Enquanto há um maior otimismo recente do mercado com a Petrobras, os analistas também destacam os riscos para a tese da estatal, sendo um dos maiores o plano de investimentos (e desinvestimentos) da companhia.
Assim, o recente anúncio de desistência de venda de diversos ativos, entre eles o polo Bahia Terra para o consórcio entre PetroReconcavo (BOV:RECV3)-Eneva (BOV:ENEV3), pode ser vista como uma má notícia para investidores, de acordo com relatório do Citi.
Na segunda, a petrolífera anunciou o fim do processo que previa a venda dos polos Bahia Terra, Urucu e Campo de Manati, assim como a Petrobras Operaciones (S.A.), subsidiária da estatal na Argentina.
Em análise do anúncio, o Citi entende que o fim do plano de desinvestimento, somado à possível recompra da Refinaria de Mataripe (ex-Rlam), podem trazer impacto negativo para a tese de investimento da Petrobras.
“Nós acreditamos que a companhia deveria seguir o foco na exploração de ativos nas áreas de pré-sal e águas profundas, devido ao melhor retorno e bom histórico”, disse o banco.
O Citi relembrou ainda que, quando cortou a recomendação para os ADRs (recibo de ações negociado na Bolsa de Nova York) da estatal, no começo de agosto, mencionou que um dos maiores riscos para a tese de investimento dizia respeito ao plano de investimentos da empresa e ao retorno dos novos investimentos. O banco tem recomendação neutra para os ADRs PBR (equivalente aos ordinários), com preço-alvo de US$ 14, ou um valor 3% abaixo do fechamento da véspera.
Acordo com Mubadala Capital aproximaria de refinaria
A possível recompra da antiga Rlam ganhou destaque após comentários de apoio de Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, e de notícias de que a negociação estaria mais próxima de ocorrer neste sentido após acordo com o grupo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes, anunciado na véspera.
De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, a recompra da refinaria na Bahia seria estudada pela nova gestão da Petrobras (BOV:PETR4) (BOV:PETR4) desde “o primeiro dia”. Como apurou a agência, a parceria sobre negócios de biorrefino aproximaria as partes para futuros movimentos na direção da estatal retomar o ativo.
Na segunda, a estatal anunciou a assinatura de um MoU (memorando de entendimentos) com Mudabala na área de biocombustíveis. Isso de forma a desenvolver estudos abrangendo futuros negócios no segmento de downstream.
“Para que o Brasil aumente as vendas de bioprodutos, a regulamentação deve evoluir para permitir fontes diversificadas, rompendo com o lobby de algumas indústrias”, entendeu o Bradesco BBI sobre a parceria em si.
Contudo, os olhos do mercado estão voltados para um possível movimento da estatal para recomprar a ex-Rlam. Segundo a Reuters, recomprar o ativo do Mubadala, vendido ao fim de 2021 durante o governo Bolsonaro, dependerá primeiramente de avanços em negociações da petroleira junto ao órgão antitruste Cade, com quem a estatal havia se comprometido a vender todas as suas refinarias fora dos Estados do Rio e São Paulo, disseram as fontes.
Investimentos é um dos pilares da tese para Petrobras
Em agosto, quando quatro grandes bancos (Bradesco BBI, BTG Pactual, Bank of America e UBS BB) elevaram a recomendação das ações da estatal de neutra para compra, a estratégia de investimentos, junto com a disciplina de capital, era um dos pilares da tese de investimento, como contamos aqui.
Outros pontos analisados pelas instituições foram a política de dividendos e a política de preços. Os riscos, contudo, foram considerados menores do que o imaginado.
Em relação aos investimentos, tanto o BTG quanto o UBS BB avaliavam que a empresa muitas vezes não atinge o guidance de capex e que, mesmo em um cenário de alta do gasto do capital, ainda assim o balanço seguiria saudável.
“Contudo, estamos assumindo que eles não alterarão a estrutura de alavancagem e a alocação de capital da Petrobras no curto/médio prazo”, entendia o BTG Pactual. Os riscos maiores esperados eram principalmente relacionados à governança, destacou a análise.
Para o UBS BB, a possibilidade de despesas de caixa inesperadas poderiam impactar o potencial de dividendos.
Nesta segunda, a ação da Petrobras fechou em queda mas, na manhã da terça, apresentava recuperação, também seguindo o avanço nos preços do petróleo.