O Departamento Econômico do Banco Itaú (BOV:ITUB4) reduziu as projeções de crescimento da economia brasileira para este ano e para o próximo, acompanhando os indicadores mais fracos divulgados recentemente de indústria, comércio e serviços.
O banco acredita agora que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileira vai subir 2% este ano, e não 3,0% como antes. Para 2019, a projeção de crescimento caiu de 3,7% para 2,8%, incorporando dados mais fracos no primeiro trimestre e menor espaço para aceleração da atividade devido à incerteza quanto ao avanço das reformas estruturais, diz relatório assinado pelo economista-chefe do banco, o ex-diretor do Banco Central (BC) Mário Mesquita.
Dólar em R$ 3,50 no fim do ano
O banco manteve a projeção de déficit primário deste ano em 1,9% do PIB, mas piorou o de 2019, de 0,9% para 1,2% do PIB. O reequilíbrio fiscal continua dependente de reformas, lembra o banco. Também a taxa de câmbio foi revisada, para 3,50 reais por dólar no fim de 2018 e 2019 (ante 3,25 e 3,30, respectivamente), incorporando os impactos do diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos nas mínimas históricas.
A projeção para inflação deste ano também subiu, de 3,5% para 3,7%, mas foi mantida em 4,0% para 2019. “Incorporamos no nosso cenário a taxa de câmbio mais depreciada, o aumento dos preços de petróleo e o crescimento mais baixo”, justifica o banco.
Juro ainda cai em maio
Sobre os juros, a evolução recente do cenário traz sinais ambíguos para a política monetária, mas o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve, seguindo sua sinalização recente, cortar 0,25 ponto percentual (p.p.) na próxima reunião da semana que vem, levando a taxa Selic para o mínimo histórico de 6,25% a.a. e encerrando o ciclo de flexibilização monetária, acredita o Itaú.
O banco também reviu a estimativa para o desemprego no fim de 2018, de 11,7% para 12,1%.
Economia mais lenta
O Itaú reduziu a projeção do PIB no primeiro trimestre de 0,5% para 0,3% (crescimento trimestral dessazonalizado), incorporando indicadores mais fracos no mês de março. A produção industrial recuou 0,1% no mês, com fraqueza disseminada. No mercado de trabalho, tanto a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) quanto o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram um ritmo abaixo do esperado do aumento da população ocupada. “Estimamos que a média móvel de três meses da criação de empregos formais recuou de 43 mil no 4T17 para 27 mil no 1T18”, diz o banco em relatório.
Além da fraqueza no primeiro trimestre, um conjunto amplo de indicadores sugere que o crescimento perdeu força, recuando em termos anualizados de 3,0% no segundo semestre de 2017 para 2,0% no começo do segundo trimestre deste ano. Essa avaliação vem do recuo dos índices de confiança em abril e da difusão dos principais indicadores mensais.
O indicador de demanda doméstica também arrefeceu, com os fatores momentâneos que sustentaram o consumo em 2017 (alta real dos salários durante a queda da inflação, aumento da ocupação informal e saque das contas inativas do FGTS) perdendo efeito, e a criação de empregos formais, que deveria ser o principal fator para novas altas da massa salarial real em 2018, desacelerando.
Tendência mais fraca
Olhando para frente, o Itaú acredita que a combinação de política monetária, balanços das empresas, conjuntura externa e incerteza quanto à evolução das reformas sugere pouco espaço para aceleração do crescimento – o banco estima que o crescimento subjacente acelere ligeiramente, para 2,5% em termos anualizados, no segundo semestre de 2018.
“Desse modo, reduzimos as projeções de crescimento do PIB de 3,0% para 2,0% em 2018 e de 3,7% para 2,8% em 2019”, diz o banco. O balanço de riscos para o cenário é neutro, com a perspectiva de crescimento oscilando de acordo com a confiança quanto ao avanço das reformas.
O Itaú destaca ainda que a evolução recente do dólar afeta negativamente o crescimento por dois canais: (i) prejudica a atividade no curto prazo (encarecendo importação de bens de capital e aumentando a alavancagem das empresas); e (ii) reduz a capacidade do Banco Central de estimular mais o crescimento (diante das evidências de impacto marginal maior de cortes de juros na taxa de câmbio). “Eventuais estímulos à atividade em função de um impulso às exportações e desestímulo às importações tendem a ocorrer com defasagem e tem magnitude limitada.”
O Itaú também elevou as projeções de desemprego, em linha com o crescimento menor do PIB. “Com modelos que levam em conta o nosso novo cenário de crescimento do PIB e as sensibilidades de diferentes tipos de ocupação em relação à atividade, elevamos a projeção de desemprego ao fim de 2018 de 11,7% para 12,1% (nosso ajuste sazonal, 1T18: 12,5%) e de 10,7% para 11,5% ao fim de 2019”, diz o relatório do banco. A taxa de desemprego média projetada para 2018 é de 12,3% (anterior: 12,0%) e, para 2019, é de 11,7% (anterior: 11,0%).