Os BDR (sigla para Brazilian Depositary Receipts) são recibos de ações negociadas em bolsas estrangeiras que funcionam como representantes dessas ações na bolsa brasileira.
Antes, a maior parte dos BDR, notadamente aqueles que representavam ações das companhias gringas mais renomadas e populares entre os investidores, era restrita a investidores qualificados, aqueles com mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras.
Felizmente a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) derrubou essa regra, passando a permitir que mesmo os pequenos investidores acessem esses papéis. Isso significa que, a partir de agora, qualquer brasileiro poderá se tornar sócio de empresas como Apple, Facebook, Google e Amazon.
Mas por onde começar? Em quais BDR investir? Afinal, são 550 BDR acessíveis ao investidor brasileiro hoje, mais do que as 330 ações brasileiras na B3.
As áreas de análise das corretoras já estão se preparando para assessorar os investidores nesse sentido, e hoje a XP Investimentos emitiu a sua primeira carteira recomendada de BDR, com seus 10 papéis preferidos. Confira a lista da XP:
Facebook (FBOK34)
Além do Facebook, a companhia também é dona do Instagram, WhatsApp e Messenger, com quase 1/3 da população global (2,5 bilhões de pessoas) acessando pelo menos uma das suas plataformas diariamente.
Em relação às receitas, 98% vem de anúncios, e a diversificação geográfica é vasta, com metade do faturamento vindo de fora dos Estados Unidos. O Facebook tem mais de 9 milhões de anunciantes ativos, que realizam 180 milhões de negócios utilizando suas ferramentas todos os meses.
Apostas de crescimento: Varejo social (Facebook Shops & Instagram Shopping) / Meios de pagamento (WhatsApp Pay & Facebook Pay).
Johnson & Johnson (JNJB34)
A companhia tem suas receitas divididas em três segmentos: farmacêutico (52%), equipamentos médicos (31%) e bens de consumo, como produtos de higiene e cuidado pessoal (17%).
Os analistas da XP consideram a ação defensiva para cenários de incerteza, dado que a empresa é uma sólida pagadora de dividendos (em 2019, aumentou o pagamento pelo 57º ano consecutivo), possui robusta posição de caixa (US$ 18 bilhões) e consistente crescimento de receitas no segmento farmacêutico (aproximadamente 8% ao ano nos últimos 20 anos).
Apostas de crescimento: pesquisa, desenvolvimento e distribuição de novos medicamentos (exemplo: vacina para Covid-19 e tratamento de mielomas), retomada da demanda por equipamentos cirúrgicos em 2021 e potenciais aquisições de novas patentes e de companhias farmacêuticas menores.
Amazon (AMZO34)
Apesar de as vendas on-line representarem 50% do faturamento da Amazon, representam só 12% do lucro. A maior parte do lucro vem do seu serviço de computação em nuvem, conhecido como Amazon Web Services (AWS), que fatura US$ 40 bilhões por ano. A companhia também oferece pacotes de serviços (Amazon Prime), que incluem desde planos de entregas rápidas a filmes e séries sob demanda.
Para os analistas da XP, a empresa está bem posicionada para se beneficiar da migração para o digital, devido à sua capacidade logística e tecnológica.
Apostas de crescimento: Tecnologia aeroespacial / Logística para terceiros / Carros autônomos (Zoox).
Microsoft (MSFT34)
A Microsoft é líder absoluta no mercado global de sistemas operacionais, com o Windows instalado em 3/4 dos computadores pessoais do planeta. Em dispositivos móveis, sua participação se mantém em 30% dos aparelhos.
O faturamento é dividido em três segmentos, cada um representando aproximadamente um terço do total: computação pessoal (que inclui Windows e Xbox), produtividade e processos (que inclui o pacote Office 365, SharePoint, Skype e LinkedIn) e nuvem (que inclui o Azure, SQL e Windows Server). Metade das receitas vêm de fora dos EUA.
Apostas de crescimento: Trabalho remoto (Office 365) / Computação em nuvem (Azure) / Games em nuvem / Plataforma social (possível aquisição da TikTok).
Alphabet (Google) (GOGL34)
O Google possui 86% do mercado global de ferramentas de pesquisa, 3/4 do mercado de compartilhamento de vídeos, por meio do YouTube, e seu sistema operacional Android está presente em 3,4 dos aparelhos móveis do planeta.
Quanto ao faturamento, 85% das receitas
vem dos anúncios direcionados em suas plataformas, enquanto outros 14% são compostos pelos serviços (Google Play) e nuvem (Google Cloud). Há ainda 1% advindo dos negócios em estágio inicial, mas com potencial revolucionário (Moonshots).
Apostas de crescimento: Inteligência Artificial / Direção Autônoma (Waymo) / Saúde (Calico & Verily Life).
Disney (DISB34)
A Disney atua nos segmentos de TV por assinatura (35% das receitas), parques de diversão e hotéis (37%), estúdio e entretenimento (15%) e venda de produtos com a marca Disney (13%).
Segundo a XP, apesar de os parques estarem com as operações reduzidas atualmente, em razão da pandemia de covid-19, a companhia continua bem posicionada estruturalmente e com vantagens competitivas de longo prazo intactas.
