O Bradesco encerrou o quarto trimestre do ano passado com lucro líquido recorrente de R$ 2,878 bilhões, de acordo com balanço. O resultado é 80,4% maior que o do mesmo intervalo de 2022, em que o banco fez uma provisão à toda a exposição que tinha à Americanas, que entrou em recuperação judicial em janeiro do ano passado. Entretanto, o resultado foi 37,7% abaixo do registrado no terceiro trimestre do ano passado.

Em 2023, o Bradesco teve lucro líquido recorrente de R$ 16,297 bilhões, número 21,2% menor que o do ano de 2022. O ano foi marcado por uma pressão da inadimplência de empréstimos concedidos até meados do ano anterior, mais afetados pela alta da inflação e dos juros. Para conter riscos, o banco freou as concessões de crédito em linhas mais arriscadas, o que reduziu o crescimento das receitas.

Estes efeitos se repetiram no quarto trimestre, em que o banco registrou ainda R$ 1,175 bilhão em efeitos não recorrentes. Destes, R$ 570 milhões foram destinados a uma provisão para a reestruturação, em especial na rede de agências. Trata-se de um primeiro passo do plano estratégico que o novo presidente, Marcelo Noronha, vai implementar no banco.

“Agora, o Bradesco começa a executar um novo plano de iniciativas, que não tem paralelo na história do banco”, afirmou Noronha, através de nota. Ele disse que o balanço divulgado hoje começa a mostrar melhorias, em especial na aceleração do crédito massificado, que é mais rentável.

“Considerando a qualidade das novas safras, vemos espaço para continuar expandindo a originação”, disse o executivo.

No final de 2023, o banco tinha R$ 1,964 trilhão em ativos, crescimento de 7,3% no comparativo anual. O patrimônio líquido foi a R$ 161,182 bilhões, alta de 4,5% em um ano. O retorno sobre o patrimônio líquido foi de 6,9%, alta de 3 pontos porcentuais em um ano, mas uma queda de 4,4 p.p. em um trimestre.

A carteira de crédito do Bradesco encerrou o trimestre em R$ 877,285 bilhões, baixa de 1,6% em um ano. Foi sustentada pelas operações para pessoas físicas, que subiram 1,2%, enquanto a carteira de pessoas jurídicas caiu 3,6%. A inadimplência era de 5,1%, pelo critério de atrasos acima de 90 dias, alta de 0,8 p.p. em um ano.

A margem do banco com clientes, que reflete o ganho em operações de crédito, teve baixa de 11,7% em um ano, para R$ 15,432 bilhões Na tesouraria, o resultado do banco foi de R$ 696 milhões, o que reverteu a perda de R$ 803 milhões vista no mesmo intervalo de 2022.

A margem financeira total do Bradesco caiu 3,3% no quarto trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, para R$ 16,128 bilhões. Em um trimestre, houve alta de 1,7%.

As receitas do banco com serviços tiveram queda de 2,4% em um ano, para R$ 9,028 bilhões.

O balanço é o primeiro divulgado pelo banco sob a gestão de Marcelo Noronha, que assumiu a presidência em novembro do ano passado. Os números virão acompanhados de um novo plano estratégico, que deve ser o foco das atenções de investidores ao longo do dia e que, como mostrou o Estadão/Broadcast, deve mostrar uma redução de níveis hierárquicos e maior foco nas linhas de negócio. Além de reverter os baixos resultados do banco, o objetivo é preparar o Bradesco para um cenário competitivo mais intenso.

Os resultados da Bradesco (BOV:BBDC3) (BOV:BBDC4) referentes às suas operações do quarto trimestre de 2023 foram divulgados no dia 07/02/2024.

Teleconferência

Um banco com menos hierarquia, maior poder de decisão nas mãos dos executivos e com um varejo remodelado. Este deve ser o mote do Bradesco nos próximos cinco anos, período em que deve colocar em prática o plano estratégico divulgado nesta quarta-feira pelo novo presidente, Marcelo Noronha. Elaborado em 60 dias, quando o normal seriam pelo menos seis meses, o plano tem como principal objetivo levar o banco de volta aos 20% de retorno, após um ciclo de resultados bem abaixo disso, além de elevar a participação no mercado de crédito.

Noronha afirmou que desde que assumiu o banco, em novembro do ano passado, o plano foi discutido praticamente todos os dias, “tirando a noite de Natal e o réveillon”. Com a ajuda de uma consultoria externa, a McKinsey, o Bradesco se debruçou sobre “fortalezas e fraquezas” e adiantou a entrega do planejamento em uma sinalização ao mercado de que vai virar a página.

Na cúpula, haverá uma reorganização, com parte do corpo executivo dedicado a tocar o dia a dia do banco, separado em unidades de negócio, e outra parte à frente da implementação do novo plano. “A nossa principal meta é entregar rentabilidades superiores”, afirmou Noronha a analistas, durante a teleconferência.

