O Bradesco encerrou o primeiro trimestre deste ano com lucro
líquido recorrente de R$ 4,280 bilhões, de acordo com balanço. O
resultado é 37,3% menor que o do mesmo intervalo do ano passado,
mas ficou 168,3% acima do registrado no quarto trimestre de
2022.
No comparativo anual, o segundo maior banco privado do País
observou uma queda nas margens, fruto dos resultados negativos da
tesouraria, ao mesmo tempo em que revisou as políticas de crédito
para originar um volume maior de operações em produtos de menor
risco.
Por outro lado, em três meses, houve uma redução nas despesas do
banco com provisões contra a inadimplência. No resultado do quarto
trimestre de 2022, informado em fevereiro deste ano, o Bradesco
reconheceu provisões equivalentes a 100% de sua exposição à
Americanas, que entrou em recuperação judicial em janeiro.
No balanço divulgado hoje, esse efeito não está presente. Por
isso, as provisões caíram 36% no comparativo trimestral, para R$
9,517 bilhões.
A margem financeira do Bradesco foi de R$ 16,653 bilhões, baixa
de 2,4% em um ano, e de 0,1% em um trimestre. O banco afirma que a
margem com clientes teve desempenho positivo, mas que a tesouraria
continua a sofrer os efeitos da alta da Selic.
Na margem com clientes, que reflete o ganho do banco em
operações de crédito, entre outras, houve alta de 7,3% no
comparativo anual, para R$ 16,965 bilhões. De acordo com o
Bradesco, o mix de produtos mais rentável ajudou a impulsionar os
números. Ao todo, a taxa média subiu 0,2 ponto porcentual, para
9,9%.
Na Tesouraria, o banco teve perda de R$ 312 milhões, resultado
que reverte o ganho de R$ 1,243 bilhão observado no mesmo período
do ano passado. Por outro lado, é um resultado 61,1% melhor que o
do quarto trimestre do ano passado, graças à melhoria dos
resultados na gestão de ativos e passivos.
“A margem com clientes apresentou crescimento de 7,3% em relação
ao primeiro trimestre de 2022, refletindo o aumento da carteira, a
diversificação do mix de produtos e o desempenho positivo dos juros
na margem de captação”, afirma o banco no balanço.
“Na margem de crédito, essa dinâmica não se repete na comparação
com o quarto trimestre de 2022 devido às ações de revisão das
políticas de crédito e o maior rigor nos modelos de concessão, que
visam a melhora do perfil de risco da carteira e, como
consequência, tem produzido efeitos nos volumes e spreads de
originação, bem como no mix da carteira”, prossegue o Bradesco.
No final de março, os ativos do Bradesco somavam R$ 1,864
trilhão, crescimento de 8,1% no comparativo anual, e de 1,8% em
três meses.
O patrimônio líquido do banco somava R$ 155,321 bilhões, alta de
2,8% em um ano. Como resultado, o retorno sobre o patrimônio
líquido do Bradesco no primeiro trimestre foi de 10,6%, baixa de
7,4 pontos porcentuais em um ano, mas uma alta de 6,7 p.p. em um
trimestre.
Os resultados da Bradesco (BOV:BBDC3)
(BOV:BBDC4)
referentes suas operações do primeiro trimestre de 2023 foram
divulgados no dia 04/05/2023.
Teleconferência
O Bradesco espera um resultado de segundo trimestre ainda
pressionado pela linha de provisões para perdas com crédito, mas
espera um desempenho melhor no segundo semestre, cumprindo as
estimativas do banco até o final do ano, afirmou o
presidente-executivo, Octavio de Lazari Junior, em conferência com
jornalistas.
Segundo o executivo, o banco espera uma retomada “gradual” da
rentabilidade ao longo dos próximos trimestres.
Lazari afirmou ainda que o Bradesco segue cauteloso sobre o
crescimento do crédito no atual contexto macroecônomico, mas que o
banco já está vendo melhora na qualidade da carteira.
Os resultados do Bradesco no primeiro trimestre de 2023 (1T23)
mostraram evolução em algumas linhas do balanço, como o lucro acima
do esperado, mas ainda assim dividiram analistas e o mercado, que
tiveram uma reação morna aos números.
