Considerada as inflações brasileira e americana acumuladas de 2003 até agora, o preço justo da moeda americana deveria ser de R$ 6,70, muito acima dos R$ 3,50 do mercado, estima o economista-chefe da Gradual Investimentos André Perfeito. No cálculo, Perfeito estimou a inflação brasileira no período e descontou dela a inflação nos EUA, o que resultaria na perda de valor real da moeda brasileira que deveria corrigir o câmbio.
Em termos gerais, na avaliação de Perfeito, a moeda brasileira tende a se desvalorizar até o fim do ano, pressionada pela tendência de decepção com o governo de Michel Temer por parte o mercado, já que o vice-presidente ainda não fez nenhum comentário oficial de como poderia ser sua eventual gestão. Além disso, haverá o impacto das condições de liquidez global, uma vez que os emergentes poderão sofrer com uma possível elevação dos juros americanos esperada para o fim do ano, e que deve coincidir com a queda dos juros no Brasil. A partir dessa análise, a casa projeta o dólar a R$ 4 até dezembro, ainda bem abaixo dos R$ 6,70 considerando a inflação.
A inflação desse período não deveria passar despercebida pois não é tão irrelevante a ponto de deixar de ser incorporada à atual taxa de câmbio, defende Perfeito. Ele explica que a última vez que o dólar registrou o nível atual de R$ 3,55 foi há 13 anos e, naquela época, as pessoas podiam comprar mais coisas com essa quantia do que hoje. Poderando o IPCA sobre o CPI, índice de inflação no varejo americano, para manter o poder de compra, o dólar deveria estar em torno de R$ 6,70. O cálculo foi feito usando dados até fevereiro, último dado disponível, afirma Perfeito.
O dólar só irá se apreciar muito mais em relação ao real se se acreditar que as condições externas de liquidez, ou seja, os juros baixos nos EUA e nos demais países desenvolvidos, continuarem como estão hoje, o que favoreceria a oferta de capitais para o país e pressionaria a cotação da moeda americana para baixo aqui. Outros elementos também influenciarão esse comportamento, observa Perfeito, entre eles o preço das commodities. Mas ignorar durante tanto tempo essa correção de preços, que levaria a uma alta do dólar e uma desvalorização do real além dos níveis atuais, “simplesmente é um desvio reiterado de um dos fundamentos”, defende.