A Casas Bahia anunciou um pedido de Recuperação Extrajudicial (RE) “a fim de implementar de maneira segura, efetiva e transparente o bem sucedido reperfilamento de dívidas financeiras quirografárias da ordem de R$ 4,1 bilhões”.

O fato relevante foi feito pela companhia (BOV:BHIA3) neste domingo (28).

Segundo a varejista, esse valor é decorrentes de suas 6ª, 7ª e 8ª emissões de debêntures a mercado e a 9ª emissão de debêntures e certas CCBs emitidas junto a Instituições Financeiras (credores signatários), nos termos e condições estabelecidos no Plano de RE (plano” ou PRE) aprovado pelos Credores Signatários.

O pedido de Recuperação Extrajudicial foi aprovado à unanimidade pelo conselho de administração e será submetido à ratificação da assembleia geral extraordinária da companhia, que será convocada.

Ainda de acordo com a Casas Bahia, o plano contempla o alongamento do cronograma de amortização dos Créditos Sujeitos, incluindo uma carência de 24 meses para pagamento de juros e de 30 meses para pagamento de principal, e prazo total de amortização de 78 meses (6,5 anos), com remuneração de CDI + 1,0% a 1,5%.

O PRE contempla, ainda, a possibilidade dos Credores Sujeitos Apoiadores (conforme definido no PRE) converterem parte dos Créditos Sujeitos em participação societária na companhia, durante uma janela de tempo compreendido entre 18 e 36 meses contados da aprovação do PRE, podendo a conversão ocorrer trimestralmente durante tal janela, a um valor por ação equivalente a 80% (oitenta por cento) do VWAP dos 90 dias anteriores à conversão, observados os demais termos e condições do PRE.

“A companhia esclarece que a RE é uma ferramenta legal inspirada no modelo “prepack” para implementação de reperfilamentos de dívida previamente acordados entre devedores e credores, de forma a vincular ao acordo credores dissidentes ou ausentes titulares de créditos abrangidos pelo plano. Neste caso, o Plano tem a aprovação de aproximadamente 55% dos Créditos Sujeitos, suficientes para atender o quórum mínimo necessário para a homologação do Plano na forma da legislação aplicável e vinculação aos seus termos de 100% dos Créditos Sujeitos”, explicou a varejista.

De acordo com a companhia, a Recuperação Extrajudicial tem escopo limitado e não impactará as demais dívidas, inclusive operacionais com fornecedores e parceiros, as quais continuarão sendo honradas regular e tempestivamente nos seus respectivos vencimentos, sem qualquer interrupção ou descontinuidade.

A Casas Bahia destacou ainda que a Recuperação Extrajudicial também não impactará adversamente quaisquer outras obrigações perante seus demais stakeholders, incluindo seus clientes e colaboradores, que continuarão contando com todas as facilidades e ferramentas existentes nas 1.078 lojas físicas e no ecommerce.

VISÃO DO MERCADO

As ações do grupo Casas Bahia registram forte alta na sessão desta segunda-feira (29), após a varejista anunciar na noite de ontem pedido de recuperação extrajudicial, citando dívidas de R$ 4,1 bilhões e que já conta com apoio do Bradesco e Banco do Brasil, seus principais credores.

Às 10h23 (horário de Brasília) desta segunda, após mais de vinte minutos em leilão, os ativos tinham disparada de 16,91%, a R$ 6,36, para depois voltarem a entrar em leilão; no ano até a sessão de sexta-feira (26), cabe ressaltar, BHIA3 caía 52,20%, a maior baixa do Ibovespa.

Analistas de mercado destacaram os dois lados do pedido de recuperação extrajudicial. Por um lado, a notícia é positiva, uma vez que dá mais fôlego financeiro para a companhia em meio ao seu plano transformacional, enquanto os termos do acordo parecem favoráveis. Por outro, pode levar a uma possível diluição ligada a conversão das dívidas em ação, enquanto a reação dos consumidores ao anúncio é um dos riscos a monitorar, conforme ressaltou a XP. Por enquanto, o lado positivo parece preponderar para os ativos.

