
Apesar de caminhar para encerrar 2025 em terreno positivo, o mercado financeiro no Brasil atravessou episódios de elevada turbulência ao longo do ano. Incertezas relacionadas à política comercial de Donald Trump, o aumento do risco político interno e a quebra do Banco Master afetaram a percepção de risco e testaram a confiança dos investidores, especialmente em momentos de maior volatilidade.
Outro fator relevante de estresse foi a crise envolvendo os Certificados de Operações Estruturadas, conhecidos como COEs. As perdas concentradas em COEs de crédito no último trimestre reacenderam um debate antigo no mercado financeiro, marcado por críticas à baixa transparência desses produtos e à forma como foram distribuídos, muitas vezes sem alinhamento adequado ao perfil e aos interesses dos investidores.
Os casos mais emblemáticos envolveram produtos atrelados à Ambipar (BOV:AMBP3) e à Braskem (BOV:BRKM5 | BOV:BRKM3). Investidores expostos a dívidas da Ambipar chegaram a registrar perdas de até 93% do capital aplicado no auge da crise, em outubro, enquanto aplicações ligadas à Braskem acumularam desvalorizações de 63%. A deterioração atingiu praticamente todos os ativos relacionados às companhias, incluindo debêntures e ações, mas os COEs acabaram concentrando maior destaque negativo.
Relatos de investidores indicam que muitos não compreenderam a real dimensão das perdas potenciais. Isso ocorreu, em grande parte, porque esses produtos foram apresentados como alternativas de renda fixa, classificação que acabou gerando a percepção equivocada de baixo risco, incompatível com a estrutura efetiva de retorno e risco dos COEs.
A crise também evidenciou a relevância desse mercado no Brasil. Atualmente, o segmento de COEs soma cerca de R$ 100 bilhões em patrimônio. Há cinco anos, o volume investido era de R$ 31,2 bilhões, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Em outubro de 2025, a entidade estima que pessoas físicas mantinham R$ 101,6 bilhões aplicados nesses produtos.
Dados mais recentes da B3 mostram um estoque de COEs de aproximadamente R$ 98,7 bilhões em dezembro. Desse total, cerca de 80% estão nas mãos de investidores do varejo de alta renda, 13% no varejo massificado tradicional e 7% no segmento de private, de acordo com a Anbima.
Os COEs começaram a ser oferecidos ao investidor de varejo há cerca de dez anos, principalmente por meio de assessores de investimento de corretoras e casas especializadas, anteriormente conhecidos como agentes autônomos. O discurso predominante era o de democratizar o acesso a estratégias sofisticadas, com uso de derivativos, ampliando as possibilidades de diversificação.
Inicialmente, muitos desses produtos contavam com proteção do capital investido, uma vez que o COE não possui cobertura do Fundo Garantidor de Créditos. Com o tempo, essa proteção deixou de ser uma regra. Nos COEs ligados à Ambipar, por exemplo, não havia salvaguarda do capital, o que ampliou significativamente o risco assumido pelos investidores.
Por trás da narrativa de proteção ou sofisticação, o COE embute uma estrutura de remuneração assimétrica. Bancos emissores possuem vantagem estrutural ao precificar derivativos de forma favorável e captar recursos a taxas inferiores às praticadas em outros produtos. Soma-se a isso a baixa liquidez, que dificulta a saída do investidor no mercado secundário em momentos adversos.
No contexto de mercado, a crise dos COEs tende a impactar a percepção de risco dos investidores em relação a produtos estruturados. A consequência pode ser uma redução gradual da demanda por esse tipo de ativo, com efeitos indiretos sobre a dinâmica de captação das instituições financeiras, além de reflexos sobre o apetite por risco na bolsa de valores, no câmbio e no mercado de títulos locais.
Para empresas diretamente envolvidas, como Ambipar e Braskem, episódios dessa natureza costumam aumentar a volatilidade de suas ações e títulos de dívida, ao mesmo tempo em que ampliam o escrutínio sobre governança, estrutura de capital e comunicação com o mercado. Esse ambiente tende a pressionar preços no curto prazo e elevar o prêmio de risco exigido pelos investidores.
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