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Quem é a Gilead, fabricante do Remdesivir, em teste contra o coronavírus

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Uma empresa até então pouco conhecida fora do mundo médico ganhou as manchetes globais e mexeu com os mercados nos últimos dias. É da farmacêutica americana Gilead Sciences, com sede na Califórnia, nos Estados Unidos, que vem o antiviral batizado de Remdesivir, um remédio que vem sendo testado contra a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

Gilead Sciences é negociada na B3 através da BDR (BOV:GILD34)

Fundada em 1987 pelo médico Michael L. Riordan, a empresa é uma das maiores fabricantes de medicamentos dos Estados Unidos e faz parte do índice S&P 500, que reúne as companhias mais importantes da bolsa americana. No Brasil, a farmacêutica tem escritórios em São Paulo e em Brasília.

A busca por uma solução de combate ao coronavírus não vem da Gilead por acaso, já que a empresa é conhecida por seus medicamentos antivirais. Antes da explosão da busca pelo Remdesivir, a empresa era buscada, por exemplo, por ter alguns dos principais remédios no mercado para complicações geradas pelo vírus HIV e pela hepatite. A companhia comercializa 25 medicamentos nos EUA e tem 11.000 funcionários, segundo seu site oficial.

A Gilead faturou em 2019 22,5 bilhões de dólares e teve lucro de 5,4 bilhões de dólares. A empresa vale 103,8 bilhões de dólares na Nasdaq, uma das bolsas de Nova York.

Só neste ano, com o otimismo dos investidores pelos testes bem-sucedidos do Remdesivir, as ações da Gilead subiram 26%. O papel foi da casa dos 65 dólares no começo do ano para 82,21 dólares no fechamento do pregão de quarta-feira, 29.

Mesmo antes do Remdesivir, a farmacêutica já vinha em uma década de valorização. Desde o começo dos anos 2010, a ação da companhia valorizou mais de 280%. O índice S&P 500, no mesmo período, subiu 132%.

A alta nos últimos dez anos vem de movimentos importantes da Gilead para consolidar sua posição no mercado de antivirais. Em 2011, a empresa comprou a concorrente Pharmasset, também americana, por 10,4 bilhões de dólares, no que foi seu maior negócio até então.

A Pharmasset também faz remédios contra doenças como HIV e hepatite. Um dos medicamentos da empresa é o Solvadi, um dos mais importantes do mundo no combate a hepatite C — o sucesso do remédio fez a Forbes descrever a aquisição da Pharmasset pela Gilead como “uma das melhores aquisições na história do setor farmacêutico”.

Preços polêmicos

A Gilead, assim como outras companhias do setor farmacêutico, entrou ao longo da história recente em algumas polêmicas envolvendo o preço de seus remédios, sendo questionada por vender medicamentos essenciais a valores altos. Desde que o remédio Solvadi, por exemplo, foi aprovado para uso contra hepatite C nos EUA, em 2013, a empresa vem uma batalha judicial de anos com o governo americano em virtude dos preços.

No tratamento de pacientes com HIV, a Gilead também esteve em meio a um imbróglio para vender seus remédios a preços menores em países em desenvolvimento, sendo cobrada por órgãos como a associação Médicos Sem Fronteiras. Novamente nos EUA, a empresa foi processada pelo governo do presidente Donald Trump no ano passado por usar pesquisa do Departamento de Saúde americano na produção de um remédio contra o HIV sem pagar royalties ao Estado, segundo o jornal The New York Times.

No Brasil, a Gilead esteve nos últimos anos no centro de uma disputa sobre o sofosbuvir, também contra hepatite C. Entidades protocolaram pedido no Cade, órgão de defesa da concorrência, contra o que chamaram de abuso de patente da Gilead na venda do sofosbuvir, com o produto podendo custar mais de 1.000 reais.

A Gilead ganhou o direito de patente do remédio no começo de 2019, e disse em resposta à imprensa no ano passado que a obtenção dos direitos exclusivos foi “irrelevante no estabelecimento de preços de medicamentos para o tratamento da hepatite C”. A EXAME tentou contato nesta quinta-feira, 30, com as assessorias de imprensa da Gilead nos Estados Unidos e no Brasil sobre o caso e aguarda resposta.

Remdesivir e o coronavírus

Agora, caso os testes com Remdesivir caminhem, a Gilead pode novamente estar em meio a um imbróglio com preços e patentes de um de seus medicamentos. O remédio é usado no tratamento de complicações causadas por outro vírus, o Ebola. Os testes contra a covid-19 começaram já no começo deste ano, em janeiro e fevereiro, quando a doença ainda estava majoritariamente restrita à China.

Alguns testes preliminares com o Remdesivir vêm tendo sucesso, o que levou não só as ações da Gilead mas todo o mercado de ações global a subir nos últimos dias, em meio ao otimismo com um potencial tratamento para a pandemia que paralisou o mundo.

Um estudo publicado no Journal of Virus Eradication e citado pela agência Bloomberg estimou quanto custaria produzir em massa nove medicamentos que vêm sendo testados contra o coronavírus, incluindo o Remdesivir e a hidroxicloroquina. Se escalado para produção em larga escala, o Remdesivir, estimam os pesquisadores, poderia ser produzido ao custo de cerca de 9 dólares para um tratamento de dez dias.

A projeção leva em conta uma fabricação em massa, o que uma única empresa é incapaz de fazer sozinha, segundo fontes do setor de saúde ouvidas pela EXAME. No caminho para uma produção dessa amplitude, pode haver ainda outros empecilhos como falta de matéria-prima, o que já vem ocorrendo com outra substância testada, a hidroxicloroquina, cuja matéria-prima dos medicamentos vem da Índia.

Em carta aberta à Gilead, mais de 150 organizações sociais e ativistas do mundo todo pedem, desde o fim do mês de março, que a empresa abra mão de reivindicar direitos exclusivos sobre o Remdesivir.

Na quarta-feira, 29, o presidente da Gilead, Daniel O’Day, publicou um comunicado dizendo que a empresa vem trabalhando nos testes e na ampliação da produção do Remdesivir desde janeiro. Ainda sem maiores detalhes, O’Day disse que a farmacêutica está disposta a colaborar com governos e mesmo com outras empresas para ampliar a oferta.

Segundo o comunicado, a Gilead tem estoque de 1,5 milhão de doses individuais do Remdesivir, o suficiente para 140.000 tratamentos de dez dias de duração — testes vêm mostrando eficácia contra a covid-19 em períodos ainda mais curtos, o que pode aumentar a disponibilidade do estoque, diz a empresa.

“Na parte de oferta, estamos trabalhando para construir um consórcio global de empresas químicas e farmacêuticas para expandir a capacidade global e produção. Será essencial que os países trabalhem juntos para criar oferta suficiente para as pessoas em todo o mundo e estamos ansiosos para esses esforços colaborativos”, escreveu O’Day.

(Por Carolina Rivieira)

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