A Usiminas reportou lucro líquido de R$ 35,6 milhões no primeiro
trimestre de 2024, com queda de 93% em relação ao apresentado no
mesmo período de 2023, informou a siderúrgica.
A companhia, que afirma, assim como todo o setor produtor de aço
brasileiro, estar sendo pressionada por altas importações de aço da
China pelo Brasil, teve um resultado operacional medido pelo lucro
antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na
sigla em inglês) ajustado de R$ 416 milhões de janeiro ao final de
março, queda de 47% na comparação o primeiro trimestre de 2023.
Analistas, em média, esperavam que a Usiminas divulgasse lucro
líquido de R$ 128 milhões de reais e Ebitda de R$ 387 milhões para
o período, segundo dados da LSEG.
A margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) ajustada foi de
7% no 1T24, com queda de 4 pontos percentuais (p.p.) em relação ao
mesmo trimestre de 2023.
A receita líquida no 1T24 alcançou R$ 6,2 bilhões, com queda de
14% em relação ao 1T23 e 8% na comparação trimestral.
O lucro bruto atingiu a cifra de R$ 398 milhões no primeiro
trimestre de 2024, um recuo de 55% na comparação com igual etapa de
2023. A margem bruta foi de 6,4% no 1T24, baixa de 5,8 p.p. frente
a margem do 1T23.
O resultado financeiro líquido foi negativo em R$ 156 milhões no
primeiro trimestre de 2024.
“Esse resultado foi reflexo de perdas cambiais líquidas de R$ 98
milhões registradas no trimestre, ante ganho cambial de R$ 112
milhões no trimestre anterior, consequência do efeito da
desvalorização do real frente ao dólar registrada no final do
período, impactando negativamente os passivos em dólar da
companhia”, informou a Usiminas sobre o resultado negativo.
No 4T23, o capex totalizou R$ 268 milhões, 59% inferior ao
trimestre anterior, impactado por investimentos na reforma do
AF3.
No fim do trimestre, o caixa líquido da Usiminas era de R$ 310
milhões, ante caixa líquido de R$ 89 milhões em 30 de dezembro de
2023.
O indicador de alavancagem financeira, medido pela dívida
líquida/Ebitda ajustado, ficou em -0,22 vez em março/24.
Os resultados do Usiminas (BOV:USIM3)
(BOV:USIM5)
(BOV:USIM6)
referentes às suas operações do primeiro trimestre de 2024 foram
divulgados no dia 23/04/2024.
Teleconferência
As medidas adotadas pelo governo no ano passado para conter a
importação de produtos siderúrgicos, após reivindicação da
indústria nacional, parecem não ter sido suficientes. Pelo menos
para a Usiminas.
A companhia apresentou os resultados do 1T24 a analistas de
mercado nesta terça (23) com muitas reclamações com o aço
estrangeiro, que segue chegando ao país em grandes quantidades.
Segundo a Usiminas, o volume de importação é ainda maior do que no
ano passado.
“2024 começou com um cenário desafiador, com forte pressão das
importações com condições desleais, além de uma previsão de
crescimento econômico moderado no Brasil”, disse logo na abertura
da teleconferência, Marcelo Chara, CEO da Usiminas.
Importação aumentou
“Prevemos uma produção estável durante o 2º trimestre. O volume
de importação do aço no 1º trimestre foi 18% maior do que no ano
anterior e chama atenção. Por isso, é importante o Brasil
implementar medidas para promover uma competição justa”,
complementou.
A siderúrgica, que tem um terço (1/3) de seu faturamento no
abastecimento de aços planos para indústria automobilística, vê
como sinais positivos os números apresentados por este setor no
começo do ano.
“Mas observamos aumento da importação de veículos em comparação
com o mesmo período do ano passado”, ressaltou Chara – o cenário
aperta o consumo interno de aço.
- Parecer técnico favorável
O executivo comentou sobre um parecer técnico favorável da
Câmara de Comércio Exterior (Camex) sobre o dano da importação do
aço ao país. “Por enquanto, a preocupação é altíssima. Mas há
expectativa positiva, com esse parecer técnico, que mostra um grau
de maturidade importante para equilibrar esse tipo de concorrência
absolutamente desleal”, afirmou Chara a analistas.
Miguel Homes, VP Comercial da Usiminas, disse na apresentação
dos resultados do 1T24 que “não só a siderurgia, mas a cadeia está
sofrendo com esse volume tão importante de importações em condições
desleais”.