O primeiro movimento foi enxugar a cúpula do banco, com menos níveis hierárquicos. Daqui em diante, diretores que chegarem ao comitê executivo não deixarão de exercer suas funções anteriores. Acima deles, as áreas do Bradesco foram separadas em seis unidades de negócio, que contarão com outras quatro unidades de suporte, separadas em temas como recursos humanos, riscos e operações.

“A nossa estrutura era complexa, com um excesso de degraus”, disse Noronha aos analistas. De acordo com ele, a simplificação deve tornar mais rápida a tomada de decisão dentro do banco, um passo fundamental para que os demais pontos do plano estratégico se concretizem.

Daqui em diante, as principais diretrizes serão aumentar a participação no dia a dia financeiro de clientes de alta renda; manter a liderança entre pequenas e médias empresas; acelerar a modernização dos sistemas do banco; e melhorar modelos de crédito, utilizando mais dados e inteligência artificial. No crédito, o objetivo do banco é sair da participação atual de 14% do mercado para algo entre 15% a 19% em cinco anos. Nas pequenas empresas, aumentar o número de clientes dos atuais 1,7 milhão para algo entre 2 milhões e 2,5 milhões.

“O Bradesco sempre foi um dos players mais tradicionais do mercado, com forte ênfase na construção de carreira com ‘pratas da casa’ e menos rápido que alguns concorrentes na adaptação às mudanças de terreno que vimos nos últimos anos”, afirma o sócio da consultoria de inovação Spiralem, Bruno Diniz. “É uma grande instituição e um player muito relevante que, no momento, precisa atualizar diferentes frentes.”

No dia a dia

O objetivo do banco é que as mudanças na estrutura, que já estão sendo implementadas, se traduzam, para o cliente, em um atendimento remodelado. No “coração” do Bradesco, que são os clientes com renda de até R$ 8.000 mensais, o desafio é reduzir o custo da estrutura sem deixar de estar presente. Noronha afirmou que o banco está fazendo um profundo mapeamento da rede e que vê nos correspondentes, abrigados sob o Bradesco Expresso, uma das vias de redução de custos, mas não de presença física.

Para acelerar o passo, o banco dividiu em duas a antiga área de varejo, que era comandada pelo próprio Noronha até novembro passado. “Separamos o digital do varejo físico por uma questão de foco e de habilidade”, disse Noronha a jornalistas. A nova área, de negócios digitais, terá um executivo de fora – uma quebra de paradigma para o Bradesco, feita justamente para oxigenar o banco.

Em relatório enviado a clientes, o BTG Pactual destacou o reconhecimento, pelo Bradesco, de que algumas mudanças no varejo bancário não são cíclicas, mas estruturais. “Acreditamos que o novo presidente deixará a mensagem de que ‘modo negação, não mais’, o que consideramos muito bem-vindo e acreditamos que seja o primeiro passo no processo de recuperação, que também não deve ser fácil”, escreveu o analista Eduardo Rosman.

No final do ano passado, o Bradesco tinha 2.695 agências Brasil afora, 169 a menos que no final do ano anterior. Noronha não disse quantas unidades o banco vai fechar, mas afirmou que a presença física está sob revisão. Ao mesmo tempo, destacou que a estrutura do banco não necessariamente diminuirá, mas que pode ser realocada entre segmentos. No quarto trimestre, o Bradesco separou R$ 570 milhões para gastos com a reestruturação da rede.

Mais uma camada

Um dos próximos efeitos concretos do plano será no varejo de alta renda. O banco está formulando um novo segmento para clientes que ganham acima de R$ 25.000 mensais, ou que tenham R$ 300.000 ou mais para investir, mas que não se enquadrem na “barra” de R$ 5 milhões em investimentos do chamado private. O novo produto deve ficar acima do Prime, a atual marca do varejo de alta renda do Bradesco.

O banco detectou que tem uma presença importante no segmento, mas que falta fazer com que esse cliente faça mais transações no Bradesco. “Nós não estamos partindo do zero, temos 1,7 milhão de clientes afluentes. Mas precisamos aumentar a nossa participação na carteira deles”, afirmou Noronha.

A nova marca será lançada ainda neste ano. O investimento responde ao que outros bancos fizeram nos últimos dois anos: o Itaú relançou o Personnalité e o Santander reforçou o Select, com novas configurações de agência e reforços de equipe. Por trás do movimento, estava o ataque de empresas independentes de investimentos, como a XP, a esse público, que começou pelas aplicações financeiras e logo avançou para produtos bancários, como os cartões de crédito.

Embora a transição seja gradual, o Bradesco terá o desafio do “tudo ao mesmo tempo agora”. “Nós vamos executar todas as iniciativas ao mesmo tempo, não vamos escolher uma ou outra”, afirmou Noronha.

