O conselho de administração da operadora logística Hidrovias do
Brasil aprovou proposta de aumento de capital de até R$ 1,5 bilhão
para viabilizar acesso a novos investimentos, em uma operação em
que a Ultrapar vai exercer direito de preferência.
O fato relevante foi feito pela companhia (BOV:HBSA3) na
sexta-feira (30).
O aumento de capital se dará com emissão de novas ações em
subscrição privada ao preço de R$ 3,40.
A companhia não identificou eventuais investidores que farão a
subscrição, mas a Ultrapar, maior acionista da empresa com 36% das
ações, afirmou em comunicado separado que vai exercer direito de
preferência na aquisição dos papeis.
A ação da Hidrovias do Brasil encerrou nesta sexta-feira cotada
a R$ 3,49.
A proposta de aumento de capital será levada para aprovação de
assembleia extraordinária de acionistas convocada para 1 de
outubro, informou a Hidrovias do Brasil.
A Ultrapar comprou participação de fundos na transportadora
logística no final de março, quando elevou sua fatia na companhia
para 21,87%. Em maio, o presidente-executivo da Ultrapar, Marcos
Marinho Lutz, afirmou que a Hidrovias do Brasil é um ativo com
grandes oportundidades de mercado.
A companhia criada em 2010 administra atualmente quatro rotas
logísticas: Corredor Norte do Brasil, Hidrovia Paraguai-Paraná,
rota de cabotagem entre Porto Trombetas e Vila do Conde (PA) e
Porto de Santos.
Além da Ultrapar, outros importantes acionistas da Hidrovias do
Brasil são as empresas de investimento Tarpon (13,2%), Pátria
(10,3%) e Alaska (10,1%), segundo dados de meados de julho
disponibilizados pela companhia.
Segundo a Hidrovias do Brasil, os investimentos que pretende
executar incluem capacidade adicional no Corredor Norte,
“fortalecendo o posicionamento da companhia na região”. Os recursos
servirão ainda para redução de endividamento.
Além do aumento de capital, a diretoria da Hidrovias do Brasil
aprovou proposta a ser levada para a assembleia que prevê exclusão,
do estatuto da empresa, de cláusula de obrigação de realização de
oferta pública de aquisição de ações (OPA) por atingimento de
participação relevante.
A empresa afirma que a medida tem como objetivo “facilitar o
acesso da companhia ao mercado de capitais e evitar entraves à
valorização das ações de sua emissão”.
O conselho da Hidrovias do Brasil também aprovou proposta para
inclusão no estatuto “de previsão que condiciona a aprovação de
operações de fusão, cisão e/ou incorporação com qualquer acionista
da companhia e/ou sociedade controlada por este à aprovação da
maioria dos demais acionistas presentes em assembleia geral”.
Segundo a diretoria, isso “assegura um maior alinhamento de
interesses entre os acionistas da companhia”.
VISÃO DO MERCADO
Apesar de uma diluição potencial relevante (até 40%), a XP
Investimentos considera a proposta consistente com o contexto atual
de alta alavancagem (5,4 vezes dívida líquida/Ebitda no 2T24), e
com o cenário apertado de S&D (vendas e distribuição) para a
logística de grãos.
Apesar de uma potencial diluição de até 40%, a Ultrapar (UGPA3)
e a gestora Alaska expressaram interesse em exercer seus direitos
de preferência, “reforçando seu apoio para os novos investimentos”,
destaca a XP.
“Além disso, a proposta de remover a cláusula de “poison pill”
dos estatutos implica que a Ultrapar pode buscar aumentar sua
participação, o que fornece um importante suporte à demanda para a
próxima captação de capital”, acrescenta a corretora.
De acordo com o relatório, os novos recursos permitirão que a
Hidrovias invista em capacidade adicional no Corredor Norte e
reduza sua alta alavancagem (com o aumento de capital de R$ 1,5
bilhão a relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros,
impostos, depreciações e amortizações) reduziria de 5,4 vezes para
3,1 vezes.
O time de análise da XP reitera recomendação de compra para
HBSA3, apesar da cautela com os resultados de curto prazo dados os
baixos níveis de calado em 2024.
Com relação à Ultrapar, a companhia manifestou o interesse em
exercer seus direitos de preferência na transação. Atualmente, a
Ultrapar detém 39,98% da Hidrovias, o que corresponde a R$ 600
milhões do aumento de capital. No entanto, o fato relevante indica
que a UGPA poderia aumentar sua participação caso os outros
parceiros não exerçam seus direitos na transação.
