucro após o lançamento da coleção, ao passo que para aqueles que participam do processo de mintagem a probabilidade cai para 20,8%.
Tais números, no entanto, não revelam toda a verdade. Dados sugerem que é quase impossível obter retornos expressivos fazendo mintagem de NFTs sem participação em “whitelists“. Ainda mais se for levada em consideração as quase sempre altas taxas de transação da rede Ethereum, como aponta o relatório:
“Se incluirmos as taxas de gás nos cálculos de lucratividade, a compra de NFTs recém-criados se torna um investimento muito menos atraente do que se poderia pensar. Também parece que alguns usuários experientes empregam bots para comprar NFTs assim que a mintagem começa, resultando em mais transações falhas – em alguns casos as dos próprios bots – tornando uma negociação lucrativa ainda mais difícil para o usuário comum.”
Isso acontece porque não há mecanismo que impeça as transações de serem processadas na rede Ethereum – com cobrança de taxas de gás – se elas não forem completadas, independentemente do motivo da falha.
Enquanto isso, metade das vendas realizadas por participantes de “whitelists” resulta em vendas pelo dobro do preço pago originalmente pelo NFT, de acordo com a análise de dados de transações da OpenSea.
Mercado secundário
Não tendo o privilégio de ser incluído em uma “whitelist“, é melhor não participar da mintagem durante o lançamento de coleções. Melhor esperar por oportunidades posteriores, pois comprar e negociar NFTs no mercado secundário resulta em ganhos em 65% das vezes, informa o relatório.
Outro dado ao qual é importante ficar atento é o tempo mínimo que, em geral, um NFT leva para apresentar uma valorização mínima após o lançamento. Embora haja casos em que lucros podem ser obtidos imediatamente, o mais comum é que os NFTs comecem a se valorizar de fato a partir do quinto dia após o lançamento.
Obviamente, a curadoria constitui um aspecto essencial. Se em março havia 193 coleções à escolha dos usuários, hoje elas já são 2.300 – apenas na rede Ethereum. Esse número confirma os NFTs como uma categoria de ativos em ascensão. A tendência é que eles sigam ganhando valor à medida que novos usuários são atraídos para o mercado.
Terrenos virtuais no metaverso são a mais nova tendência do mercado de NFTs. Somente na semana passada, movimentaram mais de US$ 100 milhões.
Por Caio Prati Jobim