Cabe ressaltar que o plano de recuperação extrajudicial precisa ainda ser aprovado pela Justiça. Gustavo Senday, analista de varejo no research da XP, que participou nesta segunda do Morning Call da XP, ressalta que quem acompanhou as últimas teleconferências trimestrais da Casas Bahia observou crescente preocupação da companhia em cumprir suas obrigações financeiras. “Era um assunto que vinha sendo bastante abordado pela companhia nos calls de resultados”, lembra. Para ele, o plano de recuperação extrajudicial dá mais conforto financeiro à companhia no curto prazo para executar ajustes operacionais, como fechamento de lojas e redução do nível de estoque.

A dívida citada no pedido envolve as sexta, sétima e oitava emissões de debêntures a mercado e a nona emissão de debêntures “e certas CCBs emitidas junto a instituições financeiras”, afirmou a companhia em fato relevante. A companhia disse que o plano não envolve dívidas operacionais com fornecedores e parceiros e não impacta trabalhadores ou clientes.

O plano inclui alongamento de amortização de dívida, incluindo carência de 24 meses para pagamento de juros e de 30 meses para pagamento de principal. Além disso, a estratégia inclui possibilidade de credores apoiadores converterem parte de dívida em participação na empresa.

Segundo a Casas Bahia, o “reperfilamento” da dívida preservará cerca de R$ 4,3 bilhões no caixa da companhia nos próximos quatro anos. Além disso, o prazo médio da dívida sairá de 22 para 72 meses, com redução de 1,5 ponto percentual no custo médio, “que representa uma economia de R$ 400 milhões no período”, afirmou a empresa.

A empresa afirmou em divulgação ao mercado que conta com apoio de credores detentores de 55% de sua dívida financeira sem garantias, o que, segundo a companhia, já permite a homologação do plano. Antes do acordo, a Casas Bahia teria pela frente este ano pagamentos de R$ 1,24 bilhão em amortizações e R$ 313 milhões em juros.

Agora, a empresa somente vai retomar os pagamentos a partir de 2026, com R$ 150 milhões em amortização e R$ 103 milhões em juros. Porém, terá pela frente em 2030 pagamentos de R$ 2,58 bilhões em amortizações e R$ 1,9 bilhão em juros.

Segundo a Casas Bahia, o acordo “traz ainda mais confiança e segurança” a todos os fornecedores, parceiros, clientes e funcionários do grupo. “Este acordo, já aprovado por nossos principais credores financeiros, estava entre nossas metas prioritárias para o ano e, graças ao trabalho já feito até aqui, pudemos concluí-lo antes do previsto”, disse o presidente-executivo da Casas Bahia, Renato Franklin, em comunicado à imprensa.

Para o Bradesco BBI, os termos e valores propostos no plano de Recuperação Extrajudicial são significativos para proporcionar alívio: a empresa acabará por melhorar seu fluxo de caixa em R$ 4,3 bilhões nos próximos 4 anos – isso significa cerca de 8 vezes o valor de mercado atual da BHIA3 de R$ 517 milhões, cujo preço já incorpora a já amplamente conhecida estrutura de capital complexa e situação de fluxo de caixa da empresa.

O alívio de fluxo de caixa de R$ 1,5 bilhão para 2024, por exemplo, é superior ao lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ajustado dos últimos 12 meses (R$ 1,2 bilhão).

“No final das contas, esta medida traz uma importante margem de manobra para os fluxos de caixa de curto e médio prazo da Casas Bahia e, até certo ponto, diminui os riscos de preocupações com liquidez. É importante ressaltar que acreditamos que a administração da empresa pode agora ter um foco maior e fazer um esforço maior na execução do seu plano de transformação sem a distração de resgates significativos de caixa que acontecem no curto prazo. Em suma, consideramos positiva esta medida de gestão de passivos e esperamos ver a evolução dos fundamentos subjacentes da empresa, no seguimento do seu plano de recuperação”, avalia o BBI que, por enquanto, tem recomendação neutra para o papel.

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