
As siderúrgicas instaladas no Brasil atravessam um período de forte ajuste operacional diante do avanço das importações de aço chinês. Até novembro deste ano, o setor eliminou 5.100 postos de trabalho e suspendeu R$ 2,5 bilhões em investimentos, segundo dados divulgados nesta terça-feira (16/12) pelo Instituto Aço Brasil. A entidade não detalhou os números por empresa, mas destacou que o movimento reflete a perda de competitividade da produção nacional frente ao produto importado.
No mesmo intervalo, a retração da demanda interna levou à paralisação de quatro altos-fornos, uma aciaria e cinco minimills, usinas semi-integradas que utilizam sucata em fornos elétricos. O cenário marca uma desaceleração relevante em relação ao ano passado e evidencia o impacto direto das importações sobre a capacidade produtiva instalada no país.
Diante desse contexto, o Instituto Aço Brasil revisou para baixo sua estimativa de produção de aço bruto em 2025. A projeção passou de uma queda de 0,8% para recuo de 2,2%. A expectativa é de que, ao final do ano, as siderúrgicas brasileiras produzam 33,1 milhões de toneladas de aço, com vendas de 21,1 milhões de toneladas no mercado interno e 10,2 milhões destinadas ao mercado externo. No caso das exportações, houve aumento de 6,9% na Projeção.
As importações seguem em patamar elevado. A estimativa do instituto aponta crescimento de 7,5% nas compras externas de aço bruto em relação a 2024 e avanço de 20,5% nos aços laminados, principal insumo para a construção civil e para fabricantes de automóveis e máquinas. Apesar disso, houve revisão para baixo dessas projeções, que anteriormente indicavam altas de 19,1% e 32,2%, respectivamente.
Segundo o Instituto Aço Brasil, essa revisão está ligada à redução de preços praticada pelas siderúrgicas brasileiras, numa tentativa de competir com o material chinês. Ainda assim, a entidade afirma que a entrada de aço da China continua sendo o principal entrave do mercado nacional. Até novembro, o Brasil importou 5,4 milhões de toneladas de aço laminado, muito acima da média anual de 2,2 milhões registrada entre 2000 e 2019. Do total importado no período, 64% tiveram origem chinesa.
Além das importações diretas, outras 6,2 milhões de toneladas de aço ingressaram de forma indireta no país, incorporadas a produtos finais como eletrodomésticos, automóveis e maquinários. Para o instituto, esse fluxo adicional amplia ainda mais a pressão competitiva sobre a indústria local.
O Instituto Aço Brasil atribui esse movimento ao que define como estratégias ilegais do governo chinês. A jornalistas, a entidade apresentou dados da Platts que mostram queda acentuada no preço do aço chinês, de US$ 560 por tonelada de bobinas a quente em janeiro de 2024 para US$ 454 em novembro de 2025. Esse recuo ocorre em paralelo à redução das margens das usinas chinesas, o que, segundo o instituto, caracteriza dumping comercial, quando empresas vendem no exterior abaixo do custo ou do preço praticado no mercado doméstico para eliminar concorrentes.
Em maio, o governo brasileiro atendeu a uma demanda do setor e renovou as cotas de importação para 16 tipos de aço, sendo que 76% desses produtos tinham origem na China. Apesar de considerada positiva, a medida não foi suficiente para reverter o quadro adverso enfrentado pelas siderúrgicas.
Os resultados financeiros ilustram essa deterioração. No terceiro trimestre de 2025, o Ebitda das siderúrgicas com operação no Brasil somou R$ 2,8 bilhões, quase metade do valor registrado no mesmo período do ano anterior. Já a margem Ebitda recuou de 12,9% para 7,7%, refletindo a compressão de preços e custos elevados.
Agora, o setor intensifica a pressão junto ao governo federal para elevar as tarifas de importação de aço, atualmente entre 9% e 16% para os produtos incluídos na medida e de 25% sobre volumes que excedem as cotas definidas em maio. Outra frente envolve as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a qualquer tipo de aço importado.
De acordo com o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, a entidade aposta na melhora das relações bilaterais para reverter esse cenário. Segundo ele, a expectativa é que o governo de Donald Trump volte atrás nas tarifas aplicadas ao aço brasileiro e restabeleça o sistema de cotas criado em 2018, que permitia a exportação de até 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado sem cobrança de tarifas.
“Em 2018, o Trump fez rigorosamente a mesma coisa […] e no nosso entendimento, no exemplo de 2018, se for exitoso esse canal negocial, o acordo pode ser restabelecido e o Brasil forneceria a cota e, em vez de ser taxado em 50%, ficaria com 0%”, afirmou.
Do ponto de vista de mercado, o cenário descrito tende a pressionar as ações de empresas siderúrgicas listadas na bolsa de valores brasileira, especialmente diante da queda de margens, da redução de investimentos e da incerteza regulatória. Por outro lado, eventuais avanços em medidas de defesa comercial ou acordos internacionais podem melhorar as expectativas de médio prazo para o setor.
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