O comércio mundial começou 2025 em ritmo acelerado. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o volume global de trocas subiu 4,9% no primeiro semestre, impulsionado pela antecipação de exportações para os Estados Unidos, por condições macroeconômicas favoráveis e pelo avanço dos fluxos de produtos e serviços ligados à Inteligência Artificial. O desempenho levou a uma revisão otimista nas projeções da entidade: em abril, após o anúncio do “tarifaço” de Donald Trump no dia 2 de abril (Liberation Day), a estimativa era de alta de 0,9% para o volume global de comércio. Em outubro, o número foi ajustado para 2,4%, um salto de 1,5 ponto percentual.
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O cenário reflete, em grande parte, a resiliência da economia norte-americana. Mesmo com as tarifas elevadas, a esperada alta inflacionária e a desaceleração do crescimento não ocorreram na intensidade prevista. Um dos fatores, segundo a OMC, está nas negociações entre exportadores e importadores que aceitaram reduzir margens de lucro e evitar repasses integrais do custo tarifário. O organismo, contudo, alerta: esse efeito é temporário, já que a persistência das tarifas tende a pressionar os preços finais.
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No Brasil, o comércio exterior também mostrou força. Entre setembro de 2024 e 2025, as exportações cresceram 7,2% em valor e 9,6% em volume, enquanto as importações avançaram 17,7% e 16,2%, respectivamente. No acumulado de janeiro a setembro, as vendas externas aumentaram 3,5% em volume, e as compras do exterior subiram 9,4%. Apesar do bom ritmo, o superávit da balança comercial ficou em US$ 3,0 bilhões em setembro e em US$ 45,5 bilhões no acumulado do ano, uma queda de US$ 13,2 bilhões frente ao mesmo período de 2024.
Os efeitos do tarifaço de Trump sobre o Brasil
O impacto das tarifas norte-americanas foi sentido com força desigual entre os parceiros do Brasil. Em setembro, o crescimento das exportações brasileiras foi liderado pela Argentina (+22,0%), seguida pela China (+15,0%) e União Europeia (+5,7%). No acumulado até setembro, as vendas para a Argentina subiram 48,9% e para a China, 5,8%. A diferença é que a China respondeu por 28% das exportações totais, enquanto a Argentina teve 5,9% de participação. Já os Estados Unidos, com 8,4% de representatividade, registraram queda de 19,1% no mês e recuo acumulado de 0,8% até setembro.
Os três maiores parceiros — Estados Unidos, China e União Europeia — responderam juntos por 40% das exportações brasileiras no mês. A retração das vendas para o mercado norte-americano foi compensada parcialmente pelo avanço nas exportações para a China e por ganhos em outros destinos, como Ásia (excluindo a China), América do Sul (sem a Argentina) e México. A Argentina, embora ainda apresente desempenho expressivo, mostrou sinal de desaceleração: após crescimentos acima de 40% ao longo de 2025, a variação de setembro (+22%) indicou perda de fôlego diante do enfraquecimento econômico do país.
A análise da balança comercial mostra ainda um aumento do déficit brasileiro com os Estados Unidos, que passou de US$ 1,3 bilhão para US$ 5,1 bilhões. O superávit com a China caiu de US$ 30,1 bilhões para US$ 22,0 bilhões, enquanto o saldo com a União Europeia reverteu de um superávit de US$ 91 milhões para um déficit de US$ 1,5 bilhão. Por outro lado, o resultado com a Argentina evoluiu de um déficit de US$ 50 milhões para um superávit de US$ 4,7 bilhões.
A atualização dos efeitos do tarifaço em setembro manteve a tendência apontada na edição anterior do ICOMEX. Dos 26 segmentos analisados, apenas dois — transportes e coque — inverteram a trajetória negativa observada em agosto. A agropecuária, que havia registrado alta de 9,5% em agosto, caiu 32,3% em setembro. O setor de máquinas e equipamentos recuou 10,9%, após avanço de 15,0%, e as exportações de fármacos caíram 31,1%, após alta de 15,9%.
Entre os 30 principais produtos exportados em setembro, os semimanufaturados de ferro e aço foram os únicos a inverter o sinal, passando de queda de 6,6% em agosto para alta de 34,5% em setembro. Carnes e café continuaram compensando as perdas no mercado norte-americano com aumento de vendas para outros destinos. Alguns produtos de madeira e fumo também mostraram recuperação fora dos EUA, embora a base comparativa de 2024 — quando tinham participação de apenas 0,1% — explique parte das variações expressivas.
O estudo conclui que o tarifaço provocou uma mudança estrutural na geografia do comércio brasileiro, redirecionando mercados e alterando a pauta de exportações. “A fase ainda é de transição, podendo esse cenário mudar se as negociações entre Brasil e Estados Unidos conseguirem chegar a um desfecho positivo. Em negociação, o desafio é que cada participante quer mostrar ganhos e/ou que as concessões oferecidas são compensadas com benefícios. Dado o grau de assimetria dessa negociação, o maior desafio é para o Brasil.”
Impacto no contexto atual do mercado financeiro
A reconfiguração dos fluxos comerciais ocorre em um momento de cautela nas bolsas de valores globais, diante da incerteza sobre o ritmo de crescimento dos Estados Unidos e da trajetória das tarifas. O fortalecimento do comércio mundial tende a favorecer o apetite por risco em países emergentes, incluindo o Brasil, mas a queda do superávit comercial e o aumento das importações podem pressionar o câmbio e os juros futuros. O mercado avalia que um eventual acordo bilateral Brasil–EUA poderia aliviar parte das tensões comerciais e impulsionar ativos ligados ao setor exportador.
(fgv)
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