Clubes europeus já faturam mais com marketing e patrocínios do que com direitos de TV. Flamengo–Betano espelha essa transição no Brasil.

O futebol europeu vive uma virada estrutural: as receitas comerciais já ultrapassam os ganhos com televisão. De acordo com o relatório Football Money League da Deloitte, os 20 clubes mais ricos da Europa obtiveram em média € 244 milhões com patrocínios, marketing e licenciamentos, contra € 213 milhões com transmissão de TV.

Esse movimento contrasta com o cenário de 2017, quando os direitos de transmissão ainda eram soberanos. Naquele ano, as maiores agremiações europeias arrecadavam em média € 177 milhões com TV e € 151 milhões em atividades comerciais. Em menos de uma década, o jogo virou.

O Flamengo, ao assinar com a Betano, se alinha a esse modelo europeu. A negociação não se limita a colocar a marca no uniforme: envolve dados de torcedores, audiência digital e plataformas próprias. Esse tipo de ativo — praticamente inexistente há 15 anos — tornou-se o coração financeiro de clubes como Bayern de Munique e Barcelona, que hoje exploram suas marcas globalmente em áreas que vão de e-sports a conteúdos de streaming.

O movimento indica que o Brasil começa a trilhar o mesmo caminho: a TV segue relevante, mas perde o protagonismo frente à expansão comercial impulsionada pelo digital.

Virada europeia: comercial lidera receitas

Dados do Football Money League da Deloitte mostram que os 20 clubes mais ricos da Europa faturam em média € 244 milhões com patrocínios, marketing e licenciamentos, superando os € 213 milhões obtidos com direitos de TV. Essa virada é fruto de décadas de digitalização e expansão global da marca, que permitiu clubes como Real Madrid, Barcelona e Bayern de Munique explorar merchandising, produtos licenciados e canais digitais diretamente para torcedores em diferentes continentes. Para o Brasil, o movimento indica que há potencial não explorado: clubes com grandes torcidas podem gerar mais receita com marketing e licenciamento do que com TV, se souberem estruturar corretamente sua presença digital.

Comparação histórica: TV perde protagonismo

Em 2017, o cenário era diferente: clubes europeus faturavam € 177 milhões com direitos de transmissão e € 151 milhões com atividades comerciais, ou seja, a TV dominava. O crescimento das receitas comerciais deve-se à profissionalização da gestão, contratos globais de patrocínio e monetização de canais digitais próprios. A consequência é que a TV deixa de ser fonte dominante, reduzindo a dependência de resultados esportivos e abrindo espaço para receitas estáveis de parceiros globais.

Brasil acompanha o movimento

O Flamengo, com seu contrato com a Betano, exemplifica como o modelo europeu pode ser adaptado ao Brasil: uso de mídia própria, dados de torcedores e engajamento digital. Isso significa que o clube não depende apenas da TV aberta ou paga, mas consegue gerar receitas de forma contínua e escalável. A tendência é que outros clubes sigam, buscando diversificação de receita e independência financeira.

Implicações para clubes nacionais

O movimento europeu pressiona clubes brasileiros a estruturar portfólios comerciais mais sofisticados, incluindo métricas de engajamento, monetização digital e produtos licenciados. Os que não se adaptarem podem perder competitividade financeira e ficar dependentes de contratos de TV, que crescem de forma mais lenta e são vulneráveis a crises econômicas ou mudanças de mercado.