Petrobras: indicado para assumir comando da estatal não cumpre pelo menos dois requisitos básicos para ocupar o cargo
25 Maio 2022 - 10:14AM
ADVFN News
Indicado para assumir o comando da Petrobras, o secretário
Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do
Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade, não cumpre pelo menos
dois requisitos básicos para ocupar o cargo, segundo especialistas
em governança ouvidos pelo Broadcast. Para assumir o comando da
estatal (BOV:PETR3) (BOV:PETR4), Paes de Andrade terá que passar
primeiro pelo crivo do Comitê de Elegibilidade (Celeg) da estatal e
por uma Assembleia Geral Extraordinária, processo que deve levar
cerca de 45 dias.
“O Comitê vai dizer não porque ele não tem nenhuma experiência
no setor de petróleo e abre uma brecha para contestação dos
(acionistas) minoritários.
Se o Comitê diz que não é capaz, como aceitar?”, indaga o
especialista em governança Renato Chaves, que já ocupou a diretoria
de participações do fundo de pensão do Banco do Brasil (Previ). Ele
lembra, porém, que o órgão é apenas consultivo e que o conselho de
administração tem o poder de aprovar o nome do presidente mesmo que
a análise do comitê seja negativa.
Por outro lado, os minoritários que se sentirem lesados podem
entrar com queixa na Comissão de Valores Mobiliários(CVM) contra a
eleição de Paes de Andrade. Pelo Estatuto da estatal, o cargo de
presidente exige comprovada experiência no setor de petróleo e gás
e que tenha estado pelo menos10 anos de experiência na mesma área
de atuação da empresa pública ou em área conexa; ou quatro anos na
chefia em empresa de porte equivalente, cargo em comissão ou de
confiança no setor público; ou cargo de docente ou de pesquisador
em áreas de atuação da estatal para a qual foi nomeado.
O mais perto que o indicado passou do setor é a vaga que ocupa
no Conselho de Administração da Pré-sal Petróleo (PPSA), onde está
há apenas 1 ano e cinco meses. Até mesmo o vice-presidente da
República, Hamilton Mourão, já admitiu, em abril, que o executivo
não tinha experiência no setor. À época, Mourão disse que a
indicação de Paes de Andrade foi descartada porque poderia “dar
problema”, e que era a mesma coisa de indicar um advogado para
comandar o Exército. Mas ontem o vice-presidente mudou o discurso,
ao dizer que o executivo “é um cara competente”.
O nome de Paes de Andrade já havia sido especulado quando o
presidente Jair Bolsonaro demitiu o general Joaquim Silva e Luna e
tentou emplacar o economista Adriano Pires, que teve o nome vetado
pelo Comitê sob o argumento de conflito de interesses. Pires não
quis abrir mão de sua consultoria, que presta serviços para várias
empresas que se relacionam com a Petrobras.
Na mesma época, o órgão também não indicou a aprovação do nome
do presidente do Flamengo, Rodolfo Landin, para a presidência do
conselho de administração da estatal. O caso chegou a parar na
Controladoria Geral da União (CGU), mas os dois executivos
desistiram dos cargos, o que encerrou as discussões.
Currículo
Formado em Comunicação Social, Paes de Andrade tem pós-graduação
em Administração e Gestão pela Harvard University e é mestre em
Administração de Empresas pela Duke University. No ano 2000, fundou
a Web Force Ventures, responsável pelo desenvolvimento de mais de
30 startups. É fundador e conselheiro do Instituto Fazer Acontecer
e em 2019 passou da iniciativa privadapara a área pública. Foi
presidente do Serpro e depois passou a fazer parte do Ministério da
Economia. No Serpro, única empresa de porte maior que dirigiu,
ficou de fevereiro de 2019 até agosto de 2020, o que não preenche
os 10 anos exigidos pela empresa.
“Com esse currículo, se a Petrobras levar as regras ao pé da
letra, ele não passa nem pela portaria”, disse um ex-executivo que
já passou pelo comando da petroleira. Já para o advogado Leonardo
Pietro Antonelli, que integrou o Conselho de Administração da
Petrobras entre 2020 e 2021 e hoje representa acionistas
minoritários, a União não deve enfrentar dificuldade para emplacar
o nome de Caio Paes de Andrade. Isso porque o governo tem maioria –
seis de 11 cadeiras – no Conselho de Administração.
Além disso, ressalta, assim como avaliou Chaves, o parecer do
Comitê de Elegibilidade é apenas consultivo, e o histórico de
indicações é favorável. “Ainda não estudei a fundo o currículo do
indicado da União, mas acredito que seja até mais aderente (ao
cargo) que o de indicados anteriores. Fora isso, quem elege o
presidente é o conselho e a União sempre vai ter seis cadeiras,
podendo fazer o presidente. Por esse fundamento, não haverá
problemas”, diz Antonelli.
Apesar de especialistas acreditarem que o currículo de Paes de
Andrade não cumpre as exigências legais para a indicação exigida na
lei das Estatais ou no regramento da própria estatal, uma fonte
lembra que a situação do executivo seria melhor do que outras já
aprovadas. Para a fonte, situação de Paes de Andrade, cujo
currículo tem afinidade com a administração de empresas, viria em
condições mais satisfatórias que a do penúltimo presidente da
estatal, o general da reserva Joaquim Silva e Luna.
“A passagem por Itaipu Binacional não era suficiente na letra do
regramento e uma posição de liderança no comando de tropas não
deveria habilitar ninguém a presidir a sexta maior empresa de óleo
e gás do mundo”, afirma a fonte.
Informações Broadcast
PETROBRAS ON (BOV:PETR3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Jun 2022 até Jul 2022
PETROBRAS ON (BOV:PETR3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Jul 2021 até Jul 2022