O Banco do Brasil (BB) estrutura uma nova fonte de captação de
recursos no exterior para financiar o agronegócio, do qual é líder
no País, com uma carteira de R$ 262 bilhões. O objetivo é criar uma
linha permanente, com viés ESG, que compreende questões ambientais,
sociais e de governança, com custo menor e que, aos poucos, poderia
ajudar o setor a diminuir a dependência dos cofres públicos no
Brasil.
O tema foi levado pelo BB (BOV:BBAS3) às conversas com bancos
americanos e europeus e que ocorreram às margens das reuniões
anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI), na semana passada,
em Washington, nos Estados Unidos. De acordo com o presidente do
banco, Fausto Ribeiro, a operação foi apresentada a mais de 20
instituições financeiras do exterior, que demonstraram interesse
pelo modelo proposto.
Atualmente, não há uma estrutura como essa. Estão disponíveis
apenas emissões de dívida externa voltadas às empresas como, por
exemplo, os chamados green bonds, no jargão do mercado. Na prática,
o que a gestão de Ribeiro trabalha é a estruturação de uma nova
linha externa de captação de recursos por parte do BB para
direcionar recursos de forma permanente ao setor de agronegócios no
Brasil.
O modelo final ainda não está fechado, mas o conceito é parecido
com o do mercado de securitização. A operação teria risco de
crédito do BB e ativos de sua carteira dados como colateral, ou
seja, em garantia, no intuito de dar mais segurança ao investidor,
em troca de um custo menor. Além disso, a expectativa é conseguir
uma espécie de prêmio, isto é, uma taxa final menor para a captação
de recursos justamente por conta da adoção de práticas ESG por
parte dos tomadores de crédito. O prazo previsto é de um ano, que é
exatamente o ciclo máximo de operação do agronegócio no Brasil.
Para viabilizar a nova fonte, porém, o BB terá de conseguir
atrair investidores estrangeiros dispostos a receber menos. São
eles quem devem financiar o agronegócio no País, na visão do
presidente do BB. Ele admite que, no começo, talvez, os
investidores não estejam tão abertos a dar um “prêmio alto”, apesar
do perfil ESG da operação, mas defende um trabalho a ser feito para
o mercado reconhecer as boas práticas em troca de uma nova e
permanente fonte de recursos ao agronegócio.
“O que queremos criar é uma opção de captação constante para o
agronegócio, baseada em boas práticas ESG, com risco de crédito do
BB, colateral e, com isso, conseguiremos um baixo spread”, disse
Ribeiro, em entrevista exclusiva ao Broadcast, no escritório do
banco, em Nova York.
Na safra 22/23, iniciada em julho último, o BB espera emprestar
R$ 200 bilhões em crédito rural. Desses, em torno de R$ 47 bilhões
equivalem a financiamentos com taxas equalizadas pelo governo
federal. É justamente neste montante que o presidente do BB quer
atuar.
Segundo Ribeiro, o banco pode começar com operações pequenas, de
R$ 10 bilhões, R$ 30 bilhões, e um desconto menor à remuneração dos
investidores, que poderia ser de 0,25 ou 0,50 ponto porcentual. Ao
longo do tempo, esse “prêmio” ao agro responsável poderia crescer e
viabilizar uma fonte de recursos que não seja dependente de taxas
subsidiadas pelo Tesouro Nacional, explicou.
“Se conseguirmos fazer um negócio desse, a gente traz a nossa
agricultura para o lado bom da força”, avaliou Ribeiro. “Os
agricultores que estiverem usando boas práticas serão protagonistas
e deixarão de ser vilões. Temos excelentes práticas no segmento”,
acrescentou.
Questionado se o projeto não correria risco de naufragar por
conta das eleições presidenciais, Ribeiro disse que deixará o
projeto pronto independente do resultado das urnas, no dia 30 de
outubro. Isso porque em uma eventual vitória do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, é esperada a troca da equipe econômica, o que
inclui o comando dos bancos públicos no Brasil.
“Eu vou deixar essa agenda pronta. O importante é sairmos de
recursos públicos para financiar o setor de agronegócios”, afirmou
Ribeiro.
De acordo com ele, se não for estruturada uma linha de captação
de recursos alternativa, o agronegócio ficará sempre dependente do
governo. Um dia, defendeu, isso tem de acabar. “Subsídio ao agro
não tem de sair dos cofres do governo. Se temos boas práticas, quem
tem de pagar a conta são os investidores estrangeiros, que cobram o
País disso”, reforça o presidente do banco público.
Em paralelo, o BB prepara uma parceria com o alemão KwF, também
para obter recursos para uma agenda sustentável no País, conforme
antecipou o Broadcast, na semana passada. Nesse sentido, uma
primeira captação externa de 80 milhões de euros, cerca de R$ 400
milhões, já está sendo estruturada e visa a financiar projetos de
recuperação de florestas no Brasil. A assinatura de um memorando de
entendimento (MoU, na sigla em inglês) ocorrerá na COP27, maior
palco para debates sobre as mudanças climáticas no mundo e que
acontece no Egito, em novembro.
Informações Broadcast
BANCO DO BRASIL ON (BOV:BBAS3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
BANCO DO BRASIL ON (BOV:BBAS3)
Gráfico Histórico do Ativo
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