O banco teve lucro líquido recorrente de R$ 4,28 bilhões no
primeiro trimestre de 2023, queda de 37,3% ante o mesmo período do
ano passado, mas acima do que esperavam analistas, com projeções de
R$ 3,6 bilhões em média, segundo consenso Refinitiv.
A rentabilidade sobre o patrimônio líquido (ROE), que mede como
um banco remunera o capital de seus acionistas, ficou em 10,6% no
início deste ano, recuperação após desabar a 3,9% no quarto
trimestre, mas ainda abaixo dos 18% alcançados um ano antes.
Neste sentido, em teleconferência de resultados, Octavio De
Lazari Júnior, CEO do banco, destacou: “Queremos entregar retornos
compatíveis com o que entregávamos anteriormente”.
Ele apontou ainda que a melhora do desempenho será gradual.
“Vemos os resultados evoluindo ao longo de 2023”, afirmou.
Lazari Junior repetiu o discurso do texto que acompanhou o
balanço do banco, de que, em um momento como atual, é natural que
pessoas físicas e pequenas e médias empresas sofram mais. O
Bradesco reforçou sua postura restritiva na concessão de crédito
massificado mas diz que as oportunidades no varejo são enormes. “Só
precisamos ajustar nossa estrutura a um custo de servir
rentável”.
O executivo ainda apontou que o banco está transformando
agências, não fechando. “São pontos de venda com custos fixos muito
menores e muito mais focadas em prestar consultoria aos clientes e
fazer negócios”, explicou o CEO. Essas estruturas, segundo eles,
são semelhantes às agências, mas sem caixas eletrônicos. Ainda
apontou que está havendo uma expansão da sua rede de agentes
bancários.
Carteira de crédito
Sobre a carteira de crédito do Bradesco, que reduziu em 1,4% no
primeiro trimestre de 2023 comparando com o final do ano passado, o
CEO avaliou que a contração veio principalmente de pessoa jurídica,
com os juros altos reduzindo a demanda de médias e grandes
empresas.
As empresas estão em compasso de espera para tomar crédito,
avalia, apontando que elas só estão usando as linhas para capital
de giro momentâneo. “Com relação a outras finalidades, de prazos
mais alongados, como investimentos, há um sentimento de empresas
que é preciso esperar mais um pouco”, afirmou.
As pequenas e médias empresas e pessoa física, por sua vez,
foram impactados pela cautela na concessão de empréstimos.
Para o executivo, os índices de inadimplência ainda vão piorar
no segundo trimestre deste e talvez no terceiro. “Mas todos os
sinais mostram recuperação. As novas safras de crédito têm níveis
de inadimplência menor”, afirmou na teleconferência.
Sobre a carteira de crédito, ele ainda reforçou que 95% da
composição de novas carteiras são formadas por clientes de melhor
“rating”. Segundo Lazari, essa é uma indicação de como essas
carteiras devem se comportar ao longo de 2023. “Já vemos sinais
positivos de uma inadimplência muito mais controlada”, afirmou.
O CEO apontou que o banco busca o equilíbrio na ampliação de
receitas com juros, emprestando para o cliente com melhor “rating”,
mas reconhece que há menos espaço hoje para acelerar concessões no
segmento de menor risco. Para ele, haverá maior procura por crédito
nos trimestres a frente.
Na teleconferência, o banco ainda apontou que a margem com o
mercado tende a ficar positiva ainda este ano. Os executivos do
banco chamam atenção para a melhora gradual das receitas com
mercado do Bradesco, que seguiram em terreno negativo no primeiro
trimestre de 2023. A expectativa é que a margem fique positiva no
acumulado do ano e até mesmo no do segundo semestre.
VISÃO DO MERCADO
Credit Suisse
Outro pessimista, e com recomendação undeperform para os ativos
é o Credit Suisse, que destaca uma piora acima do esperado da
qualidade dos ativos do primeiro trimestre, também apontando alta
da inadimplência e queda do índice de cobertura.
