O mercado brasileiro ignora a melhora do humor internacional, com os investidores preocupados com o cenário político e econômico local. O Índice Bovespa recuava às 14h10 0,92%, para 91.248 pontos, enquanto o dólar subia 0,36%, para R$ 3,99. Já nos EUA, o Índice Dow Jones sobe 0,45%, o Standard & Poor’s 500 ganha 0,59% e o Nasdaq, 0,95%. Na Europa, o Índice Euro Stoxx 600 sobe 1,72% após o presidente Donald Trump sinalizar que vai adiar a entrada em vigor de alíquotas de importação mais altas para carros europeus.
No Brasil, os investidores estão preocupados com a situação política. “Há muito ruído interno, muita cautela e preocupação”, afirma Pablo Stipanicic Spyer, diretor da corretora Mirae Asset. O ruído inclui protestos contra cortes na Educação, a convocação do ministro para depor hoje no Congresso, dificuldades da articulação política do governo e investigações envolvendo familiares do presidente Jair Bolsonaro.
Tsunami do Zero-1
Uma das principais preocupações do mercado é com a queda de sigilo bancário e telefônico do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), nas investigações sobre irregularidades cometidas por seu assessor Fabrício Queiroz. O assessor movimentou recursos muito acima de sua renda e chegou a depositar um cheque na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O presidente Jair Bolsonaro explicou o depósito como um pagamento por um empréstimo feito a Queiroz, que até hoje não conseguiu explicar a origem dos recursos.
O caso está sendo chamado de “tsunami” pelo mercado pois, na semana passada, o presidente Bolsonaro afirmou que havia possibilidade de um evento desses esta semana, sem detalhar ao que se referia.
Derrotas em série
As denúncias contra o filho do presidente se juntam às derrotas em série do governo no Congresso, que podem resultar no cancelamento da reforma administrativa que reduziu o número de ministérios. A Medida Provisória vence no começo de junho e os parlamentares já fizeram mudanças para ressuscitar o Ministério das Cidades e transferir o Coaf do Ministério da Justiça, de Sérgio Moro, para o da Economia, como estava antes.
Protestos de estudantes e ministro convocado
Além dessas derrotas, o governo enfrenta outra crise envolvendo o corte de verbas para as universidades federais. Parlamentares que se reuniram com Bolsonaro ontem afirmam que ele teria mandado o ministro da Educação, Abraham Weintraub, cancelar o corte, mas o governo nega e diz que houve um “mal-entendido”. A resposta dos parlamentares foi convocar Weintraub para um depoimento hoje na Cãmara, às 15 horas, para explicar os cortes. A convocação do ministro teve apoio quase unânime, tanto de partidos de oposição quanto de apoio ao governo, com exceção do PSL, do presidente, e do Novo.
Tudo isso resulta na expectativa de que o governo terá pouca força para discutir a reforma da Previdência no Congresso. Se vários partidos já manifestaram apoio às mudanças, muitas querem reduzir os cortes para agradar suas bases eleitorais, o que pode prejudicar o corte de gastos previsto.
Além do depoimento, escolas particulares e públicas realizam hoje protestos em todo o país contra os cortes na educação e a forma como foram feitos, com base em critérios ideológicos, depois negados pelo novo ministro, que alegou falta de recursos por conta da crise econômica. O presidente Bolsonaro, por sua vez, chamou os alunos que protestam de “idiotas úteis”, que estariam sendo usados como instrumento político de “espertalhões”.
Enquanto a política pega fogo, a atividade econômica esfria, como mostra o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) de março, que veio abaixo do esperado. A expectativa é de que o PIB brasileiro caia no primeiro trimestre deste ano.