“O poder da marca, combinado com a produção de animações num mundo onde pessoas consomem cada vez mais conteúdo digital, são a fórmula para a companhia gerar valor e lucro no longo prazo”, diz o relatório.
Os analistas destacam ainda a capacidade de inovação da Disney, que recentemente lançou o Disney+, seu serviço de streaming, por um preço mais competitivo que o da Netflix. Eles lembram que o Disney+ superou até as mais otimistas expectativas, pois quase 30% do mercado alvo existente nos EUA já assina o serviço, e 37% assina o Hulu, também da Disney.
Apostas de crescimento: Plataforma de streaming (Disney+).
Activision Blizzard (ATVI34)
A desenvolvedora, produtora e distribuidora de games tem seu faturamento dividido em três segmentos, em proporções similares: Activision, criadora de games e organizadora de campeonatos de eSports, com mais de 130 milhões de jogadores mensais e responsável pelo sucesso Call of Duty; Blizzard, outra desenvolvedora, desta vez responsável pelo sucesso World of Warcraft e por plataformas de jogos on-line, com 30 milhões de jogadores mensais; e King, segmento para dispositivos móveis, com mais de 250 milhões de jogadores mensais nas plataformas Android, iOS e Facebook.
Apostas de crescimento: Jogos grátis (com compras dentro do jogo) / Jogos para dispositivos móveis.
Berkshire Hathaway (BERK34)
A holding do megainvestidor Warren Buffett detém o controle e participações minoritárias em empresas de diversos segmentos, de joalherias a fabricantes de refrigerantes. Mas aproximadamente 80% das suas receitas são provenientes do ramo de seguros (principalmente da GEICO) e os 20% restantes advêm de transporte ferroviário e geração de energia.
Segundo a XP, os principais fatores que atraem os investidores para a companhia são o compromisso de Buffett com transparência e governança, o histórico de sucesso dos investimentos em empresas sólidas, como Coca-Cola, American Express, Gilette e Apple, além do alinhamento de interesses entre a administração e os acionistas.
Nike (NIKE34)
A Nike tem 96% das suas receitas advindas das vendas de calçados (Nike e Converse) e roupas, com 60% das vendas acontecendo fora da América do Norte. Hoje, apenas 23% da produção da companhia ocorre na China, com 49% acontecendo no Vietnã, o que protege parcialmente a companhia das tensões comerciais entre EUA e China, diz a XP.
Para os analistas, a empresa está bem posicionada frente aos competidores, com uma marca forte e uma estratégia disruptiva de vendas digitais. O canal direto de vendas on-line (Nike.com) cresce 35% ao ano. “O objetivo é que este canal seja responsável por 50% das receitas até 2023, crescendo dos atuais 31%, que impulsionará as margens”, diz o relatório.
“Além do cenário construtivo no mundo dos esportes, outros fatores podem ajudar a gerar crescimento adicional, como o aumento do poder de compra de consumidores mais jovens, sobretudo na China (10% da receita) e maior penetração no segmento premium de vestuário e itens femininos”, completam os analistas.
Alibaba (BABA34)
Conhecida com a Amazon chinesa, a gigante transaciona US$ 1 trilhão em produtos nas suas plataformas por ano, sendo 95% do volume local na China. Tem 750 milhões de clientes anuais e, segundo a XP, está bem posicionada para capturar um mercado cada vez mais acostumado a consumir produtos on-line.
O faturamento da companhia tem crescimento em ritmo acelerado de aproximadamente 30% ao ano. O varejo compõe 90% das receitas, mas a empresa também busca expandir o seu segmento de computação na nuvem, que já representa 9% das receitas e cresce cerca de 60% ao ano.
Vantagens de investir em BDR
Conforme a própria XP elenca no seu relatório, o investimento em BDR possibilita uma diversificação interessante da carteira de ações do investidor, pois conta com as seguintes vantagens:
- Acesso a um mercado muito maior que o brasileiro: com valor de apenas US$ 700 bilhões – menos do que o valor de mercado da Apple – o mercado de ações brasileiro representa apenas 0,8% do mercado de ações mundial. Os BDR permitem ao investidor acessar as empresas que compõem os principais índices de ações das bolsas americanas, como o S&P 500 e o Nasdaq, que representam, respectivamente, 15% e 33% do mercado mundial.
- Diversificação por empresas e setores: além da grande quantidade de BDR disponíveis na bolsa brasileira, muitas empresas estrangeiras atuam em setores subrepresentados no mercado local. Os BDR são, portanto, uma forma de se expor a esses setores.
- Diversificação geográfica: além de a maioria das empresas que negociam BDR serem americanas, boa parte das receitas delas vem de fora dos EUA, proveniente de diversas partes do mundo.
Investidor brasileiro poderá investir em BDRs a partir desta quinta-feira (22)
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aprovou as últimas mudanças no regulamento da B3 (BOV:B3SA3), dona da bolsa brasileira, para viabilizar a negociação de BDRs (Brazilian Depositary Receipts) pelo investidor pessoa física.
Em outras palavras, com essa aprovação, as corretoras podem oferecer esses papéis, desde que representem ações de empresas estrangeiras ou ETFs negociados em um “mercado reconhecido”, a partir do dia 22 de outubro.