VISÃO DO MERCADO

As expectativas já não eram positivas, mas o Bradesco conseguiu decepcionar ainda mais ao apresentar os seus números do quarto trimestre de 2023 (4T23) e nem mesmo o esperado plano estratégico de cinco anos, anunciado junto com o balanço, animou. Assim, após um salto de 6,21% na véspera (também por conta da notícia sobre a OPA da Cielo), os ativos BBDC4 abriram em queda de 8,19%, a R$ 15,24, às 10h12 (horário de Brasília) desta quarta-feira (7).


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Citi

Analistas do Citi estimaram que o guidance para 2024 implica lucro de cerca de R$ 17 bilhões em 2024 no ponto médio, “mostrando alguma recuperação, mas em uma base muito deprimida, e com nível ainda muito alto de despesas de provisão”, conforme relatório a clientes. Os analistas acrescentaram que a previsão do banco foi fraca e indica que a melhoria da rentabilidade do Bradesco ainda tem um longo caminho a percorrer.

O Citi destacou em relatório logo após o resultado que todas as atenções ficariam voltadas para o novo plano estratégico e indicações das alavancas para a futura melhoria do ROE. “Contudo, acreditamos que a falta de melhorias no curto prazo deverá impedir qualquer melhor desempenho da ação”, apontou, mantendo também recomendação neutra para o ativo, com preço-alvo de R$ 17,50.

Nesta manhã, o banco destacou as principais diretrizes do seu novo plano estratégico, apontando que busca aumentar sua participação de mercado no crédito expandido de cerca de 14% para 15% a 19%. Além disso, o plano prevê redução de níveis hierárquicos e maior autonomia aos executivos. De acordo com apresentação, o banco busca com as mudanças complexidade menor e agilidade na tomada de decisões.

Itaú BBA

Contabilizando provisões de reestruturação e “passivos contingentes”, o lucro foi de R$ 1,7 bilhão, 60% abaixo da projeção do Itaú BBA, enquanto o ROE decepcionou em 32%.

A carteira de empréstimos do Bradesco ficou estável sequencialmente, as provisões (PDD) aumentaram mais 15% em relação ao trimestre anterior, a margem financeira (NII) dos clientes caiu 3% e os serviços caíram 1%, apesar da sazonalidade favorável, avalia a equipe de análise do BBA.

Para os analistas do banco, os pontos positivos foram um melhor NII do mercado, resultados de seguros mais fortes e melhores métricas de qualidade de crédito lideradas por índices de inadimplência (NPLs) de varejo.

Olhando para o ano que se inicia, a visão também é conservadora. “O guidance para 2024 aponta para um processo de recuperação de receitas muito gradual, com custos de risco ainda elevados e SG&A [despesas gerais e administrativas] elevados”, avalia o BBA.

Para 2024, o Bradesco estimou crescimento de 7% a 11% para a carteira de crédito, com expansão de 3% a 7% na margem financeira e aumento de 2% a 6% nas receitas de prestação de serviços e de 5% a 9% nas despesas operacionais. O Bradesco também estimou PDD expandida entre R$ 35 bilhões a R$ 39 bilhões.

O BBA estima um ponto médio do guidance de lucro entre R$ 17 bilhões e R$ 18 bilhões, ou 10% de ROE para 2024, uma recuperação de lucro de 5% na base anual em comparação aos R$ 16,3 bilhões reportado em 2023 e abaixo de sua estimativa de cerca R$ 20 bilhões. Com o ROE abaixo do custo de capital por um tempo, o banco reiterou a recomendação marketperform (desempenho em linha com a média, equivalente a neutro) para o Bradesco, mantendo Banco do Brasil como top pick entre os grandes bancos.

JPMorgan

O JPMorgan, mesmo tendo em vista o plano e apontando que “o 4T23 deveria ser menos relevante hoje”, aponta que o último trimestre foi fraco e que as projeções para 2024 são frustrantes.

“Entendemos que o Bradesco está em um caminho de recuperação, mas o guidance fornecido implica em lucro de apenas cerca de R$ 18 bilhões (no ponto médio). Acreditamos que provavelmente o banco esteja sendo conservador, mas ainda esperamos uma reação negativa do mercado. O guidance implica uma queda de 25% em relação às nossas estimativas de R$ 23,8 bilhões e um ROE de apenas 11%, novamente abaixo do custo de capital”, avalia. Já num tom mais positivo, o JPMorgan ressalta que a qualidade dos ativos melhorou, com a formação de inadimplência, ou “NPL formation” (a variação do saldo de créditos em atraso) em queda para R$ 8 bilhões, um valor elevado, mas muito melhor do que nos trimestres anteriores.

* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney, Estadão
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