Na visão da agência, as políticas adotadas pelo novo governo devem fortalecer a disciplina fiscal. “As medidas propostas são vitais para aliviar as preocupações dos investidores e manter os fluxos de capital, bem como para impulsionar a confiança”, disse a agência em comunicado.
A agência revisou a nota de crédito do Brasil em fevereiro e tem 12 a 18 meses para fazer uma nova revisão, explicou hoje Samar Maziad, analista sênior da Moody’s para o Brasil desde janeiro deste ano. Ela participou da 18ª Conferência Anual da Moody’s para apresentação das perspectivas para o país. Samar destacou que o cenário melhorou bastante após a conclusão do processo de impeachment ao eliminar a incerteza política no país. “O pior da crise política passou e agora a questão é a reforma fiscal e as reformas que garantam o equilíbrio das contas do país a longo prazo, como a reforma da Previdência”, diz.
Ela destaca as reformas nunca são fáceis, mas é um desafio que o novo governo terá de enfrentar. “Notamos comprometimento da nova equipe econômica em aprovar as reformas e esperamos que o governo consiga o apoio do Congresso”, diz. Para a analista, mesmo que o governo não consiga aprovar todas as medidas agora, mas já sinalize um avanço em alguns pontos, já será importante para melhorar a perspectiva dos investidores com relação à situação fiscal do país.
Samar ressalta que a situação fiscal brasileira ainda é bem difícil, com um déficit primário neste ano e também no próximo. Ela diz que o déficit maior previsto para este ano é mais “realista”, mas tem de haver a contrapartida de ser acompanhado de um projeto que garanta sua redução no futuro, no caso, a aprovação das reformas.
Um equilíbrio fiscal, segundo ela, com cumprimento da meta fiscal, somente será possível em 2018, desde que o governo implemente as reformas do teto dos gastos públicos e da Previdência. Nesse caso, otimista, a dívida pública ainda cresceria até 80% do PIB em 2018 antes de estabilizar. A inflação então convergiria para a meta e o Banco Central poderá reduzir os juros, melhorando as condições para a recuperação da economia, que seria ajudada também pela maior confiança dos investidores externos e internos.
O cenário negativo, de não aprovar as reformas, significaria novos déficits fiscais elevados em 2017 e 2018, fora das metas, dívida em crescimento, inflação em alta por conta das expectativas negativas e consumo e investimento em baixa segurando novamente o crescimento.
Sobre os riscos de empresas estatais em dificuldades exigirem aportes do governo e complicarem a situação fiscal, caso de Petrobras e Eletrobrás, Samar acredita que a situação melhorou bastante, citando a estatal do petróleo. “A Petrobras retornou aos mercados internacionais, captou, fez uma reestruturação financeira, vendeu ativos e reduziu bastante seu risco de mercado”, diz. “Sua liquidez para este ano e para o próximo está bem melhor e isso reduz o impacto no risco soberano do país”, afirma.
Segundo um vice-presidente sênior da Moody’s, Gersan Zurita, o estresse financeiro deve dar uma trégua na medida que o país se estabiliza economicamente. “A estabilização das condições econômicas suportará melhoras modestas do desempenho corporativo”, destaca . Zurita alerta, entretanto, que as condições restritas de liquidez, altas taxas de juros e desemprego continuarão a pesar na economia até pelo menos o final de 2017.
O Brasil possui hoje a nota Ba2, com perspectiva negativa, na avaliação da Moody’s. A agência de risco afirmou em relatório que espera um crescimento econômico de 0,5% no próximo ano após a contração de 3,5% projetada para 2016. A recuperação será conduzida principalmente pelo investimento das empresas, devido ao aumento da confiança, e a necessidade das companhias de elevar a produção para reabastecer os estoques reduzidos. No país, a utilização da capacidade de produção estabilizou, mas ainda permanece nas mínimas históricas.
Segundo o relatório, a contribuição dos setores exportadores brasileiros para a recuperação econômica dependerá muito dos desdobramentos da taxa de câmbio. Uma queda do real em 2015 e no início deste ano ajudou a impulsionar as exportações.
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