“Embora reconheçamos que o modelo de provisionamento de perda
esperada possa ter antecipado parte das provisões, a qualidade dos
ativos pior do que o esperado pode sustentar um nível de
provisionamento elevado por mais tempo. O crescimento dos
empréstimos ano/ano ficou abaixo do guidance, ante um apetite
reduzido, além de uma postura mais cautelosa no atacado”, avaliam
os analistas do banco suíço.
Genial Investimentos
Em uma linha parecida, a Genial Investimentos destaca que o
Bradesco registrou resultado abaixo do seu potencial, mas em
recuperação.
“Apesar do lucro superior às nossas projeções, o resultado ainda
se encontra em patamares bem inferiores ao que acreditamos ser um
lucro mais normalizado do Bradesco. O lucro de R$ 4,3 bilhões foi
37% menor que o 1T22 e a rentabilidade (ROE) foi bem abaixo de
alguns rivais. As provisões seguem elevadas, carteira de crédito
contraiu 2,2% no trimestre e a margem financeira enfraqueceu 2,4%
na base anual. Do lado positivo, vemos avanços numa gradual
recuperação de rentabilidade que deve ajudar no crescimento de
lucro, principalmente à partir do segundo semestre de 2023”,
avaliam os analistas da casa.
Das maiores preocupações que a Genial tinha (tesouraria
negativa, custo de crédito crescente e eficiência/digitalização),
pelo menos o resultado de tesouraria melhorou significativamente e
o banco já sinaliza que pode ficar positivo no segundo semestre de
2023, avalia a casa.
Outro destaque positivo continuou sendo a unidade de Seguros com
um ROE de 18% e crescimento de lucro de R$ 1,77 bilhão, aumento de
10% ao ano.
“No momento, reiteramos nossa recomendação de manter [as ações]
com preço alvo de R$ 15,10. Apesar da gradual melhora em sua
rentabilidade e múltiplos considerados atrativos, preferimos bancos
como Itaú e Banco do Brasil que foram melhor nesse ciclo de
crédito, conseguindo entregar um melhor retorno com ROE próximo de
20% e também negociando a valuation atrativo”, avalia.
Itaú BBA
Também para o Itaú BBA, os números reportados pelo banco na
véspera foram negativos. “O lucro líquido do Bradesco no 1T23 de R$
4,3 bilhões ante o consenso de R$ 3,5 bilhões não é algo que os
mercados devam receber bem, em nossa opinião”, avaliam os
analistas.
“As despesas de provisões abaixo do esperado, de R$ 9,5 bilhões,
causaram toda a surpresa. A parte dissonante é que todas as
métricas aparentes de qualidade de crédito se deterioraram
significativamente. Despesas com provisões ficaram R$ 2,5 bilhões
abaixo do ritmo do NPL formation (ou “evolução da inadimplência”,
que sinaliza como a qualidade do crédito está evoluindo)”, avaliam
os analistas do banco. Assim, destacam a queda do índice de
cobertura para 182%, devido ao consumo das provisões previstas.
Outros elementos do trimestre também foram fracos. As receitas
totais caíram cerca de 4% no trimestre, com a carteira de
empréstimos caindo 1% e as NIIs dos clientes em baixa de 3%. Os
seguros ainda lutam com sinistros e despesas, enquanto as receitas
de serviços ficaram 3% abaixo das previsões.
Para o BBA, os poucos pontos positivos foram uma menor perda nos
resultados de tesouraria e despesas operacionais bem contidas.
“No geral, os resultados do 1T23 trazem risco negativo para as
estimativas de 2023, em nossa opinião, apesar do guidance
inalterado do banco. As receitas e despesas com provisões seguirão
pressionadas”, avaliam os analistas da casa, que possuem
recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado,
equivalente à venda) para as ações BBDC4.
JP Morgan
O JPMorgan, por sua vez, avalia que este não foi um bom
trimestre, mas com algumas tendências de melhora.
“Não é segredo que o Bradesco se tornou uma das poucas histórias
de investimento muito debatidas no Brasil nos últimos tempos.
Diferentemente do Itaú (ITUB4) e do BTG Pactual (BPAC11), em que
vemos investidores majoritariamente comprados, no Bradesco vemos
fortes opiniões de ambos os lados”.
