As ações do Banco do Brasil encerraram o ano passado na máxima histórica, de R$ 55,39, fruto de uma alta de 76% ao longo do ano. Após a valorização, o banco propôs aos acionistas desdobrar cada ação em duas, sem alteração do capital social, o que também dividiria a cotação e tornaria os papéis mais acessíveis a pequenos investidores. A assembleia geral extraordinária que votará a proposta de desdobramento foi marcada para o dia 2 de fevereiro. Já os resultados do quarto trimestre e de 2023 serão revelados no dia 8 de fevereiro.
A alta das ações do banco público foi a maior entre os grandes bancos brasileiros que têm capital aberto. Questões como a rentabilidade acima de 20% em um ano desafiador para os bancos de varejo, o crescimento da carteira de crédito a dois dígitos e a inadimplência abaixo dos pares impulsionaram os papéis.
Os resultados reduziram os temores do mercado com possíveis guinadas na estratégia do banco com a mudança do governo, dado que a União é a controladora do BB (BOV:BBAS3). A presidente do banco, Tarciana Medeiros, e os demais membros do comitê executivo que ela formou são funcionários de carreira do conglomerado.
O governo federal detém pouco mais de 50% das ações do BB, enquanto 49,6% dos papéis estão em livre circulação no mercado, e outros 0,4% correspondem às ações que o banco mantém em tesouraria. Em setembro do ano passado, 25,5% do capital estava com investidores estrangeiros, e 24,1%, com acionistas minoritários locais, segundo o BB.
Para 2024, analistas de mercado se dividem sobre se as ações seguirão atrativas ou se o ímpeto de crescimento de lucros já passou.
Após a projeção de um ano passado positivo, que efetivamente ocorreu, o Itaú BBA segue com compra para os ativos. “O papel começou 2023 como nossa principal escolha entre os bancos brasileiros. Não era uma escolha óbvia, diante da incerteza política e da queda nas taxas de juros. Mas, após nove meses, foi o único banco brasileiro que entregou mais crescimento na carteira de empréstimos e receita líquida de juros (NII) do que inicialmente previsto, sustentando um forte crescimento de 11% nos lucros, com retorno sobre o patrimônio (ROEs) superiores a 20%”, avalia.
O Goldman Sachs, em relatório de prévia de resultados do 4T23, manteve recomendação de compra para BBAS3; para o banco americano, a instituição financeira estatal seguirá sendo destaque dos resultados ao lado do Itaú.
“Projetamos lucro recorrente de R$ 9,2 bilhões (+4% no trimestre, +1% no ano), com um ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) saudável de 21,7%, expandindo 41 pontos-base no trimestre”, avalia o Goldman, apontando que esses números devem ser impulsionados por menores provisões para perdas com empréstimos e fortes receitas de taxas, enquanto a margem financeira deverá ficar quase estável, dados os spreads mais baixos, apesar do forte crescimento dos empréstimos. “Prevemos um crescimento dos empréstimos de 10% em termos anuais, ultrapassando os da indústria, dadas as tendências ainda fortes para os empréstimos rurais”, apontam os analistas.
A Genial Investimentos também recomenda compra para os ativos, com preço-alvo de R$ 64,90. “Antecipamos outro trimestre positivo para o Banco do Brasil e projetamos um 2024 sem grandes surpresas, mantendo a consistência no bom desempenho que o banco tem apresentado. Para o 4T23, nossas estimativas consideram um lucro líquido recorrente de R$ 9,1 bilhões (+3,3% trimestralmente e +0,4% ano a ano)”, avalia.
O movimento lateralizado de lucro em comparação anual pode ser atribuído a três eventos na categoria de ‘outras receitas/despesas’ que ajudaram o 4T22, avalia a Genial: bônus e incentivos de bandeiras operadas pelo BB; reversão de provisão de impairments; e desempenho de empresas controladas não financeiras. Apesar da lateralização anual, o lucro leva a uma rentabilidade (ROE) de 21%, refletindo o bom momento do BB nesse ciclo de crédito, suportada por uma carteira de crédito mais defensiva.
Já para o fechamento do ano de 2023, os analistas projetam um lucro de R$ 35 bilhões (no ponto médio do guidance do banco), alcançando uma rentabilidade de 20,7% de ROE. “Esse desempenho supera significativamente vários bancos privados e representa uma notável melhoria em relação aos 8,5% reportados em 2016”, avalia.
Do outro lado, o cenário um pouco mais “modesto” para o BB em 2024 leva a uma recomendação neutra para algumas casas. No fim de 2023, o Bradesco BBI cortou a recomendação dos ativos de compra para neutra e fez uma redução média de 4% em suas estimativas de lucro líquido para 2024 e 2025, combinado com uma margem de segurança mais estreita após o forte desempenho do preço das ações do banco.
Antes disso, em novembro, o Safra havia cortado a recomendação, destacando que o lucro e o retorno do banco estatal teriam atingido o seu pico. Os analistas projetam crescimento de lucros contido ante os concorrentes no setor privado. É estimado um lucro de R$ 37 bilhões para 2024 e de R$ 37,963 bilhões em 2025. “O principal risco ascendente para os bancos abrangidos pela nossa cobertura reside em uma redução do custo do risco à medida que os empréstimos inadimplentes são anulados, o que poderá ser seguido por um aumento na originação de crédito não garantido”, apontou.
Contudo, a visão segue positiva para a maior parte dos analistas de mercado. De acordo com compilação LSEG, de 14 casas que cobrem a ação, 13 têm recomendação e uma neutra (além da recomendação do Safra, que não faz parte da compilação). O preço-alvo médio é de R$ 64,14, ou potencial de valorização de 16% frente o fechamento de sexta-feira (12).