De um lado, prévias operacionais do segundo trimestre de 2024 (2T24) consideradas positivas. De outro, juros altos por mais tempo. Com diversas variáveis podendo afetar as construtoras na Bolsa, analistas avaliam quais devem prevalecer sobre o sentimento sobre as ações das empresas e convergem quase que de forma unânime em um ponto: a preferência pela Cyrela, que vê seus ativos acumularem baixa de 16% em 2024.
A XP apontou em relatório ter uma perspectiva vista como otimista para os lançamentos no 2S24 e em 2025. Os analistas Ygor Altero e Ruan Argenton, que assinam o documento, disseram continuar observando forte correlação entre o “valuation” das construtoras desse segmento e as taxas de juros de longo prazo, com as revisões para cima na curva futura de DI pressionando o desempenho do setor. A precificação desse cenário de taxas “mais altas por mais tempo” deve persistir pelo segundo semestre deste ano e em 2025 e, segundo Altero e Argenton, pode aumentar ainda mais a pressão sobre os múltiplos do segmento, “embora vejamos potencial positivo devido a um ambiente operacional melhor”.
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“Operacionalmente, vemos um ambiente mais favorável para os nomes de média e alta renda, já que prévias de vendas líquidas mais fortes do que o esperado no primeiro semestre de 2024 têm consistentemente reduzido o estoque em comparação com os níveis do preocupantes do primeiro semestre de 2023”, afirmaram.
“Na nossa visão, isso pode resultar em um cenário levemente mais otimista para os lançamentos no segundo semestre de 2024 e em 2025, nos levando a aumentar nossas estimativas na cobertura em média em 32% para 2024 e 31% para 2025.”
Nesse contexto, a corretora acredita que a Cyrela (BOV:CYRE3), a Moura Dubeux (BOV:MDNE3) e a Lavvi (BOV:LAVV3) poderiam oferecer a combinação mais forte de crescimento e rentabilidade nesse cenário de melhor demanda.
A XP tem preferência, no setor, pela Cyrela (com preço-alvo sendo revisado de R$ 26 de R$ 30 para 2025) por seu portfólio bem diversificado que navega bem em diferentes cenários macro, forte cronograma de projetos, sólida expansão do retorno sobre patrimônio líquido (ROE), bem como pela alta liquidez e potencial para dividendos mais fortes.
Já para Moura Dubeux, o preço-alvo é de R$ 19 para 2025 (elevado ante os R$ 16,50 anteriores), com os analistas vendo robusta expansão no curto prazo, forte dominância regional, além de atrativo potencial de pagamento de dividendos em 2025. A Lavvi (com preço-alvo de R$ 13 para 2025, ante valor anterior de R$ 9,40), por sua vez, deve entregar um forte crescimento do lucro por ação e dividendos resilientes, apesar da baixa liquidez das ações.
A XP Investimentos também disse continuar vendo um cenário de rentabilidade desafiador para a EzTec (BOV:EZTC3); com preço-alvo sendo cortado de R$ 22 para R$ 18 para 2025) e Trisul (BOV:TRIS3); preço alvo reduzido de R$ 6,10 para R$ 6 para 2025), justificando a manutenção da recomendação neutra.
BBA e Goldman também preferem Cyrela
O Itaú BBA também reitera sua preferência pela Cyrela no segmento de média renda e prevê um forte segundo semestre para o segmento com um todo. O BBA também reitera uma visão otimista sobre o segmento de baixa renda, com Direcional (BOV:DIRR3) sendo sua principal escolha, após construtora liderar os lançamentos no segmento no trimestre passado. Olhando especificamente para construtoras de média renda, o banco prevê um forte segundo semestre de 2024, apesar da queda de 37% nos lançamentos no 2T24 em relação ao ano anterior e estáveis na base trimestral, provavelmente devido a problemas de aprovação durante o trimestre.
Já o Goldman Sachs avalia que as prévias operacionais do 2T24 mostraram vendas fortes em todo o seu universo de cobertura, com vendas em alguns casos atingindo os níveis mais altos de todos os tempos e superando significativamente os lançamentos, reduzindo os meses de estoque.
Entre as construtoras sob a cobertura do Goldman Sachs, a Cyrela se destaca como a preferida por termos de valuation (desconto de 15% sobre o valor contábil) em relação à rentabilidade (ROE aumentando +200 bps, ou pontos-base, em 2024, para um recorde de +16,5%), pois as taxas aparentemente tiveram um impacto maior do que a rentabilidade real na avaliação.
“Ao contrário dos ciclos de aperto anteriores, desta vez a Cyrela viu as vendas aumentarem 60% desde 2021, à medida que a taxa de financiamento imobiliário subiu cerca de 400 bps para 11%, superando a inflação dos custos de construção de 20% (INCC) no mesmo período”, explica Goldman Sachs.
O Goldman Sachs acredita que o posicionamento da Cyrela na renda alta (50% das vendas) e média (30% das vendas) foi um fator chave, pois esses segmentos viram dinâmicas favoráveis de oferta e demanda na cidade de São Paulo, que o banco espera ser impulsionado por altas taxas limitando a concorrência. O preço-alvo de R$ 33 para a Cyrela implica retornos de 50%, os mais altos da cobertura do banco.
O Goldman Sachs destacou ter cortado recentemente a recomendação da Eztec para venda, à medida que as expectativas de ROE do consenso passaram de 9% para 7% e a do banco está em 4%.
O banco também mantém classificação neutra para a MRV (BOV:MRVE3), que viu o desconto sobre o valor contábil passar de 23% para 45%, à medida que as expectativas de ROE passaram de 11% para 6%.
O Goldman projeta receitas de R$ 2,2 bilhões para a MRV no 2T24, em comparação com R$2 bilhões anteriormente, além de margens brutas ligeiramente melhores, 27% ante 26,5%, para levar em conta o impacto de vendas maiores do que o esperado. Segundo os cálculos do banco, o lucro líquido deve atingir R$ 98 milhões para o trimestre, o primeiro lucro da MRV em 4 trimestres. Dado o consumo de caixa material observado durante o trimestre (R$ 380 milhões), o banco espera um consumo de caixa de R$ 376 milhões para o ano.