Este trimestre não será diferente, avalia, com o lucro bem à
frente dos R$ 3,315 milhões esperados pelo JP e do consenso da
Bloomberg de R$ 3,692 bilhões (11 estimativas).
Os analistas do banco trazem dois lados sobre os resultados. “Os
pessimistas argumentarão que o aumento da inadimplência foi
substancial e que a formação de novos NPLs foi de aproximadamente
R$ 12 bilhões, acima dos R$ 10 bilhões provisionados no trimestre,
reduzindo o índice de cobertura e ajudando o lucro”, avaliam. Já os
otimistas dirão que a tendência está melhorando para a
instituição.
O JPMorgan lembra que, notavelmente, o lucro do 4T22 ficou
abaixo das estimativas em mais de 50% e levou a um ROE (Retorno
sobre o Patrimônio Líquido) de 4%, enquanto neste trimestre o
Bradesco superou a projeção do JP e o ROE subiu para 10,6%. Os
empréstimos subiram 5% ao ano, suportados por pessoas físicas, em
alta anual de 10%, com destaque para os cartões de crédito que
ainda subiram 22% ano a ano.
O NII ficou praticamente estável no trimestre e 1% abaixo do
esperado pelo JP, com s perdas de tesouraria começando a melhorar.
O lucro antes de juros (Ebt) superou a projeção do JP em 19% e os
impostos mais baixos levaram a um número superando as projeções
ainda mais, em 29%.
“No geral, um trimestre não de qualidade, mas menos preocupante
do que o 4T22”, resume o JPMorgan, que segue com recomendação
overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à
compra) para os ativos do banco.
Morgan Stanley
O Morgan Stanley, mais otimista, avalia que os resultados do
Bradesco vieram em linha com o consenso do lado do “sell-side”
(analistas no geral) mas, mais importante, eles provavelmente
superaram em muito as expectativas do “buy-side” (gestores). Assim,
o lucro registrado pode ser uma surpresa muito positiva.
“Especialmente em provisões para inadimplência e perdas com
empréstimos, embora ainda se deteriore no trimestre, acreditamos
que os resultados são melhores do que os pessimistas esperavam”,
avaliam os analistas, que possuem recomendação overweight para os
papéis do banco.
Assim, os números do 1º trimestre do Bradesco devem perdurar a
discussão sobre as ações. De acordo com compilação feita pela
Refinitiv, de 17 casas que cobrem os ativos BBDC4, 5 recomendam
compra, 8 recomendam manutenção e 4 recomendam venda, com
preço-alvo médio de R$ 16,54, ou potencial de alta (upside) de
17,56% em relação ao fechamento da véspera.
XP Investimentos
A XP destaca que o número representa um aumento de 16% em
relação à sua estimativa e ao consenso do mercado. No entanto,
considera que o desempenho geral do banco no trimestre foi
fraco.
A pressão sobre as provisões, o aumento da inadimplência em 80
pontos-base sequencialmente, para 5,1% (com maior deterioração no
segmento de pessoas físicas e pequenas e médias empresas) e a
redução do índice de cobertura (que representa a proporção que a
provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos
inadimplentes) foram os principais fatores que contribuíram para
essa fraqueza. Apesar das maiores provisões, a taxa de cobertura
caiu para 182,4% (baixa de 21,8 pontos percentuais na comparação
trimestral).
Enquanto isso, o lucro líquido foi impactado positivamente pela
menor alíquota efetiva de Imposto de Renda. Do lado positivo, o
receita líquida de juros (NII) com o mercado melhorou e o segmento
de seguros manteve seu momento positivo.
No lado do portfólio de crédito, o ritmo de crescimento
desacelerou e encerrou o trimestre abaixo do guidance para 2023.
“Dito isso, esperamos uma reação negativa para a ação e mantemos
nossa visão conservadora sobre o banco”, apontou.
* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney,
Estadão
BRADESCO ON (BOV:BBDC3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Set 2023 até Out 2023
BRADESCO ON (BOV:BBDC3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Out 2022 até Out 2023