Analistas consideraram o negócio entre a Embraer (EMBR3) e a Boeing positivos para a empresa brasileira, por abrir espaço para crescimento e troca de tecnologias com a maior empresa aérea do mundo.
Mesmo assim, os papéis da Embraer estão em forte queda na bolsa, de até 15%, uma vez que boa parte do mercado esperava um valor maior para o negócio, entre US$ 6 bilhões e US$ 10 bilhões, e a avaliação da Embraer ficou em US$ 4,750 bilhões, explica a Guide Corretora. Mesmo assim, a operação será positiva para a companhia.
Na conferência com analistas, as empresas informaram que o acordo final deve ser fechado em novembro deste ano e então submetido ao governo brasileiro. A Embraer deve ter um ganho fiscal de 20% e uma opção em 10 anos para vender sua parte de 20% na joint venture para a Boeing.
As dívidas da Embraer também devem ser transferidas para a nova empresa e a companhia diz que pretende pagar um dividendo especial ou lançar uma recompra de ações.
Bradesco eleva preço de ação
O Bradesco aumentou o preço- alvo para as ações da Embraer após a empresa anunciar a associação com a Boeing para a criação de uma empresa de aviação comercial para aeronaves de médio porte. O banco elevou o preço de US$ 29 para US$ 31, mas manteve a recomendação “neutra” para o papel.
Segundo relatório assinado pelos analistas Victo Mizusaki e Raphael Frankel, o acordo saiu de acordo com o previsto pela instituição, que a empresa teria um valor de US$ 4,2 bilhões. Como o negócio saiu com valor de US$ 4,75 bilhões, o banco estima que a Boeing estimou US$ 1,9 bilhões em sinergias. O Bradesco justificou sua recomendação neutra afirmando que o potencial de valorização do papel é baixo, 35%.
O banco estima também que a Boeing poderia ajudar a Embraer a distribuir seus produtos de defesa, que ficou de fora da joint venture de fabricação por envolver interesses estratégicos do Brasil. Mas o Bradesco vê pouco potencial nessa parceria pois a Boeing já é responsável pela venda do novo cargueiro da Embraer, o KC390.
Acordo extremamente positivo
A nova parceria com a Boeing é extremamente positiva para Embraer, pois ela fortalece a capacidade de vendas da empresa, fruto do posicionamento estratégico dos canais/rede de venda da Boeing, avalia a Guide Investimentos.
O acordo também cria maior valor agregado aos clientes das companhias, uma vez que o portfólio de Boeing/Embraer é complementar e a estrutura de suporte/assistência deve se tornar mais eficiente. As sinergias de custo/ despesas e de cadeia de suprimentos são expressivos, algo que pode impulsionar a lucratividade e crescimento da companhia e, além disso, há um ganho com menor custo de capital.
A Guide avalia que, para a Embraer, novos aportes são interessantes, uma vez que o setor passa por um movimento de consolidação. Recentemente, houve a parceria Airbus-Bombardier, onde a Airbus adquiriu uma participação majoritária no programa C-Series da companhia francesa.
A nova parceria Boeing e Embraer é uma resposta à essa concorrência agressiva (também envolvendo players chineses), e abre mais espaço para oportunidade de crescimento no mercado global de aviação.
Para a Boeing, o movimento também é estratégico, uma vez que a empresa americana quer ter produtos no segmento de jatos para passageiros com capacidade para menos de 150 assentos, onde Embraer segue como líder mundial.
Sobre a reação negativa dos mercados, a Guide avalia que, em um primeiro momento, o valor envolvendo o segmento de aviação comercial da Embraer veio ligeiramente abaixo do esperado pelo mercado (a expectativa era de um número próximo de US$ 6-10 bilhões).
“Ainda assim, destacamos que o acordo avalia o segmento comercial da Embraer no mesmo patamar do valor de mercado atual da Embraer. Ou seja: há valor a ser destravado aos acionistas, em especial, quando nos referimos aos segmentos de Defesa e Executivo”, diz a corretora. Além disso, há ainda alguns obstáculos a serem esclarecidos sobre o novo negócio. Algo que contribuiu para a queda mais acentuada dos papéis, diz a Guide.
Melhores vendas e tecnologia
De acordo com o economista-chefe da corretora Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, a abertura de uma joint venture entre a Embraer e Boeing pode fortalecer o poder das vendas da empresa brasileira, além de agregar novas tecnologias.
“A operação é positiva para a Embraer e estratégica para ambas as empresas”,afirma o economista. A combinação de negócios deve aumentar o potencial de vendas e criar mais valor aos seus clientes, com um portfólio de produtos sinérgicos e uma rede de assistência mais eficiente.
A Boeing vê na nova família de jatos comerciais da Embraer, chamada de E2, a possibilidade de crescimento orgânico. Do lado da Embraer, surge a possibilidade de ganhar um pedaço do mercado de jatos regionais de menos de 130 lugares, antes liderado pelo duopólio Boeing e Airbus, explica Beatriz Martins, Analista de Investimentos da DMI Group.
Porém, existe um receio dos fornecedores locais ao ampliar o acesso ao mercado internacional, já que o acordo não preserva os fabricantes nacionais. Ou seja, as empresas brasileiras poderiam perder espaço para a concorrência internacional.
Entretanto, muitas delas conseguem enxergar uma oportunidade de alcançar o mercado global. “A Agência Nacional de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que já trabalha em parceria com a Embraer, entende que o acordo é uma oportunidade para o fortalecimento da cadeia de fornecedores, posicionando as nossas empresas de forma mais competitiva no mercado global”, explica seu presidente, Guto Ferreira.