Falta de carros novos gera crise para locadoras
22 Abril 2021 - 8:16AM
ADVFN News
As locadoras de veículos vivem um ano mais difícil do que
imaginavam. Diante dos atrasos nas entregas das montadoras, a
receita de vendas de seminovos deve cair nos próximos meses, com os
custos de manutenção crescendo em paralelo, por causa do aumento da
idade da frota.
Para preservar caixa, as locadoras têm aplicado reajustes até em
contratos de longo prazo, segundo apurou o Estadão/Broadcast, mas a
sustentabilidade dessa política de preços deve ser limitada.
Desde o ano passado, a indústria automotiva vem enfrentando
problemas de falta de peças devido à severidade da pandemia de
covid-19. Como consequência, as montadoras têm atrasado as entregas
de pedidos no varejo e também no atacado (frotistas), ocasionando
relevante alta dos preços dos veículos novos no mercado. Segundo a
plataforma de precificação de veículos Checkprice, o preço médio do
carro zero-quilômetro subiu de 20% a 25% em 2021.
Por ora, as locadoras vêm se beneficiando desses aumentos,
porque, quando o preço do carro novo sobe, os usados também se
valorizam. Em relatório do Bradesco BBI na última sexta-feira, os
analistas Victor Mizusaki e Pedro Fontana destacaram as “altas
margens” das locadoras no negócio de seminovos, que devem
“sustentar o crescimento no primeiro trimestre”.
No entanto, eles alertaram para a queda nas vendas de seminovos
diante da ruptura na indústria automotiva. Sem poder comprar
carros, as locadoras não conseguem renovar frota. Além da perda de
margens com a venda de seminovos, os custos com manutenção crescem
de maneira significativa.
“As locadoras já estão trabalhando com a estabilização das
entregas das montadoras somente para o último trimestre deste ano
ou até no início de 2022”, afirma uma fonte da cadeia, que prefere
não ser identificada.
Neste cenário, as locadoras vêm se preparando para um ano
difícil. No início do mês, a Localiza anunciou uma emissão de
debêntures no valor de R$ 1,2 bilhão, recursos que segundo a
empresa deverão ser destinados à recomposição de caixa. Em
fevereiro deste ano, a Unidas aprovou uma emissão de R$ 450 milhões
em debêntures também para reforço de caixa.
Pedidos suspensos
No fim de março, a Associação Brasileira das Locadoras de
Automóveis (ABLA) informou que as encomendas atrasadas na indústria
automotiva somam cerca de 100 mil unidades. Os atrasos podem
ultrapassar 180 dias, e montadoras como a Volkswagen chegaram a
suspender temporariamente novos pedidos de frotistas.
Para enfrentar um período de pressão, as locadoras estão
reajustando até os contratos de longo prazo para pessoas físicas
(também conhecidos como “carro por assinatura”) e de terceirização
de frota. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, as empresas têm
aplicado cláusulas de reajustes no meio do período de vigência dos
contratos em razão da inflação no setor, o que historicamente não
acontecia. “As locadoras estão fazendo o possível para preservar o
caixa neste ano, mas os reajustes têm um limite de aplicação porque
o cliente só vai absorver o que ele puder”, diz uma fonte ligada às
montadoras.
Em nota, a Localiza informa que “não houve mudança no modelo de
precificação da companhia” e que os contratos de longo prazo, tanto
para pessoas físicas quanto para empresas, “são feitos de acordo
com condições específicas, desenhadas em função das demandas e
necessidades de mobilidade dos clientes, incluindo quilometragem
rodada e prazo que normalmente varia entre 24 e 48 meses”.
A empresa acrescenta ainda que “os preços de aluguéis para novas
contratações podem variar de acordo com as condições de compra e
venda de cada carro e cenário econômico, em especial taxas de juros
futuros.”
Locação direta por montadoras amplia problemas do
setor
A pressão sobre as locadoras também cresce por um fenômeno
recente: a entrada das montadoras no negócio de locação.
Volkswagen, Fiat, Jeep, Toyota e Caoa Chery passaram a oferecer
carros por assinatura e gestão de frotas para empresas. Além de
brigar por fatias de mercado, as montadoras vão ter mais poder de
barganha para negociar com frotistas.
A relação de interdependência entre os dois setores teve
momentos de vantagem para as locadoras, que historicamente
mantiveram ajudaram a ampliar a escala de produção das montadoras,
e de aumento de poder de barganha para a indústria. O presidente da
Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo
Miguel Jr., afirmou no mês passado que os reajustes para as
locadoras chegaram a 30% em 2020.
“É difícil negociar quando a montadora está com toda a produção
vendida. Nós vamos continuar brigando para manter os descontos, mas
este vai ser um ano de desafios”, disse ele, em entrevista recente
ao Estadão/Broadcast.
O consultor Milad Kalume Neto, da Jato Dynamics, diz que, em um
cenário de restrições da produção, as montadoras terão de
equilibrar as vendas para as locadoras e para seus braços de
locação: “As montadoras devem praticar descontos menores.”
Empresas do setor negociadas na B3: (BOV:MOVI3), (BOV:RENT3) e
(BOV:LCAM3)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
LOCALIZA ON (BOV:RENT3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
LOCALIZA ON (BOV:RENT3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024