A minoria de parlamentares democratas em sinal de protesto no Congresso dos Estados Unidos não foi capaz de ofuscar a noite histórica de Donald Trump nesta última terça-feira. O presidente norte-americano saiu ovacionado da Casa após realizar um emocionante discurso em tom conciliador.
O primeiro pronunciamento de Trump no Congresso surpreendeu a oposição e parte da mídia local por adotar um viés mais positivo, bem diferente do discurso de posse feito no mês de janeiro deste ano. Mesmo mantendo o viés nacionalista, o presidente dos Estados Unidos evitou frases polêmicas e conseguiu transmitir uma imagem de político bem mais moderado.
Com esta nova postura, Trump deixa de fornecer material novo para seus críticos continuarem atacando, enfraquecendo o discurso da oposição. Na noite de ontem, em nenhum momento foram pronunciadas as palavras Rússia e Moscou. O discurso foi concentrado no fortalecimento da economia, na segurança das fronteiras e na reforma do sistema de saúde.
O ponto de maior destaque foi o reconhecimento, por parte do presidente, do erro cometido na comunicação da nova política migratória. Trump literalmente voltou atrás em sua decisão polêmica e pediu que os parlamentares republicanos e democratas trabalhem juntos para formular uma reforma migratória real e positiva, com foco na melhora de empregos e salários para norte-americanos e fortalecimento da segurança nacional.
Trump também pediu ao Congresso um dos maiores aumentos da despesa em defesa na história do País. De acordo com o Escritório de Orçamento da Casa Branca, o aumento de recursos para o Pentágono será de quase 10%, equivalente a 54 bilhões de dólares a mais.
Na visão do presidente, o aumento no orçamento é necessário para reconstruir as Forças Armadas dos Estados Unidos e eliminar os grupos terroristas, em especial o Estado Islâmico. Os números jogam a favor de Trump. Os gastos militares caíram de 738 bilhões de dólares em 2009 para 596 bilhões de dólares em 2016, ao passo que neste mesmo período os grupos terroristas tiveram forte crescimento na África e Oriente Médio.
Na área da saúde, Trump quer que seus Congressistas façam uma reforma do Obamacare, ponto onde os democratas tendem a impor maior resistência. Na área tributária, Trump confirmou que está em andamento uma reforma para reduzir impostos às empresas e proporcionar enorme alívio fiscal à classe média, mas não entrou em detalhes. Por fim, Trump também pediu ao Congresso aprovação de uma verba de 1 trilhão de dólares para construção de pontes, ferrovias, aeroportos, túneis, estradas, entre outras obras relevantes de infraestrutura.
Os americanos aprovaram a nova postura de seu presidente. Conforme sondagem realizada pela rede CNN, cerca de 57% da população considerou a mensagem de Trump como muito positiva e 69% estão mais otimistas acerca do futuro do País. Os números contrastam com o baixo nível de popularidade medido nos meses anteriores e sinalizam importante ponto de inflexão.
Na agenda doméstica, destaque para o avanço de 0,4% da inflação no mês de janeiro deste ano, bem acima das expectativas de 0,2%, atingindo o maior nível em quase quatro anos. Com esse resultado, a inflação norte-americana acumulada dos últimos 12 meses saltou de 1,6% em dezembro/2016 para 1,9% em janeiro/2017, praticamente colada na meta de 2% ao ano a ser perseguida pelo FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos).
A aceleração da inflação reforça a necessidade de novo aumento de 0,25 p.p. na Fed Funds (taxa básica de juros norte-americana) no curto prazo, possivelmente já na próxima reunião de Comitê a ser realizada nos dias 14 e 15 de março. No mês passado a chair do FED, Janet Yellen, traçou uma nova expectativa de rota para a política de aperto monetário durante aparição no Congresso, não tão cautelosa e gradualista quanto no passado recente.
Mesmo apresentando possibilidade de mudanças relevantes na estratégia de política monetária, a repercussão do discurso da chair do FED foi considerada pequena e indevida no mercado. Os juros futuros seguem oscilando dentro de uma congestão de curto prazo, levemente abaixo da máxima do ano passado. Mercado vendido e com espaço para manutenção da tendência principal (alta dos yields).
Em resposta ao aumento da inflação, os gastos dos consumidores norte-americanos subiram apenas 0,2% em janeiro deste ano, surpreendendo negativamente as expectativas dos economistas (estimava-se alta de 0,3%). Esse indicador é acompanhado de perto pelo FED, pois os gastos dos consumidores, que respondem por mais de dois terços da atividade econômica, precisam crescer de forma sustentada.
O mercado de ações abriu eufórico nesta quarta-feira, repercutindo a boa aceitação da nova postura conciliadora adotada pelo presidente dos Estados Unidos. Mesmo sob elevado nível de sobrecompra, o S&P500 rasgou mais uma máxima histórica, atingindo incríveis 2.395 pontos. Mercado segue comprado, mas extremamente esticado no curtíssimo prazo.
No Brasil, o índice Bovespa (BOV:IBOV) esboçou reação da força compradora no início do pregão ao tocar a LTA intermediária dos 56,8k, mas o movimento segue tímido e ainda insuficiente para reverter o viés vendido de curtíssimo prazo. Caso a LTA seja respeitada nos próximos pregões, o mercado volta a ter condições de eliminar as vendas da praça.
Destaque na agenda local para a nova redução das expectativas de inflação apontadas pela pesquisa Focus, de 4,43% para 4,36% no fechamento de 2017, inferior a meta de 4,50% a ser perseguida pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central). O número revela confiança dos economistas na estratégia de política monetária (embora muito agressiva e arriscada), o que abre espaço para manutenção do atual ritmo de afrouxamento monetário.