Segundo ele, “em muitos casos, com preços abaixo do custo”.
Homes disse que é preciso regularizar as margens da cadeia com
equilíbrio dos estoques, mas destaca que há “um nível muito alto de
material importado na praça”.
No ano passado, o alto-forno 1 na usina de Ipatinga (MG) chegou
a ser desligado por conta das condições de mercado.
- Alto-forno 3 segue em estabilização
Sobre o alto-forno 3, também da unidade de Ipatinga, que foi
reformado no ano passado e está em período de estabilização, a
Usiminas espera mais ganhos de eficiência e redução de custos.
“Custo de produção de aço segue reduzindo com a estabilização do
alto-forno 3”, garantiu Thiago Rodrigues, CFO da Usiminas. Mas por
outro lado, mostrou preocupação com as placas que são laminadas na
unidade de Cubatão (SP). Elas são adquiridas no mercado e tem
seguido tendência de alta de preço.
“Compramos placa do mercado (para Cubatão). As negociações são
realizadas em dólar e a desvalorização do câmbio impacta”, afirma.
Ressalta-se que 1/3 das vendas de aço da Usiminas tem origem da
unidade de Cubatão – o restante, da planta de Ipatinga.
O CFO explicou que apesar da queda do custo de produção em
Ipatinga, o aumento do preço da placa para abastecer Cubatão
estabelece condições estáveis nesse item no 2T24.
Já para a unidade de mineração, que fica em Itatiaiuçu (MG), a
Usiminas informou que a previsão do volume de produção para o ano é
menor do que o realizado ano passado, influenciado pela paralização
de unidade lavra e a entrada em operação de novas frentes de
exploração do minério de ferro somente no segundo semestre.
VISÃO DO MERCADO
Bradesco BBI
Na visão do Bradesco BBI, a reação negativa do mercado aos
resultados esperada se daria principalmente dada a orientação da
empresa de resultados trimestrais relativamente estáveis em sua
divisão de aço – os investidores esperavam melhorias contínuas nos
resultados, seguindo os ganhos de eficiência do alto-forno 3.
Enquanto isso, o Ebitda ficou acima da projeção do banco, que era
de R$ 345 milhões.
Morgan Stanley
O Morgan Stanley ressaltou, em relatório antes da abertura do
mercado, que já esperava que as ações já tivessem um desempenho
inferior hoje. Os analistas do banco apontaram que o Ebitda
ajustado de R$ 416 milhões ficou abaixo do consenso do Visible
Alpha de R$ 484 milhões e da estimativa do banco de R$ 602
milhões.
Em relação aos números do Morgan, a decepção deveu-se
principalmente ao aumento dos custos, apesar do aumento das
receitas. O lucro por ação normalizado de R$ 0,01 ficou bem abaixo
do consenso de R$ 0,11 e de sua estimativa de R$ 0,14; em relação
ao número do banco, a perda de lucro por ação foi impulsionada por
custos e despesas mais elevados e resultados financeiros líquidos
mais baixos (incluindo resultados cambiais e monetários).
O caixa operacional negativo de R$ 31 milhões ficou bem abaixo
do consenso de R$ 1,178 bilhão e da estimativa do Morgan de R$ 385
milhões. A perda em relação à projeção do banco deveu-se
principalmente ao aumento do capital de giro e ao menor resultado
operacional.
O Morgan aponta que o capital de giro aumentou pela primeira vez
desde o 4T22; a dívida líquida aumentou para R$ 310 milhões (versus
-R$ 89 milhões no 4T23 e R$ 13 milhões projetado pelo Morgan),
resultando em dívida líquida/Ebitda em reais de 0,22 vez versus
caixa líquido/Ebitda de 0,05 vez no 4T23; os preços realizados do
aço ficaram em linha com a estimativa do banco de R$ 5.505/tonelada
(t), mas os preços realizados do minério de ferro ficaram 20%
abaixo da previsão do banco de R$ 416/t, entre outros.
O guidance do 2T24 ficou abaixo do esperado pelo Morgan, com a
projeção de um Ebitda na siderurgia relativamente estável no
período, o que implica em revisões de estimativas negativas tanto
para o consenso quanto para a sua estimativa. A empresa não traz
guidance para o Ebitda de mineração, mas espera volumes estáveis
frente o 1T24.
* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney,
Reuters
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