Os temores dos investidores estão ameaçando ofuscar na próxima rodada de aumento das taxas de juros prometidas pelos bancos centrais de Washington e Frankfurt. Tanto o Federal Reserve quanto o Banco Central Europeu sinalizaram aumentos nas taxas de juros, mas os mercados estão preocupados com as consequências dessas ações.
A inversão da curva de rendimento nos títulos de 10 anos dos Estados Unidos e da Alemanha, negociados abaixo dos títulos de dois anos, reflete o ceticismo dos investidores em relação à capacidade dos bancos centrais de evitar uma recessão nos EUA. Essa situação levanta preocupações de que o zelo dos bancos centrais em conter a tolerância pode prejudicar as economias e forçar uma reversão rápida das políticas à medida que a presumir desacelera.
O Banco Central Europeu já teve experiências anteriores com campanhas de aumento de juros que foram considerados erros de política. A Nova Zelândia, um dos primeiros países a iniciar o aperto emocionado, viu sua produção diminuir, servindo como um conduzido dos perigos envolvidos.
Apesar dessas preocupações, os bancos centrais em várias partes do mundo estão demonstrando um apetite renovado por aperto, devido às persistentes pressões inflacionárias. O Federal Reserve dos EUA prometeu mais dois aumentos de um quarto de ponto percentual este ano, com a possibilidade de um aumento já no próximo mês. O Banco Central Europeu também indicou que seguirá o exemplo com um aumento próprio.
No entanto, a inclinação descendente da curva de rendimento, indicando uma recessão futura, e os sinais de desaceleração econômica nos Estados Unidos e na zona do euro estão causando desconforto nos mercados. Os dados recentes sugerem que a economia dos EUA está perdendo força, enquanto a zona do euro mostra sinais de lentidão após uma recessão prolongada.
Os investidores estão preocupados que os bancos centrais possam estar esperando por um aperto excessivo da política monetária, focando em indicadores de atraso e negligenciando os riscos de uma desaceleração econômica. Essa situação aumentou a intensificada sobre o impacto das próximas ações dos bancos centrais e deixa os mercados financeiros em alerta.
Inflação em queda sinaliza corte no Brasil
Em meados do século passado, quando presidia o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, William McChesney Martin fez uma analogia que entrou para o anedotário econômico. Martin disse que seu papel era “retirar a tigela de ponche justo quando a festa está realmente ficando quente”. É fácil entender a lógica por trás de sua afirmação.
Em situações de expansão descontrolada, a melhor maneira de frear o ímpeto gastador, tanto de governos quanto de empresas ou indivíduos, é aumentar os juros — medida tomada por Martin, mesmo a contragosto, em mais de uma ocasião. O mais longevo presidente do Fed (1951 a 1970) estava certo. Não há outro remédio para conter a farra que, cedo ou tarde, levará a um cenário inflacionário.
Embora distante da escalada de preços que empobreceu o Brasil nos anos 80 e 90 do século passado, a inflação sempre esteve à espreita no país. Nos últimos doze meses, contudo, o que se viu foi um fenômeno diferente. Desta vez, para sorte dos brasileiros, o dragão perdeu seu poder de fogo.
Há alguns dias, a Fundação Getulio Vargas (FGV) informou que, em maio, o Índice Geral de Preços — Disponibilidade Interna (IGP-DI), um dos vários termômetros da inflação brasileira, recuou 2,33%.
Mais surpreendente ainda: foi a maior deflação registrada pelo indicador desde julho de 1951. Não é só. Também em maio, o IPCA, a inflação oficial do país, subiu mísero 0,23%, muito abaixo das expectativas do mercado, o que resultou numa alta de preços equivalente a 3,94% em doze meses. Em junho, o próprio Banco Central espera que a inflação fique no campo negativo, uma façanha, sem dúvida, a ser comemorada.
A expectativa é que o Banco Central inicie o corte da Selic no segundo semestre. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado que define o patamar da taxa de juros, está marcada para 21 de junho, e espera-se alguma sinalização de que o processo está em vias de começar.
Em declarações recentes, Campos Neto reconheceu que a inflação está sob controle e insinuou que o ciclo de corte de juros pode estar próximo. Ainda assim, os efeitos da redução da Selic deverão demorar alguns meses para ser sentidos, especialmente no consumo. A estimativa dos economistas é que a Selic chegue a 12,5% em dezembro e a 10% no fim de 2024.
Com informações da Bloomberg e Veja