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Cenário político complica previsões para 2016, diz economista da Rio Bravo

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Em um ambiente tão instável, com indefinições no cenário político que podem significar a troca de governo, e ainda com a Operação Lava Jato criando surpresas envolvendo figuras importantes da República e da economia, fica difícil calcular números precisos para o ano que vem, diz Evandro Buccini, economista da Rio Bravo Investimentos, gestora que tem entre seus sócios o ex-presidente do Banco Central (BC), Gustavo Franco. Ele dá o exemplo da prisão do senador Delcídio do Amaral, líder do PT, e do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, em novembro. “É óbvio que coisas desse tipo têm impacto no crescimento do país, pois mexem com a base do governo e com um banco importante em termos de empréstimos, mercado de capitais e fusões e aquisições”, diz.

E como colocar isso na conta? Para Buccini, diante das incertezas, o que se consegue são aproximações. No caso do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano que vem, por exemplo, a estratégia é colocar um sinal de menos na frente de um número entre 2% e 4% para 2016, e um percentual acima do teto da meta de 6,5% para a inflação do IPCA. “São números, infelizmente, ruins, mas estão dentro do consenso do mercado”, afirma. “E o pior é que há a possibilidade de termos uma surpresa, negativa”, diz. “Não vejo notícia positiva no ano que vem, a não ser que ocorra um impeachment ou uma mudança política nessa linha”, afirma Buccini.

Falta de confiança do consumidor deve aumentar

No curto prazo, o problema do país é a falta de confiança, tanto de consumidores quanto de empresários, resume o economista. No caso dos consumidores, o pessimismo é mais difícil de reverter, uma vez que o desemprego começou a aumentar há pouco tempo e a renda real ainda tem muito para ser corrigida. Então o consumidor vai sofrer por mais tempo. Já os empresários, uma mudança de ânimo seria mais rápida e, com ela, a recuperação dos investimentos no caso de uma mudança política. “Ela tornaria o horizonte mais claro e daria mais otimismo com relação ao futuro e o investimento volta”, diz Buccini.

Ele observa que o investimento das empresas é muito volátil e vem caindo já há nove trimestres consecutivos, ou seja, mais de dois anos. “Mas isso dá para mudar relativamente rápido com mudanças no cenário político”, diz.

Tipo de ajuste fiscal influencia retomada da confiança

Buccini destaca que o próprio ajuste fiscal não é uma garantia de retorno rápido do crescimento. Ele cita um estudo que fez em 2013, por ocasião dos planos de aperto fiscal na Europa, e usando a literatura de apertos fiscais do Fundo Monetário Internacional (FMI), e que mostraram que a forma como o ajuste fiscal é feito traz reações diferentes na economia. Se o ajuste é baseado em cortes de despesas, a recuperação é mais rápida.

Já se é feito com aumento de impostos, podem ocorrer dois comportamentos diferentes. “Olhando as consolidações fiscais com aumentos de impostos, é muito, muito pior quando o ajuste é baseado em tributos indiretos, que é justamente o caso do Brasil”, afirma Buccini. O motivo é que muitos desses impostos indiretos incidem em cascada ou provocam ineficiências, caso do  IOF, do IPI, da Cide, da CPMF e do ICMS. “E tudo que aumentamos e pretendemos aumentar, como a Cide ou a volta da CPMF, são impostos indiretos, que são mais fáceis de aprovar”, lembra.

Segundo Buccini, ajustes fiscais feitos com base em impostos diretos, como o imposto de renda, não tiveram impacto tão ruim na atividade. “É um pouco pior do que o ajuste com corte de gastos do governo, mas muito melhor do que como fazemos no Brasil”, diz. A explicação para essa diferença de reações da economia, resume Buccini, é a confiança dos empresários no sucesso do ajuste e o comportamento dos investidores.

PIB em queda e pressão para subir juro em 2016

A Rio Bravo trabalha com uma queda no PIB do ano que vem de 2% a 2,5%, com inflação perto de 7% ao ano, tanto para o IPCA quando para o IGP-M, acima, portanto, da meta do Banco Central (BC), de 6,5%. Ele acredita que o mais provável é o juro básico Selic, hoje em 14,25% ao ano, voltar a subir no ano que vem, já que as projeções de inflação seguem acima do teto. “Pelo menos no primeiro semestre, vai ter pressão bastante grande para subir juro”, diz. “Principalmente se o fiscal ficar do jeito que está”, afirma.

Ele espera uma pequena melhora para as contas públicas no ano que vem, com o déficit primário recuando de 1,7% do PIB este ano para 0,5% do PIB. “Serão três anos consecutivos de déficit primário, coisa nunca vista na história do Brasil recente, desde que começaram os cálculos desses números”, diz. No caso do Governo Central, que reúne Banco Central, Tesouro e Previdência, o cálculo do resultado primário vem desde 1996 enquanto o do setor público, que inclui Estados e Municípios, desde 2000. “Mas mesmo em 1998, quando o resultado do governo central não era bom, não era tão ruim como hoje”, diz.

Dívida pública deve atingir 71% do PIB

Os efeitos dessa continuidade do déficit serão sentidos no crescimento da dívida pública.  Analisando os componentes da relação entre a dívida do governo e o PIB, todos são afetados, explica Buccini. A queda no PIB joga contra, assim como a taxa de juros extremamente elevada, e com um déficit primário agravando as contas do governo. “A única coisa que joga a favor é a alta da inflação, que beneficia os devedores, e o governo é o grande devedor”, diz.

