A Unipar já está estudando “remédios” e pode se antecipar junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para ter sua oferta de R$ 10 bilhões pelo controle da petroquímica Braskem concretizada, apurou o Broadcast.

Uma das potenciais barreiras para o fechamento da proposta seria a concentração de mercado em PVC com a fusão entre ambas, que não alteraria a dinâmica do mercado brasileiro de polipropileno (PP) e polietileno (PE), alguns dos principais insumos que produzem.

Hoje, a Unipar (BOV:UNIP3) (BOV:UNIP5) (BOV:UNIP6) é líder no mercado de PVC, sendo seguida de perto pela Braskem. Não há outros competidores locais. Em termos de faturamento, porém, a operação de PVC da Unipar representa 5% e o mesmo porcentual no faturamento do Braskem.

De acordo com fonte próxima à Unipar, a venda de uma das fábricas não teria impacto relevante em seu resultado. A companhia é a maior produtora de cloro e soda do Brasil, insumo muito utilizado pelo setor de saneamento, e não haveria problemas com o Cade nestes dois produtos.

A unidade de PVC da Braskem fica em Marechal Deodoro, do lado de Maceió (Alagoas), onde há um polo industrial. Em Maceió está também a fábrica de cloro soda, que é base para a fabricação de PVC.

A Braskem consolidou o mercado desses insumos com a compra da Quattor, até então controlada pela própria Unipar, em 2010. À época, o Cade entendeu que a aquisição não seria um problema porque se tratava de um mercado global. Porém, quando a Braskem tentou comprar as fábricas da Solvay Indupa três anos depois, o Cade mudou seu entendimento e barrou a aquisição. Motivo: a Braskem ficaria com 100% do mercado de PVC e a Solvay foi parar nas mãos da Unipar.

A oferta da Unipar foi vista como inteligente por tentar tirar uma das oposições à venda: a da família Odebrecht. Pela proposta, a Novonor (como foi rebatizada a empresa) manterá 4% de participação do negócio, o que garante dividendos aos herdeiros da família. A oferta foi similar à feita pela Lyondell Basell, quando o negócio quase foi fechado, em 2019.

Como a proposta da Unipar não cobre a dívida de cerca de R$ 15 bilhões que a Novonor tem com os bancos credores, a companhia da família Odebrecht pode, eventualmente, usar os 4% como moeda, para melhorar o porcentual de recuperação de seus créditos, na visão de uma fonte.

Sem dívidas, e com receitas recordes em 2022, a Unipar não teria problema em conseguir financiar a aquisição e já mantém conversas com instituições financeiras para isso, incluindo os próprios credores da Novonor. Os bancos e a Novonor têm 30 dias para analisar a proposta da Unipar. Contatos teriam sido feitos também com a Petrobras, que divide a Braskem com a Novonor.

Líder

A Unipar, criada nos anos 40, foi por décadas a maior petroquímica do Brasil. Encolheu no fim dos anos 90 e começo dos anos 2000 por brigas familiares na sucessão do comando da companhia, que envolvia três irmãs e um irmão. Agora, tem a chance de voltar ao topo do ranking se conseguir avançar com a compra da Braskem, uma empresa que vale na Bolsa R$ 27 bilhões, quase quatro vezes mais que a Unipar e tem receitas três vezes maiores.

Casado com uma das herdeiras do grupo, Frank Geyer Abubakir conseguiu apoio de parte da família e assumiu o comando da companhia nos anos 2000. À frente da empresa, criou a Quattor, que unificava ativos petroquímicos e alguns anos depois, em 2010, foi vendida para a Braskem.

Em 2016, com o envolvimento de Geyer na Operação Lava Jato, a consultoria Estater foi chamada para reorganizar a Unipar. Seu sócio-fundador Percio de Souza entrou no comando da companhia. Abalada pelas notícias negativas, a empresa chegou a ver seu valor de mercado cair para pouco mais de R$ 300 milhões – hoje, vale R$ 7,6 bilhões, mas chegou a R$ 10 bilhões há alguns anos.

Na gestão da Estater, a Unipar comprou a Solvay Indupa e marcou a entrada do grupo no PVC. Uma das estratégias em seguida seria fechar o capital da companhia na B3, mas os minoritários não concordaram e o plano foi abortado.

Livre das acusações da Lava Jato, Geyer voltou à empresa, e encerrou o contrato com a Estater, que poderia ter ficado até o ano passado na gestão, em 2018. Nos anos seguintes, a Unipar passou por um ciclo de crescimento com a melhora do mercado de PVC puxada pelo setor de construção, o que levou a recuperação das suas ações na B3. Este movimento foi interrompido pela pandemia, que afetou o setor em todo o mundo.

Informações Broadcast
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