O JPMorgan vê a transação alinhada com a estratégia da Ultrapar
de expandir no setor do agronegócio e reforçar seu papel como
acionista estratégico de longo prazo da Hidrovias. A Ultrapar
encerrou o 2T24 com um Dívida líquida/Ebitda de 1,2 vez e o banco
reitera recomendação neutra para empresa.
Segundo o JPMorgan, a primeira reação é ligeiramente negativa,
pois falta visibilidade sobre o caminho de crescimento da
Hidrovias. Embora acredite que a empresa seja uma peça estratégica
para a expansão de médio a longo prazo da Ultrapar nos segmentos de
logística e agronegócio, o banco vê com cautela o desembolso de –
no mínimo – R$ 600 milhões adicionais na Hidrovias, sem ganhar
controle da empresa e com visibilidade limitada sobre os
investimentos.
Se, por um lado, o preço de subscrição de R$ 3,40 por ação está
abaixo da participação da Patria em março de R$ 3,98 por ação e
também com desconto em relação ao fechamento de R$ 3,49/ação, por
outro, o JPMorgan gostaria de ter mais detalhes sobre o plano de
geração de valor da Hidrovias.
A XP Investimentos disse ser provável que a Utrapar aumente
marginalmente sua participação, mas é improvável que alcance uma
participação de 50%. Teoricamente, a Ultrapar poderia chegar a
cerca de 62% se ficasse com 100% da nova emissão, mas essa não é
uma hipótese realista, pois outros acionistas da Hidrovias
subscreverão pelo menos parte do aumento de capital.
Embora esse aumento de capital, por si só, não permita que a
Ultrapar aumente sua participação além de 50%, a Ultrapar poderá
continuar a comprar ações da Hidrovias após essa emissão de capital
se desejar aumentar ainda mais sua participação e, eventualmente,
tornar-se acionista majoritária.
Para esse fim, a XP explica que o Conselho de Administração da
Hidrovias também propôs a remoção da clausula de poison pill dos
estatutos (originalmente ativada a uma posição de 20% e depois
dispensada até 40% quando a Ultrapar adquiriu sua participação na
empresa).
Como alternativa, o estatuto social passaria a exigir a
aprovação da maioria nas assembleias de acionistas que votassem em
qualquer transação de fusão e aquisição ou incorporação envolvendo
acionistas da empresa. Ou seja, se a Ultrapar decidisse incorporar
a Hidrovias, a Ultrapar seria impedida de votar na assembleia de
acionistas da companhia.
Já o Itaú BBA avalia o anúncio como neutro, uma vez que a
decisão da Ultrapar é consistente com sua estratégia contínua de
investir em avenidas de crescimento relacionadas aos setores de
logística e infraestrutura expostos ao agronegócio.
Segundo BBA, a Ultrapar declarou estar confortável tanto com a
aderência estratégica quanto com os níveis de retorno do principal
projeto proposto pela Hidrovias para o uso dos recursos da
subscrição (relacionados à capacidade adicional no Corredor Norte),
enquanto sua estrutura de capital é capaz de acomodar bem esse
movimento (a alavancagem permanecerá abaixo de 1,5x após a
subscrição).
O Itaú BBA reiterou recomendação neutra e preço-alvo de R$
31.
De acordo com estimativas do Goldman Sachs, a transação pode
implicar em um aumento de 0,1 vez na alavancagem da Ultrapar, o que
classifica como marginal.
O banco americano espera que a administração forneça detalhes
adicionais sobre as perspectivas para o investimento da empresa na
Hidrovias e mais informações sobre os planos de alocação de capital
da companhia no futuro em seu evento do dia do investidor na
sexta-feira, 6.
O Goldman Sachs também mantém recomendação neutra e preço-alvo
de R$ 28.
A equipe de research do Bradesco BBI, por sua vez, avalia que o
anúncio é outro pequeno passo da Ultrapar e está em linha com a
estratégia da empresa de aumentar sua exposição logística ao setor
de agronegócio.
Os analistas do BBI não esperam que a alavancagem da Ultrapar
ultrapasse 1,3 vez Dívida Líquida/Ebitda. Portanto, isso não traz
nenhuma implicação para dividendos.
No longo prazo, no entanto, parece que a Ultrapar pode
ultrapassar uma propriedade de 50%, consolidando 100% da Hidrovias,
o que levaria a alavancagem para até 1,7 vez, ainda não excessivo e
em linha com a meta da empresa de 1,5 a 2,0 vezes Dívida
Líquida/Ebitda.
O Bradesco BBI reitera classificação neutra para UGPA3 com
preço-alvo de R$ 33.
Informações Reuters
Hidrovias DO Brasil ON (BOV:HBSA3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Set 2024 até Out 2024
Hidrovias DO Brasil ON (BOV:HBSA3)
Gráfico Histórico do Ativo
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