O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros em 6,5% ao ano e repetiu basicamente a visão sobre a tendência de inflação sob controle, economia fraca e a necessidade de juros abaixo do normal para estimular a economia da reunião anterior.
O Copom manteve ainda uma porta aberta para novas reduções dos juros, ao afirmar que o balanço de riscos inclui uma queda maior da atividade, que permitiria juros ainda menores, mas condicionados à aprovação das reformas fiscais, em especial da da Previdência.
O Comitê reconheceu que houve melhora no cenário externo de curto prazo, com a perspectiva de que os juros não subam tanto nos Estados Unidos e na Europa, mas ao mesmo tempo cresceu o risco de médio prazo, de desaquecimento ou até recessão nos países desenvolvidos, com as disputar comerciais entre EUA e China e o impasse em torno da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit).
Ano de 2020 começa a entrar no radar
Para a consultoria Rosenberg Associados, o comunicado desta reunião não traz alterações na avaliação da inflação e da atividade econômica; porém, relata uma redução na percepção dos riscos externos.
Enfatizou o peso ainda pequeno, porém crescente, da projeção de inflação para 2020: no cenário de mercado, com câmbio e juros da pesquisa Focus, a inflação projetada para o próximo ano passou de 3,6% em dezembro para 3,8% agora. Um número que ainda está abaixo da meta de 4%, destaca a Rosenberg. No cenário de referência, com câmbio em R$ 3,70 e Selic a 6,5% ao ano, a inflação esperada para 2019 é de 3,9% e 4% em 2020 (na meta, portanto).
Se não cai, fica estável
Para não correr o risco de criar a expectativa de uma queda de juros logo mais, no entanto, o Copom reforçou que ainda existe uma “assimetria no balanço de riscos de inflação”. Trouxe, ainda, o parágrafo da recomendação de “cautela, serenidade e perseverança”, apresentado na Ata da última reunião e no RTI (mas não no comunicado de dezembro).
Assim, a Rosenberg avalia que a mensagem trazida por este comunicado reforça a perspectiva de estabilidade de juros no cenário atual: seria preciso que uma evolução pior da atividade, ou melhor das reformas/cenário externo, alterasse seu balanço de riscos e eliminasse a assimetria, para trazer a discussão de nova queda de juros à mesa. “Por ora, este não é nosso cenário base, razão pela qual mantemos a expectativa de Selic estável ao longo do ano”, afirma a consultoria.
Goldfajn de saída
Esta pode ter sido a última reunião com Ilan Goldfajn como presidente do Banco Central (BC). Ele não quis continuar no cargo no novo governo e deverá ser substituído por Roberto Campos Neto, indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas, antes, Campos Neto terá de ser sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que ainda está sendo escolhida. A expectativa é que a sabatina ocorra no fim deste mês.
Depois, será preciso acompanhar se o novo presidente vai manter a linha de comunicação com o mercado adotada na gestão de Goldfajn, com longas notas e explicações após cada decisão de política monetária, no estilo do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, banco central americano). Respeitado economista de carreira, Goldfajn sempre gostou de expor as teses discutidas pelo BC ao mercado, reforçando a transparência das decisões.
Já Campos Neto tem um estilo mais de operador, tendo trabalhado como gestor de recursos na Claritas e depois na Tesouraria do Santander. Um estilo que costuma ser mais econômico com as palavras para o mercado.
Abaixo, a íntegra do comunicado do Copom.
“O Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 6,50% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
Indicadores recentes da atividade econômica continuam evidenciando recuperação gradual da economia brasileira;
O cenário externo permanece desafiador, mas com alguma redução e alteração do perfil de riscos. Por um lado, diminuíram os riscos de curto prazo associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas. Por outro lado, aumentaram os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, como as disputas comerciais e o Brexit;
O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis apropriados ou confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;
As expectativas de inflação para 2019, 2020 e 2021 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,9%, 4,0% e 3,75%, respectivamente; e
No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,9% para 2019 e 3,8% para 2020. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 6,5% a.a. e se eleva a 8,00% a.a. em 2020. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$/US$ 3,70 e 2020 em R$/US$ 3,75. No cenário com juros constantes a 6,50% a.a. e taxa de câmbio constante a R$/US$ 3,70*, as projeções situam-se em torno de 3,9% para 2019 e 4,0% para 2020.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções, mas com maior peso nos dois últimos riscos, portanto, com assimetria. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. Esse risco se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes. O Comitê avalia que, desde o último Copom, especialmente quanto ao cenário externo, houve arrefecimento dos riscos inflacionários.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros em 6,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019 e, com peso menor e gradualmente crescente, de 2020.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Comitê enfatiza que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente. O Copom ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
O Copom avalia que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Carlos Viana de Carvalho, Carolina de Assis Barros, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel.”