Buccini estima que a dívida deve passar de 66% do PIB hoje para 71% no ao que vem. A velocidade com que a dívida aumentou foi muito grande, afirma o economista. E, o que é pior, não há sinais de estabilização no horizonte de três anos. “E isso foi uma das razões para perdermos o segundo grau de investimento em dezembro, da Fitch, e levará à perda do terceiro, da Moody’s, no início do ano”, explica. “E possivelmente vamos ter mais um dowgrade da Standard & Poor’s em 2016”, diz, lembrando que a S&P foi a primeira a tirar o grau de investimento do país em setembro.

Desemprego em 11%

A situação política também agrava o cenário pois o governo tem uma base fraca no Congresso e se preocupa hoje em evitar o impeachment, dificultando a aprovação de qualquer ajuste. “Temos o governo se recompondo e recesso com a economia afundando”, diz. Para Buccini, a situação atual é tão séria que não fazer nada deixou de ser uma opção para o governo. “Enquanto o governo decide o que fazer, a economia está indo para o buraco, com o desemprego passando de 11% da população ativa no ano que vem”.

Duração da crise será maior e ameaça conquistas

Apesar da economia e das pessoas estarem em melhor situação do que em crises anteriores, Buccini alerta que as dificuldades desta vez vão durar mais. “Tudo indica que ela ainda vai durar alguns trimestres e acho que isso terá um reflexo grande na opinião pública”, afirma. O desemprego, apesar de ter aumentado muito, ainda não está incomodando tanto, o que deve mudar nos próximos meses e provocar a reação dos sindicatos. “Mas quem conseguir um reajuste que reponha a inflação já terá um ganho enorme, pois o IPCA vai ser de mais de 10%”, diz. “Vamos ter muita novidade ruim em termos sociais, de trabalhadores, sindicatos, e muitas das conquistas da Era Lula vão ser perdidos”, afirma Buccini. “Foi uma bolha que estourou porque consumimos todos os recursos extraordinários obtidos com a onda das commodities e o bônus demográfico em vez de investir em infraestrutura” explica.

Dólar em alta apesar das contas externas melhores

O dólar tende a continuar se valorizando aqui, e com o país perdendo mais um investment grade, a moeda americana pode disparar e depois voltar, como no ano passado, quando atingiu R$ 4,25 e depois voltou para R$ 3,80. “O dólar deve voltar para R$ 4 e depois deve buscar outro patamar, mas volta a subir, apesar da forte melhora das contas externas do país”, diz Buccini.  Ele acredita que a balança comercial vai melhorar ainda mais no ano que vem, não só pela queda das importações, como ocorreu este ano, mas pelo aumento das exportações de manufaturados. “Devemos ter um superávit comercial de US$ 30 bilhões e o investimento externo direto deve voltar a cobrir o déficit de contas correntes”, afirma.

A Rio Bravo trabalha com um dólar perto de R$ 4,20 no ano que vem, diz Buccini, mas evita cravar um número. Para ele, um terceiro rebaixamento já está nos preços, mas um novo downgrade da S&P ou de outra agência de risco não está.

Projeções frustradas de 2014

Ele questiona a eficácia das projeções lembrando que este ano foi uma decepção muito grande em relação ao que se esperava no fim de 2014 para a economia. “No ano passado, as estimativas para dois anos eram de crescimento, com 2% para 2016 pelo relatório Focus”, diz. “Hoje, 2017 ainda tem algum crescimento, mas já há quem fale em queda de 1%”. Para Buccini, tão grave quanto a profundidade da recessão, uma das mais agudas da história do país, é o fato de a recuperação estar sendo muito mais fraca.

Levy esbarrou na “ministra da Fazenda”

E isso não foi culpa do ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que foi acusado de não ter feito nada para favorecer o crescimento, afirma Buccini. “Não dá para o paciente que está com câncer correr uma maratona”, diz. Para Buccini, Levy é um economista muito bom, inteligente, “mas esbarrou na verdadeira ministra da Fazenda”, referindo-se à presidente Dilma Rousseff. Ele diz que os problemas vão além do déficit fiscal e lembra que o governo não conseguiu fazer leilões de concessões, com exceção do de hidrelétricas no fim do ano, vencido pelos chineses e com preços baixos. “Isso mostra que há problemas mais sérios, regulatórios e fiscais, pois como o investidor faz um projeto sem saber quanto de imposto vai pagar?”, diz.

Chuva terá impactos na inflação

O agronegócio também pode não ajudar tanto a economia no ano que vem, avalia Buccini, em virtude do fenômeno El Niño, que provoca fortes chuvas no Sul e seca no Nordeste. “A chuva pode afetar a produção de grãos e pode pressionar a inflação para cima”, diz. Ao mesmo tempo, a volta das chuvas poderá aumentar os níveis dos reservatórios e permitir a redução do preço da energia elétrica, beneficiando a queda na inflação. “Por isso não estou projetando uma inflação na casa dos 8% como muitos colegas”, explica.

Ele espera que os preços dos serviços recuem por conta da desaceleração da economia. E a grande dúvida são os preços administrados, que têm fatores imponderáveis, como a chuva na energia. Ele cita os combustíveis, que dependem do dólar, e as tarifas de ônibus, que terão influência das eleições municipais. E há ainda os aumentos de impostos, que podem elevar preços como no caso da Cide nos combustíveis.

Ajuste sem CPMF

Buccini leva em conta em seu cálculo de déficit de 0,5% do PIB no ano que vem o aumento da Cide e o leilão das hidrelétricas. E quase nada de CPMF. Ele espera um corte de gastos maior que a média do mercado. E vê com bons olhos a tentativa do governo de aprovar alguma reforma da Previdência. “Está se formando um consenso, seja de criar uma idade mínima ou uma regra um pouco melhor de aposentadoria”, afirma.

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