Os mercados brasileiros e de vários países emergentes tiveram um dia de perdas em meio à alta dos juros nos Estados Unidos. Os papéis de 10 anos do Tesouro americano atingiram hoje 3,12% ao ano, maior taxa desde julho de 2011, segundo as agências internacionais. Os juros nos EUA estão pressionados pelo aquecimento da economia, com o desemprego em 3,9%, um dos menores níveis da história, as turbulências provocadas pela guerra comercial declarada pelo presidente Donald Trump contra a China e demais parceiros comerciais, e a alta do petróleo, que ganhou força após Trump anunciar a saída do país do acordo nuclear com o Irã e a decisão de transferir a Embaixada Americana em Israel para Jerusalém.
Dólar comercial sobe para R$ 3,70 e turismo para R$ 3,91
No Brasil, nem mesmo a decisão do Copom de manter os juros em 6,5% ao ano, contrariando as indicações dadas uma semana antes pelo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, em entrevista da GloboNews, foi suficiente para segurar o dólar. A moeda abriu em abaixa, mas depois ganhou força, acompanhando o mercado internacional, e fechou perto das máximas do dia, em R$ 3,7012, maior cotação desde março de 2016, em alta de 0,62%. No mercado comercial, das viagens e cartões, a moeda americana atingiu R$ 3,91, alta de 2,36%. Diante da pressão externa, nem juro e nem leilões de swap cambial conseguem deter a desvalorização da moeda brasileira.
Dólar já subiu 2,88% na semana
O dólar acumula alta de 2,88% na semana, 5,66% no mês, 11,98% no ano e 18,70% em 12 meses. O risco medido pelo Credit Default Swaps (CDS) do Brasil de 5 anos subiu para 1,94 ponto percentual, ante 1,89 pontos da véspera, segundo o BB Investimentos.
A mudança de ideia do Copom pegou a maior parte do mercado de surpresa e provocou um forte ajuste das projeções dos mercados futuros de juros e nos títulos do Tesouro Nacional negociados no Tesouro Direto, que chegou a suspender os negócios no início da tarde, das 14h45 às 15h30. Os juros mais curtos subiram mais e os mais longos, um pouco menos, diante da perspectiva de que um controle maior da inflação permitirá taxas menores no longo prazo.
Ajuste faz BM&F bater recorde de contratos futuros
Na B3, o forte ajuste levou o mercado futuro de DI a registrar recorde de contatos negociados. No segmento BM&F, foram registrados 12.454.296 contratos até o fechamento mercado. O recorde anterior, registrado em 29/05/2013, contabilizava 10.816.811 contratos durante a data.
Os contratos de juros interbancários (DI) para janeiro de 2019, que dão a projeção da Selic para este ano, subiram de 6,32% ontem para 6,60% hoje, uma variação muito significativa, que trará perdas para fundos de renda fixa e multimercados. Fundos DI vão ser beneficiados, assim como papéis atrelados ao juro diário, como Tesouro Selic (LFT) ou CDBs, LCI e LCAs.
Os contratos para 2020 também tiveram alta forte, de 7,34% para 7,62% ao ano. E, mesmo para 2025, a taxa subiu, de 10,11% para 10,23% hoje.
Petrobras e Itaú caem mais de 5% e puxam Ibovespa para baixo
No mercado acionário, o Índice Bovespa recuou 3,37%, a maior queda em um ano, encerrando o dia em 83.621 pontos. A forte queda de papéis importantes do índice, como Petrobras e bancos, indica saída de estrangeiros do mercado. Petrobras PN caiu 5,26% e o papel ON, 4,49%, enquanto Itaú Unibanco recuou 5,23%. Com a queda de hoje, o índice acumula quedas de 1,88% na semana e 2,90% no mês, e altas de 9,45% no ano e 23,81% em 12 meses.
Volume alto indica saída de estrangeiros
O volume preliminar da Bovespa foi de R$ 16,35 bilhões, sendo R$ 15,59 bilhões no mercado à vista, bem acima da média de R$ 11 bilhões, um sinal da presença de grandes investidores, provavelmente estrangeiros, na ponta de venda. Na terça-feira, segundo o BB Investimentos, houve retirada líquida de capital estrangeiro de R$ 46,34 milhões na bolsa, elevando o saldo negativo do mês para R$ 300,27 milhões e reduzindo o saldo positivo do ano para R$ 4,12 bilhões.
Ibovespa só teve três altas; Cosan recompra ações da Shell
Apenas três papéis do Ibovespa subiram hoje: Cosan (bOV:CSAN3) com 0,85%, Eletrobras (BOV:ELET3), 1,28% e Energias do Brasil (BOV:ENBR3), 0,96%. A Cosan foi um dos papéis mais negociados no dia, por conta de um leilão de ações promovido pela Shell, que vendeu 4,2% do capital da companhia brasileira. A maior compradora do leilão, porém, foi a própria Cosan, que ficou com 3,21% do capital, ou 13 milhões dos 17 milhões de ações vendidas.
As maiores quedas foram de TIM Participações (BOV:TIMP3), 6,36%, B2W Digital (BOV:BTOW3), 6,16%, BRF (BOV:BFRS3), 5,82% e Estácio Participações (BOV:ESTC3), 5,75%.