O dólar à vista fechou a sexta-feira (18) em alta frente ao real, destoando do movimento da moeda americana no exterior. A valorização refletiu o aumento da aversão ao risco no ambiente doméstico, após as medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), surpreenderem o mercado.

A leitura entre os investidores é que a decisão pode dificultar negociações comerciais com os Estados Unidos ou até acirrar a postura do ex-presidente Donald Trump, que recentemente anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Trump relacionou a medida ao julgamento de Bolsonaro no STF, conforme declarado em uma carta enviada ao ex-presidente brasileiro.

Com isso, o dólar à vista subiu 0,73% no dia, encerrando cotado a R$ 5,5876, após oscilar entre R$ 5,5240 e R$ 5,5980. Na semana, a moeda acumulou alta de 0,72%. No mercado futuro, o dólar com vencimento em agosto avançava 0,63%, a R$ 5,6025, por volta das 17h06. Lá fora, o índice DXY — que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas fortes — recuava 0,28%, a 98,456 pontos. O euro subia 0,24%, a US$ 1,1625, enquanto a libra operava estável, a US$ 1,3414.

Em resposta às declarações de Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na noite de quinta-feira (17) que a imposição das tarifas é uma “chantagem inaceitável” e que o Brasil continuará defendendo sua soberania, inclusive no debate sobre a regulação de empresas digitais, ponto criticado pelos EUA.

“O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos e, em 16 de maio, apresentamos uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, mas o que recebemos foi uma chantagem”, afirmou Lula em pronunciamento.

Já Trump, em carta tornada pública por Bolsonaro na rede social X, voltou a relacionar as tarifas às acusações enfrentadas pelo ex-presidente brasileiro. O norte-americano afirmou que Bolsonaro está sendo vítima de “um sistema injusto” e de “tratamento terrível”.

Nesta sexta-feira, Bolsonaro foi alvo de uma nova operação da Polícia Federal, determinada pelo STF. Entre as medidas impostas, estão o uso de tornozeleira eletrônica e outras restrições judiciais, ampliando os desafios do ex-presidente com a Justiça.

Diante desse cenário de tensão entre Brasil e Estados Unidos, o mercado adotou uma postura mais cautelosa. “A declaração de Trump reforçando a ligação entre as tarifas e os processos judiciais de Bolsonaro aumenta as dúvidas dos investidores sobre como o Brasil pode negociar uma solução com os EUA”, avaliou Leonel Mattos, analista da StoneX.

Ele destaca que, ao vincular a política comercial a questões políticas e judiciais internas do Brasil, o diálogo com os EUA se torna mais complexo e imprevisível.

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(Com informações da Reuters, BDM Online e Uol)