O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou na última quarta-feira mais uma ordem executiva polêmica, desta vez ordenando a construção de um muro ao longo de toda a fronteira entre os Estados Unidos e o México, uma de suas principais promessas de campanha.
Como de costume, as ações de Trump continuam causando grande estardalhaço na mídia e algumas informações relevantes acabam passando despercebidas.
Não é a primeira vez que um presidente dos Estados Unidos decide criar uma barreira física na fronteira com o México. Entre os mais de três mil quilômetros de extensão entre os dois países, já existe aproximadamente mil quilômetros de cercas de concreto e outros tipos de barreiras já erguidas, que custaram ao governo norte-americano mais de 7 bilhões de dólares.
A estrutura já existente, entretanto, não é considerada suficientemente alta, forte e intransponível. O muro de Trump deve reforçar a barreira já existente e cobrir o restante da fronteira que está aberta.
Segundo o presidente dos Estados Unidos, o novo muro cobrirá 1.600 quilômetros e obstáculos naturais cuidarão do restante. Numa estimativa simples, Trump tende a construir 600 quilômetros a mais de barreira física, menos, portanto, do que os atuais obstáculos físicos já existentes.
O muro, na prática, é irrelevante. O que Trump está querendo, na verdade, é azedar o clima com o País vizinho que passa por sérias dificuldades domésticas. A pressão sobre Enrique Peña Nieto, presidente do México, com a construção do muro, aumentará, colocando os Estados Unidos em posição favorável em futuras negociações para reduzir seu grande déficit comercial (cerca de 60 bilhões de dólares) com o México.
Peña Nieto já caiu na primeira armadilha de Trump. O presidente do México afirmou ainda na quarta-feira que não pagaria pelo muro a ser construído na fronteira, em resposta aos ataques de Trump. Na manhã desta quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos contra-atacou dizendo que se o México recusa a pagar pelo muro, Peña Nieto deveria cancelar sua visita a Washington agendada para a próxima semana.
Em situação desagradável, e sem ter o que fazer, o presidente do México acabou cancelando sua visita a Washington. Com a tensão aumentando entre os dois países, os mexicanos sentirão que Peña Nieto não está fazendo o necessário para assegurar seus interesses (leia-se emprego).
O presidente dos Estados Unidos quer um novo imposto de 20% sobre todas as importações do México para pagar o muro a ser construído na fronteira. Na verdade, o muro parece ser apenas um motivo (ou desculpa) para criação de um imposto de alto potencial de impacto. Produtos mexicanos 20% mais caros podem atrair algumas fábricas de volta aos Estados Unidos.
Não por acaso Trump está concentrando seus ataques contra o México, deixando, por exemplo, o Canadá de lado. Além do déficit comercial da ordem de 60 bilhões de dólares, Trump tem outro bom motivo para partir pra cima de Peña Nieto. O presidente do México é, atualmente, o político mais fraco entre os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos.
Peña Nieto é altamente impopular, seu índice de rejeição é de cerca de 70% e manifestantes estão tomando as ruas do País pedindo sua renúncia. Os protestos ganharam volume após o presidente do México anunciar inesperadamente um aumento de até 20% nos preços da gasolina e do diesel.
O aumento é reflexo do corte de subsídios que mantinham os preços artificialmente baixos. Além disso, Peña Nieto se viu forçado a subir alguns impostos e cortar gastos com programas sociais na tentativa de conter o rápido avanço da dívida pública.
O choque nos preços dos combustíveis, por si só, pode levar o País a uma crise de inflação, desemprego e desaceleração econômica. A tensão com os Estados Unidos apenas aumenta a instabilidade para a economia mexicana, potencializando os efeitos negativos. Vulnerável, Peña Nieto não terá muito poder de barganha para renegociar o Nafta com os Estados Unidos.
No mercado de capitais, o clima de otimismo continua predominando nas principais praças financeiras mundiais. Nos Estados Unidos, o mercado acionário segue renovando máximas históricas.
Já o dólar contra cesta de principais moedas globais trabalha movimento corretivo de curto prazo, mas ainda distante da média móvel simples de 200 períodos diária e sem ameaçar a tendência principal de alta.
No Brasil, o índice Bovespa (BOV:IBOV) fechou mais um pregão em alta, aumentando o nível de sobrecompra à medida que novos candles de esgotamento temporário vão surgindo. Mercado segue comprado, porém esticado e perigoso para abertura de posições de curtíssimo prazo.