O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, afirmou nesta quarta-feira (10/10) que a recuperação do mercado de trabalho está vindo “um pouquinho mais rápida”, mas que esse movimento já estava contemplado no cenário do BC, que também considera o crescimento econômico e o retorno do consumo e dos investimentos.
Ilan argumentou que normalmente o Produto Interno Bruto (PIB) e o consumo mostram recuperação antes que o emprego, o que não está sendo observado. “É só uma questão de que variável vem antes. Mas quando você olha o todo, é uma recuperação gradual”, afirmou Ilan em entrevista durante o Reuters Latin American Investment Summit, ao ser questionado se isso já estava incorporado no cenário do BC.
Ilan também avaliou que a inflação medida pelo IPCA em julho, que subiu 0,24 por cento, acima do esperado pelo mercado, foi afetada pelo repasse dos preços de combustíveis, um pouco mais rápido do que o imaginado.
“Hoje, eles (preços monitorados) estão mais voláteis, é preciso ver a tendência”, afirmou. “Mudanças pontuais mês a mês não interferem na política monetária“, acrescentou.
Em 12 meses, o IPCA acumula alta de apenas 2,71 por cento, abaixo do piso da meta oficial, de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual.
Questionado se o comportamento amplamente favorável da inflação não corroborava visão de que o BC poderia ter sido mais agressivo no corte de juros e ajudar na recuperação da economia, Ilan afirmou que era preciso antes concluir o trabalho de ancoragem das expectativas de inflação.
“Eu acho que a gente tem que ficar satisfeito de ter uma política que permite que os juros sejam mais baixos. A gente tem que sair um pouco dessa ideia de que a inflação tem que sempre ficar ou na meta ou acima dela. Ela tem que flutuar em torno da meta”, completou.
No fim do mês passado, o BC cortou a Selic em 1 ponto percentual, ao patamar de 9,25 por cento ao ano, e indicou que deve repetir a dose na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em setembro.
TLP
Na entrevista, o presidente do BC reiterou a importância da Taxa de Longo Prazo (TLP), proposta pelo governo para substituir a TJLP como referência para os empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Ilan disse ainda que o banco de fomento continuará tendo liberdade para definir as taxas finais aos tomadores de empréstimos, e que isso não demanda alteração no projeto enviado ao Congresso Nacional sobre o tema.
“Eu acho que tem que dar um certo conforto para a sociedade que as pequenas e médias empresas vão continuar sendo razão do motivo de empréstimo do BNDES”, afirmou.
“Dependendo para quem você empresta, o tamanho (da empresa), coloca uma taxa maior ou menor… Esse olhar diferenciado, o BNDES vai continuar fazendo”, acrescentou Ilan.
Ao ser questionado sobre qual o cenário o BC levava em consideração sobre as reformas para a condução da política monetária, Ilan disse que a avaliação é “subjetiva” e “mais ampla”.
“Basicamente o que a gente olha é se as reformas vão colocar as contas públicas em ordem, se elas permitirão ao Brasil crescer mais rápido e se permitirão que a taxa estrutural da economia seja menor”, disse.
Sobre as eleições presidenciais do ano que vem e seu impacto sobre a economia e o mercado, Ilan afirmou ser “difícil saber”.
“A gente vai olhar a economia sempre. Como sempre, a gente não vai olhar a política, a gente vai olhar sempre os impactos do que tiver no mercado, na economia real, e isso a gente vai usar para poder tomar as nossas decisões”, afirmou.
Sobre o cenário externo, ele repetiu que há espaço para que continue benigno e que o BC segue confortável com o nível atual de swaps cambiais, em torno de 28 bilhões de dólares.
“Conforto significa que não tem problema nenhum de aumentar ou de diminuir ou de ficar igual”, disse.
Depois de o BC ter apontado em outras ocasiões que avaliava melhorar o caminho para bancos estrangeiros poderem atuar no país, Ilan indicou que o assunto saiu da pauta. O BC é o responsável por analisar e referendar a entrada de instituições estrangeiras interessadas em operar no Brasil, mas é preciso um decreto presidencial.
Por Marcela Ayres, Patrícia Duarte e Silvio Cascione
Fonte: Reuters