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Após o advento do PIX, BC segue trilhando caminho da próxima revolução digital ao "open banking" no Brasil

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Após o advento do PIX, sistema que permite transferências e pagamentos de forma quase imediata em tempo integral, o Banco Central segue trilhando o caminho da próxima revolução digital: a implementação do chamado “open banking” no Brasil, com início de todas as funcionalidades previsto para outubro de 2021.

O “open banking” será uma plataforma, desenvolvida pelos participantes do sistema financeiro com regulamentação do governo e supervisão do BC, a fim de permitir que os clientes possam compartilhar dados bancários e históricos de transação com bancos e “fintechs” (pequenas empresas de tecnologia em serviços financeiros).

Com essas informações, atualmente em posse somente dos bancos com os quais os clientes trabalham, outras instituições financeiras poderão analisar melhor o risco envolvido nas operações bancárias e oferecer menores taxas de juros para empréstimos, por exemplo, ou um retorno maior para aplicações financeiras — beneficiando o consumidor.

“O mundo se abre a partir da informação [disponibilizada pelo consumidor]. Os produtos passarão a ser mais ‘customizados’ [personalizados], endereçando a demanda do cliente. O ‘open banking’ está como foi a internet há 30 anos atrás. No início, achavam que ia ser um instrumento de troca de documentos entre duas universidades. Hoje, a internet é tudo na sua vida, social e profissional”, avaliou o diretor de Regulação do BC, Otávio Damaso.

Questionado sobre o possível impacto na redução das taxas de juros cobradas, o diretor do BC afirmou que ainda não tem essa estatística, mas citou o exemplo de aplicativos de transporte, que trouxeram um preço mais acessível que o serviço de táxi, além de facilitar a vida do consumidor.

“Quando se tem muitos carros na praça, o preço tende a cair. Quando tem poucos, o preço tende a aumentar. Então, são as curvas de oferta e demanda tentando encontrar o seu equilíbrio e isso vai acontecer para todos os produtos e serviços financeiros. Hoje, não acontece porque o seu banco não deixa essa informação fluir, você está preso com ele lá”, disse.

Na avaliação de Damaso, o “open banking”, ao permitir um tráfego maior de informações dos clientes entre as instituições financeiras, vai impactar todas operações de crédito, assim como outros serviços ofertados.

“Vai ser um negócio estrondoso e, daqui a cinco ou dez anos, a gente vai olhar e pensar: ‘Não sei como vivia sem o open banking'”, declarou.

Abertura de dados

Segundo o diretor do BC, um dos principais problemas do sistema financeiro atual, que dificulta a concorrência, é a chamada “assimetria” de informações, ou seja, quando um participante de sistema possui mais dados sobre um cliente do que os outros bancos — fenômeno classificado por alguns como uma “falha de mercado”.

“O ‘open banking’, um dos pontos que ele atinge é a assimetria de informação. Hoje, todas essas informações estão dentro do seu banco. Essa informação, em tese, se o banco trabalhou, ele sabe seu histórico financeiro todo, detalhado, o que consome, como foi sua vida. Não deve ter usado tão profundamente como deveria. Agora, um terceiro [banco] está louco para ter essa informação e te conhecer”, explicou.

De acordo com Damaso, a nova plataforma vai permitir que os clientes abram seus dados para outra instituição financeira, de forma que ela possa oferecer, por exemplo, um crédito mais barato.

Mais adiante, afirmou, pode surgir uma inovação que possibilitará ao consumidor abrir seus dados para todos os participantes, e promover, assim, um leilão virtual pelo produto buscado.

“Isso também vai ser trabalhado e, provavelmente, vão surgir inovações nesse sentido”, disse.

A lógica, explicou o diretor do BC, é que a “informação pertence ao próprio cliente”, um princípio que segundo ele, tem predominado em todos segmentos econômicos.

“Ele [cliente bancário] que tem o poder sobre suas informações e ele é quem decide [no ‘open banking’] se vai compartilhar ou não e por quanto tempo. A qualquer momento, vai poder cancelar, ampliar o conjunto de informações ou diminuir. É um instrumento seu”, afirmou.

Banco personalizado

Na avaliação do diretor do BC, quando estiver totalmente funcional em outubro de 2021, o “open banking” vai permitir que os consumidores “criem” seu próprio banco, ou seja, que funcione como um banco personalizado.

“O cliente vai poder comprar um CDB em um banco, fazer um seguro em outro, e ter o cheque especial em um terceiro. Tudo isso a partir de uma informação que você vai compartilhar”, declarou Damaso.

Com o histórico de produtos comprados, as instituições financeiras também vão poder fazer “ofertas” aos consumidores, a exemplo do que já existe no comércio.

Para pessoas físicas, por exemplo, o “open banking” permitirá que os clientes contratem de forma simplificada, por meio da plataforma, um crédito mais barato para cobrir o cheque especial por um período reduzido de tempo.

“Às vezes, fica negativo por um, dois, três dias no cheque especial, e não justifica abrir uma linha de crédito em outra instituição financeira. O ‘open banking’ vai permitir que você pré-contrate uma linha de crédito com uma outra instituição financeira, a um custo mais baixo. E esse terceiro vai todo dia verificar sua conta, se está com saldo ou sem. Se estiver sem saldo, automaticamente deposita o dinheiro. Você, ao invés de ter um fornecedor do cheque especial, que é o seu banco, passou a ter todo o sistema financeiro podendo te oferecer essa linha”, disse.

No caso das empresas, ele observou que uma das principais dificuldades atualmente é a organização financeira, pelo fato de terem conta aberta em várias instituições — o que está relacionado com a dinâmica empresarial. Com várias contas, há uma dificuldade maior em organizar o fluxo de recebimentos e pagamentos.

“Ela precisa ter um único fluxo de caixa. O ‘open banking’ vai facilitar o acesso, se a empresa autorizar. Vai padronizar essas informações e tornar rápido, fácil e seguro o acesso. Uma empresa vai poder, a partir de um terceiro provedor, colher essas informações e ter seu fluxo de caixa unificado”, explicou Damaso.

Baixa renda

O diretor do Banco Central avaliou que, ao contrário do que se possa imaginar inicialmente, essa ferramenta também vai beneficiar a população mais pobre. “Eu acho que ele é tão democrático quanto qualquer outro produto de informática”, disse.

Segundo Damaso, atualmente todos os produtos são ofertados na internet e utiizados por todas as faixas de renda. Ele citou os exemplos de aplicativos de transporte, mecanismos de busca, internet banking e plataformas de comércio eletrônico.

“A tecnologia é um dos principais ‘drivers’ [veículos] de inclusão. Se for fazer pesquisa para 10, 15 anos atrás, um dos fatores que inibia a inclusão financeira era o medo das pessoas de camada mais simples, mais pobre, de entrar no banco, não conseguir falar com o gerente e não ter o produto oferecido. Hoje, não tem esse risco. É tudo em um site, aplicativo. A pessoa faz e acessa”, afirmou.

Fonte G1

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