Construtoras devem priorizar margem;demanda não preocupa
Por Vivian Pereira
SÃO PAULO (Reuters) - A onda de mau humor vista no final da última semana, quando os resultados trimestrais de boa parte das construtoras e incorporadoras decepcionaram investidores, deve dar lugar a um cenário de cautela e maior controle operacional no setor na segunda metade do ano.
Das seis empresas que representam o setor imobiliário no Ibovespa, quatro apresentaram lucro para o segundo trimestre abaixo da média das estimativas do mercado, o que ocasionou uma forte desvalorização das ações na sexta-fei...
Construtoras devem priorizar margem;demanda não preocupa
Por Vivian Pereira
SÃO PAULO (Reuters) - A onda de mau humor vista no final da última semana, quando os resultados trimestrais de boa parte das construtoras e incorporadoras decepcionaram investidores, deve dar lugar a um cenário de cautela e maior controle operacional no setor na segunda metade do ano.
Das seis empresas que representam o setor imobiliário no Ibovespa, quatro apresentaram lucro para o segundo trimestre abaixo da média das estimativas do mercado, o que ocasionou uma forte desvalorização das ações na sexta-feira.
O movimento, entretanto, na visão de analistas que acompanham o setor, foi exagerado. Isso porque o temor de que a indústria da construção estivesse entrando em um processo de desaceleração de vendas não foi confirmado pelos números das companhias. Segundo eles, fatores pontuais e maior pressão de custos levaram a rentabilidade aquém do previsto.
"Os resultados ficaram abaixo das estimativas, mas não foram ruins. O que aconteceu foi que (os números) estavam acima das expectativas em 2010", disse o analista Wesley Pereira Bernabé, do BB Investimentos.
De fato, com exceção da Brookfield Incorporações -que sofreu impacto de um efeito não-recorrente-, a linha de receita líquida das cinco demais companhias do Ibovespa teve incremento na comparação anual, com as metas de lançamentos e vendas para o fechado do ano atingindo cerca de 40 por cento do ponto-médio, em linha com a sazonalidade do setor.
"A demanda continua forte, apesar da desaceleração da velocidade de vendas, que ainda está em ritmo saudável", afirmou o analista David Lawant, do Itaú.
Nesse sentido, Bernabé aposta em uma acomodação do indicador de velocidade de vendas -medido pela relação de venda sobre oferta (VSO)-, mas descarta que as empresas tenham de revisar as metas traçadas para o ano.
A Brookfield, no entanto, decidiu reduzir a meta de lançamentos para este ano de entre 4,75 bilhões e 5,25 bilhões de reais para o intervalo de 4 bilhões e 4,2 bilhões de reais.
"Essa redução é uma forma de antecipar a manutenção de VSO, antes do indicador recuar, para poder trabalhar melhor os estoques", disse ele, assinalando que "quem precisava revisar 'guidance' já revisou".
Quanto à primeira metade do ano, os analistas são unânimes em apontar Cyrela Brazil Realty e Gafisa como os destaques negativos, mas ponderam que os balanços foram prejudicados por fatores particulares.
"As duas empresas estão em ambiente de recuperação de margens, então já era esperado que os resultados viriam mais fracos", afirmou Lawant, do Itaú. "Não vejo novas pressões de custos, mas a retomada é lenta, é um setor de ciclo longo".
Em contrapartida, PDG Realty e MRV Engenharia são apontadas como as principais beneficiadas no ano até agora.
MARGENS MENORES
Reflexo de uma pressão de custos cada vez maior, decorrente principalmente do item mão de obra, as construtoras e incorporadoras vêm enfrentando, desde o final do ano passado, desafios para elevar suas margens a níveis históricos.
Uma retomada tão forte, contudo, pode não acontecer, na visão dos profissionais de mercado, que apontam o gerenciamento de custos como maior desafio do setor.
"Os níveis de 2008 e 2009 não devem se repetir, quando foram influenciados por preços de imóveis muito altos, contribuindo para margens maiores", disse o analista Marcos Paulo Fernandes Pereira, da Votorantim, que vê o ganho em margens como principal impulsionador de crescimento das empresas no segundo semestre.
"Demanda não é o problema do setor. Mas sim como as empresas gerenciam as operações e os custos", acrescentou.
Para Bernabé, do BB Investimentos, as empresas devem encontrar um novo patamar de margens para conviver, "pelo menos no médio prazo, e os investidores terão de se acostumar com esses novos patamares".
Ainda assim, os números do segundo semestre, sobretudo na linha de receita líquida, devem ser superiores aos vistos na primeira metade do ano, favorecidos por um maior volume de entrega de obras, se traduzindo em ganhos e diluição de despesas.
"O quarto trimestre e o início de 2012 devem contar com uma parcela forte de receitas de projetos lançados no final de 2010, contribuindo para uma retomada do crescimento das margens", disse Pereira.
Seguindo a tendência vista até junho, os analistas apostam em PDG, MRV, Brookfield e Rossi Residencial como as companhias com maior potencial para se manterem no patamar de ganhos em que estão.
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