Mais empresas se preparam para sair da B3, ampliando a lista dos últimos anos, com o efeito dos juros elevados que minam o valor das ações. E investidores estratégicos estão esperando de braços abertos.
O Atacadão (BOV:CRFB3), do Carrefour, e a Eletromídia (BOV:ELMD3), da Globo, estão entre as companhias que devem deixar o mercado acionário.
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Ficou mais difícil encontrar motivos para ficar. Uma mistura de instabilidade política e Selic de dois dígitos afeta a bolsa, e muitos investidores preferem colocar seu dinheiro em produtos de renda fixa, mais seguros e com altos rendimentos.
Hoje, 429 empresas são listadas na B3, de acordo com a bolsa, abaixo das 463 em 2021. Metade dessas saídas ocorreu em 2024.
“O universo investível de renda variável no Brasil virou um ovo, é muito pequeno”, disse Christian Keleti, CEO da Alpha Key Capital Management.
Ninguém está substituindo essas empresas. A B3 não tem um IPO há cerca de quatro anos, e uma onda de aquisições — geralmente de empresas com participações pré-existentes — está gradualmente levando a mais deslistagens.
A provedora de serviços de internet LWSA (BOV:LWSA3), a empresa farmacêutica veterinária Ourofino Saúde Animal (BOV:OFSA3) e a fabricante de eletrônicos Positivo Tecnologia (BOV:POSI3) consideram ativamente deixar a B3 (BOV:B3SA3), de acordo com pessoas com conhecimento do assunto ouvidas pela Bloomberg News. Essas empresas ainda não decidiram se levarão o plano adiante, disseram as pessoas.
LWSA, Positivo e Ourofino declinaram comentar.
Em agosto, a Cielo deixou a bolsa após uma oferta pública de seus acionistas controladores. O Carrefour planeja deslistar sua subsidiária Atacadão ao comprar as ações que ainda não possui na empresa.
Enquanto isso, a Globo está tentando tirar a Eletromidia, cuja aquisição ocorreu em novembro, da bolsa. Companhias menores também procuram uma saída.
“Estratégicos começaram a aparecer, dispostos a fechar capital”, diz Keleti. “Essas coisas vão acontecer cada vez mais com os preços das ações que estão aqui, porque, principalmente para quem tem moeda forte, está muito barato para comprar.”
- Valuations baixos
As ações brasileiras negociam por 7,13 vezes os lucros acumulado em 12 meses, abaixo da média histórica de 10 anos de 10,06 vezes, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Isso é muito mais baixo do que o índice MSCI de ações de mercados emergentes, negociado a uma proporção de 12,46 vezes.
Uma tendência semelhante está ocorrendo no México, onde o bilionário Ricardo Salinas Pliego quer tirar o Grupo Elektra do mercado após uma forte onda de venda das ações.
A falta de interesse nas ações brasileiras também deprimiu os volumes de negociação. Em 2024, o Ibovespa registrou um volume médio diário de negociação de cerca de R$ 23,9 bilhões, abaixo dos R$ 33,2 bilhões em 2021.
Raphael Figueredo, estrategista de ações da XP, disse que um cenário econômico desafiador pode tornar “menos oneroso para algumas companhias fechar o capital do que mantê-lo aberto”, uma vez que as empresas listadas estão “sujeitas à especulação e aos fortes fluxos de saída motivados por resgates” de fundos.
As empresas que permanecem na bolsa têm recorrido a recompras e pagamentos de dividendos na tentativa de manter suas ações atraentes. No ano passado, as companhias listadas anunciaram o maior número de programas de recompra desde pelo menos 2008.
“As empresas estão achando mesmo as suas ações muito baratas”, disse Rafael Oliveira, gestor de ações da Kinea Investimentos. Em vez de aportar em investimentos, afirmou, “elas estão enxergando que a recompra é talvez o investimento mais barato que podem fazer nesse contexto de juro elevado”.