A Marfrig Global Foods (BOV:MRFG3) recebeu nesta sexta-feira (23) a autorização da China para retomar os embarques de carne bovina da unidade de Várzea Grande (MT), que haviam sido suspensos em junho em meio à crise da Covid-19, informou a companhia.
O mesmo ocorreu com a unidade de Dourados (MS) da BRF, que retomará as exportações de frango ao país asiático após inspeções das autoridades chinesas.
Procurado, o Ministério da Agricultura afirmou à Reuters que a Administração Geral das Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês) atualizou nesta sexta-feira a lista de estabelecimentos aprovados para exportar ao mercado chinês, retirando as suspensões de duas plantas brasileiras.
“As autoridades chinesas concluíram que as medidas adotadas pelo Ministério da Agricultura e pelos estabelecimentos foram satisfatórias e adequadas para o atendimento às exigências chinesas.”
Apetite da China por carne bovina veio para ficar, diz Marfrig
As importações de carne bovina da China devem seguir crescendo em meio a um contínuo aumento de demanda, de acordo com a segunda maior produtora do mundo.
Embora alguns observadores do mercado comecem a questionar se as importações de carne chinesas continuarão a aumentar com a rápida reposição de seu plantel de suínos, a Marfrig Global Foods diz que o efeito da peste suína africana sobre a demanda de carne bovina pela China deve permanecer até 2022. Depois disso, a demanda continuará crescendo com a mudança da população rural para as cidades.
“Tudo indica que o fenômeno China veio para ficar”, disse Miguel Gularte, diretor-presidente da Marfrig, em entrevista. “Cada 100 gramas de aumento per capita no consumo chinês são 2 mil toneladas de importação a mais. A demanda vai continuar crescendo com maior distribuição de renda e urbanização.”
O potencial fica claro quando se compara o consumo per capita de carne suína chinesa, de 47 quilos por ano, com o consumo de carne bovina, de 5 quilos, segundo Gularte.
Embora números recentes mostrem uma rápida recuperação do plantel suíno chinês, a oferta de carne suína deve continuar caindo no próximo ano. O país asiático ainda será o maior cliente da oferta da América do Sul. A China responde por mais de 70% das exportações de carne bovina da região e por cerca de 60% do Brasil.
Os embarques de carne bovina do Brasil desaceleraram no mês passado. Os valores em dólar caíram em relação ao ano anterior pela primeira vez em 2020, incluindo para a China, segundo dados do governo.
Economias emergentes, impulsionadas pela desvalorização cambial, continuarão a desviar grande parte da produção para o mercado externo. No Brasil, as fortes exportações ajudarão processadores de carne a compensar a queda da demanda doméstica em meio à crise econômica e ao fim do auxílio mensal que ajudou a sustentar o consumo de alimentos, disse o executivo.
Até agora, o programa de auxílio emergencial está “funcionando bem”, o que ajuda a apoiar a demanda no atacado, enquanto as vendas em food service mostraram forte recuperação. Nas últimas duas semanas, atingiram 90% da média diária de vendas da Marfrig antes da pandemia de Covid-19, de acordo com Gularte. O amplo programa do governo, que beneficiou cerca de 30% da população, expira no fim do ano.
“Qualquer excedente de oferta será direcionado para exportação, e quando você fala em exportação se refere à China.”