O dólar fechou em forte baixa contra o real pelo segundo dia consecutivo nesta quinta-feira, depois de ter despencado mais de 2% durante o pregão, refletindo a fraqueza mundial da moeda norte-americana à medida que o democrata Joe Biden ficava mais perto de conquistar a Presidência dos Estados Unidos.
O dólar à vista cedeu 1,97%, a 5,5455 reais na venda, seu menor patamar para encerramento desde 9 de outubro(5,5268). Mais cedo, na mínima do pregão, a moeda registrou queda de quase 2,2%, a 5,5335 reais na venda, seu menor patamar intradiário desde 13 de outubro.
Na B3, o dólar futuro de maior liquidez caía 1,87%, a 5,550 reais.
Na eleição norte-americana mais contestada dos últimos tempos, Biden se aproximava da vitória, enquanto autoridades apuravam os votos em alguns Estados que determinarão o resultado do pleito.
O atual presidente, Donald Trump, que tenta a reeleição, alegou fraude sem apresentar evidências, entrou com processos na Justiça e pediu recontagens de votos em uma disputa que ainda não tem resultado dois dias depois de ser realizada.
Em nota, Ricardo Gomes da Silva, superintendente da Correparti Corretora, destacou a desvalorização do dólar nos mercados internacionais, contra moedas tanto de países ricos como de emergentes, dizendo que “o ambiente positivo faz com que os investidores busquem risco”.
O índice da moeda norte-americana contra seis pares fortes caía mais de 0,8%, enquanto o dólar cedia terreno contra peso mexicano, rand sul-africano e a divisa australiana.
O time econômico da Guide Investimentos escreveu que “o mercado já passa a apostar no cenário mais provável: uma vitória de Biden acompanhada pela manutenção da maioria na Câmara pelos democratas, enquanto os republicanos seguirão controlando o Senado”.
Embora uma eleição contestada com vitória de um presidente que não contará com maioria no Senado já tenha sido apontada como um cenário menos favorável ao mercado financeiro, “caso o cenário acima se concretize, cresce a avaliação de que a manutenção da maioria republicana no Senado impedirá a reversão completa dos estímulos implementados por Donald Trump no âmbito tributário, … além de outras mudanças mais drásticas”, completaram os analistas.
“A possível vitória do Biden — cada hora mais próxima — faria com que a capacidade de utilização fiscal no país fosse maior, com emissão de dívida, impressão de moeda… Isso faz a moeda norte-americana perder valor”, explicou à Reuters Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office.
Ele acrescentou que o patamar baixo dos juros nos Estados Unidos ajudou a reduzir a atratividade dos rendimentos do país, outro fator de pressão para a moeda norte-americana.
Nesta quinta-feira, depois de reunião de política monetária, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve manteve sua principal taxa de juros inalterada, próxima de zero, e se comprometeu novamente a fazer o que puder nos próximos meses para sustentar uma recuperação econômica.
“Ofuscada pela eleição americana, a derrubada do veto é negativa para a economia e demonstra a enorme dificuldade que o país tem de ser austero”, disseram analistas da Levante Investimentos em nota a clientes.
Temores sobre a saúde das contas públicas têm estado sob os holofotes dos mercados brasileiros há alguns meses, principalmente em meio a dúvidas sobre como o governo financiaria os gastos provocados pela pandemia de coronavírus sem furar o teto de gastos.
Esse cenário, somado ao patamar extremamente baixo da taxa Selic, deixa o dólar em alta de cerca de 38% contra o real em 2020.