O governo do presidente interino Michel Temer sabe que tem “tiro curto” para destravar a economia e a crise política, afirmou hoje o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, em entrevista sobre os resultados da bolsa no primeiro trimestre.
Na avaliação do executivo, está claro que o país precisa de medidas rápidas que desfaçam o recente “nó político” e permitam a aprovação de medidas econômicas necessárias para a recuperação da confiança no Brasil.
Para ele, Temer provou ter compreendido esse quadro, uma vez que 90% do quadro de novos ministros anunciados ontem têm origens políticas, o que deverá facilitar as negociações de apoio ao governo. ”Uma das coisas mais importantes para o mercado de capitais é a confiança, e ficamos muito satisfeitos de ver no primeiro discurso do presidente essas palavras de incentivo, além do anúncio de sua primeira medida provisória, que convoca a iniciativa privada para fazer parte dessa fase de recuperação da economia”, contou.
Edemir espera que a temática da governança corporativa, tão questionada nos últimos meses em meio aos grandes escândalos de corrupção nas estatais, ganhe força nesse governo que, segundo ele, deverá promover um importante ciclo de privatizações, a fim de buscar novos recursos e driblar o impopular aumento de impostos.
IPOs ainda em 2016
O sentimento de recuperação plena virá com as medidas efetivas da nova gestão, mas sabemos que tudo não será resolvido em uma semana ou em um mês, afirmou. No entanto, questionado se a troca do comando do país muda suas expectativas sobre os números de ofertas públicas inciais de ações (IPO, na sigla em inglês) para 2016, ele reagiu positivamente. “Da forma que estávamos, achei que passaríamos mais um ano em branco, mas isso (impeachment) mudou tudo e, por isso, podemos ter sim novidades até o fim do ano”, completou.
Apesar do cenário adverso esse ano, a Bovespa registrou quatro novas emissões de ações de empresas já listadas, os chamados follow-ons, que somaram R$ 3,5 bilhões.
Alavancagem para compra da Cetip
A Bovespa se prepara ainda para o financiamento do restante do pagamento de sua transação com a Cetip, cerca de R$ 2 bilhões, explicou o diretor executivo de finanças, corporativo e de relações com investidores da Bovespa, Daniel Sonder.
Do negócio total de R$ 12 bilhões, R$ 4 bilhões serão pagos com ações da bolsa, outros R$ 5 bilhões de recursos com a venda da participação no CME Group e os demais de uma combinação entre a geração de caixa esperada nas duas companhias até a data de liquidação do acordo, que para Sonder deverá somar de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão, e outros R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões que deverão ser financiados.
Ele disse que essas linhas de crédito já foram contratadas, sem citar quais os bancos escolhidos, mas a ideia é não utilizá-las. Conforme a aproximação do vencimento do acordo, o objetivo é acessar o mercado de capitais, com uma estrutura de dívida um pouco mais definitiva.
Do ponto de vista da alavancagem, a bolsa deve ficar com uma relação próxima de duas vezes a dívida sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) no momento inicial, mas a estimativa de Sonder é de que a companhia atinja um nível estável de endividamento em até três anos, equivalente a uma vez seu Ebtida.
Em abril, a bolsa vendeu 4% de suas ações do CME Group para o pagamento de parte do negócio com a Cetip.
Contratos futuros argentinos, clearing e ATS
Segundo o presidente da Bovespa, os planos de expansão dos negócios na América Latina continuam. Na semana passada, a bolsa realizou reunião com o governo e os reguladores argentinos. ”Saímos de lá com uma encomenda de desenvolvimento de derivativo, que é o contrato futuro de peso-real, só estamos aguardando a consolidação do mercado argentino, que nesse momento está passando por uma reestruturação, vai depender um pouco mais deles do que de nós colocar esse produto na prateleira”, contou. A ideia é que o contrato seja listado nos dois mercados, a fim de impulsionar a liquidez nos dois países.
Já o projeto de integração das clearings na Bovespa tem data de entrega prevista para o fim deste ano e já está em fase de testes, diz Edemir.
Finalmente, sobre a reação da BM&FBovespa em relação a notificação do Cade sobre os questionamentos feitos pela ATS Brasil, empresa que planeja o desenvolvimento de uma nova bolsa no país, com acusações de monopólio, Edemir Pinto afirmou que a companhia responderá à instituição com tranquilidade, no prazo determinado pelo regulador.