Inadimplência, provisões e crédito
08 Abril 2016 - 7:24PM
ADVFN News
Recuo do consumo, juros altos, contração do crédito tanto
interno quanto externo e a instabilidade internacional são alguns
dos fatores que afetam os resultados das companhias. Conforme
levantamento da Sabe Consultoria, mesmo com um aumento de 13% nas
receitas em 2015 ante o ano anterior, o resultado líquido do
conjunto das 308 empresas listadas na BM&F Bovespa (BOV:BVMF3)
ficou negativo em R$ 66 bilhões no ano passado, o que anulou todo o
lucro obtido em 2014. A margem líquida saiu de 7,58% no ano de 2014
para -6,71%. Os dez maiores prejuízos vieram de Vale (BOV:VALE3
e BOV:VALE5),
Petrobras (BOV:PETR3
e
BOV:PETR4), Eletrobras (BOV:ELET3
e
BOV:ELET6), BNDESPAR, Oi (BOV:OIBR3
e BOV:OIBR4),
Gerdau (BOV:GGBR3
e
BOV:GGBR4), Gol (BOV:GOLL4),
Usiminas (BOV:USIM5),
PDG Realt (BOV:PDGR3)
e Bradespar (BOV:BRAP3
e
BOV:BRAP4), que somaram R$ 131 bilhões.
Não há expectativa de reversão do quadro no médio prazo. As
projeções são de nova queda do PIB. Segundo o relatório Focus, do
Banco Central, será de 3,73% neste ano, embora muitos economistas
acreditam em um recuo acima dos 4%. “Para as companhias abertas, a
mediana e as principais medidas de distribuição dos indicadores de
rentabilidade e capacidade de pagamento apresentaram deterioração
relevante durante 2015, causada pela queda de lucros e aumento das
despesas financeiras e do endividamento líquido, ante a relativa
estabilidade da geração operacional de caixa das empresas”, explica
o Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado nesta
quinta-feira pelo BC.
A piora do cenário e a falta de caixa levam empresas a
renegociar suas dívidas. De 2014 para 2015, o volume de crédito
renegociado nos cinco maiores bancos brasileiros cresceu 11,6%,
atingindo R$ 67,3 bilhões. Luiz Guilherme Dias, diretor da Sabe,
considera que, a isso, se somarão demissões e venda de ativos para
evitar a recuperações judiciais. “Com tendência de inadimplência
crescente, os bancos deverão elevar seus provisionamentos para
devedores”, acrescenta. Dívidas com atrasos superiores a 90 dias
registraram crescimento de 47% em 14 meses, (dezembro de 2014 a
fevereiro último). Já o provisionamento dos bancos contra os
calotes atingiu recorde em 2015, indo a R$ 68,8 bilhões.
Mesmo assim, os bancos demonstraram lucratividade crescente.
Somados, os lucros dos dezesseis principais com ações listadas
na BM&FBOVESPA chegam a R$ 67,7 bilhões, 30% a mais que 2014,
conforme dados da Sabe. Tal resultado não deve se repetir em
2016. Na avaliação do BC, a inadimplência mais elevada implicará em
maiores despesas com provisões, acarretando queda das margens
líquidas de intermediação e crédito, o que pressionará a
rentabilidade do sistema, especialmente dos bancos públicos, que
têm maior proporção de linhas de crédito de menor margem. Ao mesmo
tempo, a perspectiva de baixo crescimento das concessões continuará
contraindo a participação do crédito no resultado dos bancos. Com
isso, as receitas de serviços, seguros e cartões devem ganhar
importância nos lucros líquidos das instituições.
Os bancos preservam a cautela na concessão de crédito,
renegociando e reestruturando as dívidas dos tomadores e, no caso
dos privados, aumentando de modo significativo a cobertura de
provisões para a inadimplência, concomitante à ativação de créditos
tributários. Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira, a
pré-inadimplência das empresas, que constitui indicador
antecedente da inadimplência, subiu ao longo dos últimos seis meses
de 2015. O maior valor histórico da série ocorreu em outubro
de 2015: 5,04%. Tal crescimento indica provável aumento da
inadimplência no próximo semestre e continuidade do ciclo de
renegociações de créditos.
Aumento de provisionamento por parte dos bancos somado à
inadimplência crescente e à necessidade de caixa do lado das
empresas devem levar o governo a pensar medidas para ampliar a
oferta de crédito, de forma a conter uma quebradeira. Uma das
possibilidades é liberar os compulsórios, para os bancos aumentarem
o volume de crédito, compensando, em parte, o crescimento dos
provisionamentos. Esta medida, entretanto, depende do Banco
Central. O Ministério da Fazenda estuda elevar o limite de
faturamento (de R$ 120 mil ao ano para R$ 360 mil) que habilita as
empresas a obterem recursos do programa de microcrédito voltado
para micro e pequenas empresas. No entanto, em meio ao processo de
impeachment, dificilmente um pacote econômico sairá do forno num
futuro próximo.
Ana Borges é diretora da Compliance Comunicação
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