Rio de Janeiro, 02 de Setembro de 2015 – Pela primeira vez no ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu não elevar a taxa básica de juros da economia brasileira. Depois de sete aumentos consecutivos de meio ponto percentual, a meta da Taxa Selic foi mantida em 14,25% ao ano – ainda o maior patamar desde agosto de 2006. Com isso, o governo continua tentando a controlar o crédito e o consumo e, assim, domar a inflação.
Nas últimas sete reuniões, o Banco Central aumentara a meta da taxa de juros anual: em outubro de 2014 (de 11,00% para 11,25%), em dezembro de 2014 (de 11,25% para 11,75%), em janeiro de 2015 (de 11,75% para 12,25%), em março de 2015 (de 12,25% para 12,75%), em abril de 2015 (de 12,75% para 13,25%), em junho de 2015 (de 13,25% para 13,75%) e em julho de 2015 (de 13,75% para 14,25%).
Após a reunião do Copom, o BC divulgou o seguinte comunicado: “avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 14,25% ao ano, sem viés“.
Ao mesmo tempo, a autoridade monetária também indicou que a taxa básica de juros deve permanecer neste patamar nos próximos meses: “O Copom entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016.
O manutenção da Taxa Selic em 14,25% ao ano ocorre em um momento de fraca atividade econômica, com analistas financeiros projetando a maior recessão dos últimos vinte e cinco anos em 2015, mas com a inflação em patamares ainda elevados, pressionada pelo aumento das tarifas publicas, como energia elétrica e gasolina, e também pela valorização do dólar, que voltou a ser cotado acima de R$ 3,75 – maior patamar desde 2002.
A preocupação do Copom com a inflação não é em vão. Nos últimos cinco anos, a inflação brasileira ficou bem distante da meta central de 4,50% ao ano estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, respectivamente, a inflação somou 5,91%, 6,50%, 5,84%, 5,91% e 6,41%.
A inflação oficial do país, medida pelo Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou o mês de julho com alta mensal de 0,62%. Nos sete primeiros meses deste ano, a inflação somou 6,83%. Já no acumulado dos últimos doze meses até junho, a inflação totalizou 8,56% – a maior taxa anual desde dezembro de 2003 (9,30%).
O próprio Banco Central já admite que a inflação deve estourar o teto de 6,5% do sistema de metas em 2015. A previsão da autoridade monetária é de que a inflação encerre o ano atual em 9,00%. Para este ano, o mercado prevê um IPCA de 9,28%. A autoridade monetária tem dito que trabalha para evitar a propagação da inflação neste ano e para trazer o IPCA para o centro da meta, de 4,50%, até o final de 2016.
Para o mercado financeiro brasileiro, o centro da meta inflacionária deverá ser atingido somente em 2019. Pesquisa conduzida pelo Banco Central com mais de 100 bancos na semana passada mostra que a previsão dos economistas dos bancos está em 5,51% para o ano que vem, em 4,90% para 2017, em 4,70% em 2018 e em 4,50% em 2019.
Os diretores do BC, que participaram da reunião desta quarta-feira, também ressaltaram o fato de a economia do país estar em recessão técnica – o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 0,7% no primeiro trimestre (valor revisado) e 1,9% no segundo trimestre. Cabe salientar que, tecnicamente, um país entra em recessão após a confirmação de dois trimestres consecutivos de retração do PIB.
O aumento do desemprego no país também preocupa. No início do mês, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a taxa de desemprego do último trimestre encerrado em junho: 8,3%. Essa é a maior taxa desde o início da realização da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios em 2012.
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