Bancos aumentam pressão sobre Americanas depois que carta de acionistas é divulgada
25 Janeiro 2023 - 09:24AM
ADVFN News
Os bancos aumentaram a pressão sobre a Americanas depois que uma
carta divulgada pelos acionistas de referência da varejista – o
trio Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles –
foi interpretada como uma tentativa de responsabilizar os próprios
credores pelos problemas contábeis da empresa.
No domingo, 22, Lemann, Sicupira e Telles emitiram uma nota
pública em que se posicionaram pela primeira vez desde o começo da
crise. Um trecho em particular incomodou os bancos: o que sugere
que as instituições não teriam se atentando ao rombo contábil, ou
seja, teriam parte da culpa. “Ela (a auditoria PwC), por sua vez,
fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para
confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes
externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a
empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais
denunciaram qualquer irregularidade”, afirmou o trio.
A resposta dos bancos veio nesta terça, 24. Em nota, o Itaú
Unibanco (BOV:ITUB3) (BOV:ITUB4) disse que as chamadas cartas de
circularização, que são encaminhadas pelos auditores que aprovavam
as demonstrações financeiras da companhia, são apenas um
instrumento de apoio às auditorias na verificação de informações
contábeis fornecidas pelas companhias. Além disso, disse que é
“leviana” a tentativa de atribuir aos bancos responsabilidades
sobre práticas irregulares de empresas.
“O Itaú Unibanco esclarece que a elaboração e aprovação das
demonstrações financeiras que espelhem a realidade da companhia são
responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa,
incluindo sua diretoria e seu conselho, e sem nenhuma influência
dos bancos ou outros credores”, disse o banco,
Também em nota, o Bradesco (BOV:BBDC3) (BOV:BBDC4) repetiu o
argumento. “Não compactuamos com alegações que buscam criar
narrativas para atribuir aos bancos qualquer responsabilidade sobre
as práticas contábeis irregulares da empresa e, assim, desviar a
atenção do problema central, ou seja, a falta de consistência dos
números das demonstrações financeiras e as responsabilidades dos
seus dirigentes sobre tal fato”, afirmou.
A instituição disse ainda que a governança contábil das empresas
é de responsabilidade exclusiva de seus administradores, o que
inclui o conselho de administração. “O Bradesco cumpre
rigorosamente as diretrizes normativas e atua de acordo com as
melhores práticas de mercado.”
Justiça
Em outra frente, os bancos tentam derrubar decisão da Justiça do
Rio que aceitou o pedido de recuperação judicial feito pela
Americanas. Em dois documentos de ontem, o Santander pede à Justiça
a suspensão do processo e alega que a Justiça do Rio não seria o
foro apropriado para julgar o caso – que deveria transcorrer em São
Paulo, onde a maior parte das decisões da rede é tomada.
A crise nas Americanas se tornou pública na semana passada,
depois que o ex-CEO Sergio Rial – que estava no cargo havia pouco
menos de 10 dias – divulgou “inconsistências” nos balanços dos
últimos anos. Pressionados pelos credores, que cobravam a
capitalização da empresa, os acionistas da Americanas recorreram à
Justiça do Rio com o argumento de que a sede do grupo está na
cidade. A Americanas tem uma dívida declarada de R$ 43 bilhões.
O Santander (BOV:SANB11) também pede que a Justiça ouça os
depoimentos de membros do conselho de administração da varejista e
dos ex-CEOs Miguel Gutierrez e Sérgio Rial. O mesmo pedido inclui
Sicupira e Paulo Alberto Lemann, representante de Lemann no
conselho. Até a conclusão desta edição, a Justiça ainda não havia
se manifestado.
O Safra, que tem R$ 2 bilhões em linhas de crédito com a
varejista, também recorreu à Justiça questionando os termos da
recuperação. O banco alegou que seria necessária uma perícia mais
detalhada para saber as condições reais da Americanas e que a
companhia não apresentou os três últimos balanços – um dos
requisitos em um processo de recuperação judicial.
Neste caso, porém, o pedido acabou sendo negado ontem pela
desembargadora Leila Santos Lopes, que barrou ainda pedido do Safra
para não ter de devolver R$ 95 milhões da companhia mantidos em
contas no banco, e que haviam sido retidos para fazer frente à
liquidação de dívidas da empresa.
Em outra decisão favorável à varejista, o Tribunal de Justiça do
Rio suspendeu o bloqueio de R$ 1,2 bilhão feito pelo BTG Pactual
(BOV:BPAC11) em recursos da Americanas. O desembargador Flávio
Marcelo de Azevedo Horta Fernandes, da 2.ª Câmara Criminal, decidiu
que deve ser feita a reversão dos valores à ação de recuperação
judicial. Ele determina que esses valores serão utilizados somente
“para a atividade fim e sob direta gestão dos administradores
judiciais até o julgamento do mérito do mandado de segurança”.
Procurados pelo Estadão, nem os bancos nem a empresa falaram
sobre o caso até a publicação deste texto.
Informações Broadcast
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